Este número astronómico constitui um recorde em largas décadas e demonstra que, na sua maioria, basta um mínimo percalço para que o problema se agrave de forma a empurrar estas pessoas para a morte por falta de alimentos.
A gravidade do problema está bem patente nos números agora disponibilizados pelo PAM, que registou este ano 45 milhões de pessoas em risco de fome, quando em 2020 era menos de 42 milhões e em 2019 "apenas" 27 milhões.
O que esta agência da ONU está a querer dizer com esta denúncia é que se não houver uma acção urgente e concertada, com doações dos países ricos suficientes para acudir a estas pessoas, milhões vão estar em situação limite muito em breve.
No site do PAM pode ler-se que a única forma de impedir que milhões de pessoas caiam no precipício da fome, para que seja possível tirar estas pessoas das garras de uma morte brutal por escassez de alimentos, é proceder de imediato a uma injecção de dinheiro para os "retirar do abismo em que já estão".
O chefe executivo do PAM, David Beasley, citado pelo site da agência, não tem dúvidas de que "45 milhões de pessoas vão morrer, literalmente, se não formos capazes de chegar a eles coma necessária ajuda rapidamente".
Este responsável admite que "a Covid-19 exacerbou este problema da fome", tal como "os conflitos estão a gerar instabilidade e a gerar uma nova vaga de fome que ameaça varrer o mundo".
"A factura em miséria humana que está a ser paga é inimaginável", acrescentou.
Na lista de países onde este problema mais se está a agravar consta Angola, mas o topo é composto pelo Afeganistão, que há meses ficou, de novo, sob controlo dos radicais islâmicos, taliban, bem como a Etiópia, que vive um conflito interno de grande magnitude há mais de ano devido à sublevação dos guerrilheiros da região de Tigray, sendo os conflitos a razão para as situações graves que ocorrem também no Sudão do Sul, Síria e Iémen.
Angola consta desta lista por causa da situação nas suas províncias do sul, onde prolongadas secas, desflorestação descontrolada e queimadas inapropriadas estão a deixar centenas de milhares de pessoas sem capacidade de produzir ou encontrar alimentos suficientes.
Citado pela página oficial do PAM, a sua representante em Angola, Michele Mussoni, referia a 24 de Setembro que estavam a seguir com atenção a situação nas províncias do sul do País, referindo a questão "da migração de famílias para outras províncias ou para a vizinha Namíbia em busca de água e de pasto para o gado", como, de resto, o Novo Jornal tem vindo a noticiar nos últimos anos.
Só no Afeganistão, são quase 23 milhões de pessoas passaram a estar sob risco de fome severa, tendo este número crescido significativamente com a chegada, em Agosto último, dos taliban ao poder em Cabul.
No mundo há mais 15 milhões de pessoas depois da pandemia da Covid-19 ter varrido o Planeta e as mínimas alterações, como, por exemplo, as mais que prováveis vagas de calor inusitadas e geradas pelas alterações climáticas, "pode atirar milhões para os braços da morte por fome", adverte o PAM.
O PAM está actualmente a gerir a maior operação de ajuda humanitária de sempre, envolvendo 139 milhões de pessoas, com risco de agravamento devido às deslocações involuntárias de 30 milhões por causa das alterações climáticas e 10 milhões devido a conflitos armados.
O economista-chefe desta organização, Arif Husain, explica, citado igualmente pelo seu site, que um dos problemas mais evidentes é o aumento gigantesco dos preços dos alimentos, dando como exemplo os 300 milhões USD que foram acrescentados ao valor necessário, para a mesma quantidade de comida adquirida em 2020, para ocorrer às situações de emergência, em resultado de um aumento de 21 por cento nos preços em apenas um ano.
Este responsável chama ainda a atenção para outro imbróglio: "Não se pense que este problema vai diminuir, pelo contrário, vai crescer se não se puser termo aos conflitos armados e se as questões ambientais não forem rapidamente corrigidas".