"Diante da actual situação de crise económica nacional e dada a nítida precariedade da situação financeira das famílias angolanas, o Instituto Superior Politécnico da Caála que não aplicará nenhum aumento no valor da propina dos cursos de licenciatura, pelo que, continuaremos com as actividades lectivas internas nos preços anteriormente praticados", afirma o ISPC em comunicado a que o Novo Jornal teve acesso.
A instituição considera quem ao invés do Executivo permitir o aumento do preço das propinas, devia antes optar por reduzir o imposto que o sector privado do ensino superior paga mensalmente ao Estado.
O Governo, através de um despacho conjunto de três Ministérios, permite o aumento dos preços das propinas a pagar pelos estudantes no valor de 25% para o ensino privado e público-privado do ensino superior.
Em declarações ao Novo Jornal, o director-geral do ISPC, Hélder Lucas Chipindo, disse que o Executivo deve retirar o imposto de selo de 7%/mês ao sector privado e não aumentar o valor das propinas no ensino superior.
Segundo o académico, a decisão do Estado em aumentar o valor da propina em nada ajuda as famílias e que só faz crescer os encargos.
Conforme Hélder Lucas Chipindo, com essa medida do Executivo, muitos dos estudantes não terão capacidade para se manter activos no ensino superior.
"As famílias têm problemas com alimentação, realidade a que a Caála não foge, que é a nossa realidade. Fruto da nossa experiência no ano lectivo passado, associado à situação da covid-19, a pobreza das populações agrava-se e não terão como se manter no ensino superior", afirmou.
O responsável do ISPC assegura que no ano lectivo 2019/2020, dos 8 mil estudantes que a instituição tinha, apenas sobraram 5 mil, tendo 3 mil estudantes desistido dos seus cursos em função da pobreza que se agrava.
"A maioria dos estudantes, isto é 99%, não têm condições de pagarem entre 25 e 27 mil kwanzas mês. Isso na Caála. E se as instituições aumentarem de facto os preços, quase que não terão estudantes", disse.
O director-geral do ISPC assegurou que, segundo um estudo realizado pela instituição que dirige, existem famílias que apenas têm uma refeição por dia e não conseguem esticar mais os parcos recursos que possuem.
"Somos humanos e também temos dificuldades familiares, não podemos ser insensíveis. O Estado, ao invés de aumentar o preço da propina, que reduza o imposto que as instituições privadas de ensino superior pagam mensalmente", disse e acrescentou: "Para quem factura 100 milhões de kz, mês, tem que pagar 7 milhões ao Estado, esse valor podia ser reinvestido na melhoria das condições das instituições".
Hélder Lucas Chipindo assegurou que a instituição que dirige vai manter-se tal como está, com os preços dos anos anteriores, para poder ajudar as famílias a sobreviverem.
Sobre o aumento de 25% do valor da propina no ensino superior, não é tudo, a semana passada, a Associação dos Estudantes das Universidades Privadas de Angola (AEUPA) enviou, ao Presidente da República, uma solicitação para a revisão do Decreto Executivo Conjunto, que aprova o aumento das propinas nas instituições de ensino superior privadas no País.
A AEUPA apela ao bom senso do Executivo, face ao contexto actual de muitas famílias.