Os cerca de 9.500 quilómetros que separam Luanda, morada onde estão fincados os laços familiares de Astor Kilezi, e a cidade de Neuchâtel, na Suíça - país da emigração parental e actual destino profissional - encolhem sob a trajectória de uma bola.

Nos relvados desde os quatro anos de vida, o jogador do Neuchâtel Xamax, clube que na próxima época vai disputar a Super League Suíça - principal liga de futebol do país - sonha em abrir caminho para Angola a partir das quatro linhas.

"Já fui convocado para a selecção júnior da Suíça, mas representar a equipa angolana seria incrível. Como um sonho tornado realidade", antevê Astor, sem conflitos de identidade.

"Seria uma escolha fácil", garante, apostado em defender no campo as cores da bandeira que sente como sua.

"Quando eu era pequeno, o meu pai disse-me que tinha o sonho de me ver jogar na selecção nacional de Angola. Com o tempo o seu sonho tornou-se o meu", conta o futebolista em entrevista ao NJOnline.

Para além de projectar um futuro animador entre "Palancas", o médio recorda um passado recente de orgulho nacional.

"Lembro-me que em 2006 estava tão orgulhoso de ver o meu país no Mundial que andava todo "arrogante" pela escola. Quero que os angolanos mais novos sintam o mesmo, por isso estou extremamente motivado para dar o meu contributo, se o seleccionador me quiser dar uma oportunidade".

O salto pode estar mais perto com a subida à primeira liga suíça, mas é o próprio Astor quem modera optmismos.

Sabor a Angola

Afinal, apesar de sido o melhor marcador da Taça Suíça de futebol - em ex aequo com outros dois colegas -, e de ter conquistado o seu primeiro campeonato profissional, o jogador lembra que ainda tem muito terreno para correr antes de representar Angola.

"Não é fácil ter um lugar no 11 do Neuchâtel", aponta o jogador, que ainda não agarrou a titularidade.

Apesar do sentido de golo revelado na Taça da Suíça, com seis golos marcados em apenas dois jogos, o futebolista ainda não garantiu a continuidade na equipa.

"O clube subiu de divisão mas não tenho a certeza de que permanecerei, porque o meu contrato é válido até 30 de Junho e ainda estamos em negociações. Se não chegarmos a um entendimento, poderei mudar. Está tudo em aberto", nota o jogador.

Igualmente indefinido está o calendário da adiada viagem de estreia a Luanda, onde ainda reside uma das avós.

Mas, à falta de um voo no horizonte, Astor percorre Angola pelos sabores - temperados pelas receitas maternas -, pelas músicas, e até por um assumido enguiço na dança.

"Sinto-me angolano e tenho orgulho nisso", remata.