Depois de a Casa Branca, através da sua porta-voz, ter vindo a público, há cerca de duas semanas, acusar o Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, de ser um traficante internacional de droga, agora, nesta semana, afinal, excepcional, mesmo parecendo banal, Karoline Leavitt voltou à carga para ameaçar directamente com o uso de "todo o poder americano" para o ir apanhar onde for preciso.

Claro que já se ouviram declarações de guerra menos ruidosas que levaram efectivamente a uma guerra, e, ainda por cima, quando no Brasil já surgiram os primeiros sinais de receio de que a presença da Marinha dos EUA nos mares das Caraíbas não seja apenas por acaso,com o Presidente Lula da Silva a mostrar-se receoso de quais serão as intenções de Washington.

"O presidente Trump foi sempre claro e coerente quando diz que está preparado para usar todo o poder americano para impedir que as drogas inundem os EUA e para levar os responsáveis à Justiça", disse Leavitt, como que a explicar a Lula do que se trata, destacando que para os EUA Maduro "não é um Presidente legítimo".

Ora, se tal suceder num país como a Venezuela, um dos grandes produtores de crude da América Latina, e com as maiores reservas do mundo, o efeito atingirá os mercados petrolíferos como um fósforo na pólvora... e isso não está a ser ignorado.

Mas não é esta sequer a grande razão para o tom esverdeado nos mercados nestes dias, mesmo que ligeiro, e ainda abaixo dos 70 USD que são a diferença entre o alívio e o sufoco em Angola, especialmente agora que voltou a passar em baixo 1 mbpd.

A principal razão também não é a outra guerra que tem desfecho indefinido, a velha conflitualidade entre russos e ucranianos que norte-americanos e europeus querem ajudar a resolver, mesmo que alguns a meter lenha na fogueira, e que, aparentemente, pode ter um epílogo para breve se o acordado entre Trump e o Presidente russo, no Alasca, for cumprido.

Mas esta guerra, se terminar mesmo, mesmo que isso não esteja minimamente garantido, poderá afundar os mercados, porque o gigante da produção e exportação russo, poderia voltar aos mercados sem o garrote das sanções que retirou o Ocidente do leque dos clientes de Moscovo.

O que está efectivamente a fazer progredir os mercados para o verde é a desvalorização do dólar norte-americano, porque, sendo esta a moeda franca, ainda, global neste complexo negócio, quando perde valor face às restantes moedas, naturalmente o valor do barril sobe para, no fim da linha, equilibrar a volatilidade.

E ainda a ajudar à "festa" está a surpreendente recuperação da economia norte-americana, a maior do mundo, que nestes dias se mostra com um voraz apetite por queimar energia fóssil, e que, sempre que assim sucede, mexe nos alicerces da lógia dos mercados para a condicionar às regras do gigante norte-americano que, além de a mais pujante economia mundial é ainda o produtor e o maior consumidor da matéria-prima.

A Reuters sublinha mesmo no noticiário do dia sobre os mercados que o inventário nos "States" caiu 1,4% nesta semana, afinal, mesmo excepcional, porque a economia dos EUA vinha a dar sinais de fragilidades, na inflação e no emprego, o que corresponde a menos 6 milhões de barris nas reservas de mais de 420 milhões.

E é neste contexto de incertezas crescentes, surpresas florescentes e desejos contidos para não se tentar adivinhar o que se vai passar na Ucrânia, e tão pouco na Venezuela, onde os EUA apostam como "carta" para desviar a atenção dos problemas internos de Donald Trump se se vier a mostrar necessário, que o barril de Brent chegou esta quinta-feira, 21, perto das 15:00, hora de Luanda, aos 66,90 USD, uma subida ligeira de 0,30%.

Apear de positivo, este valor está longe da fasquia dos 70 USD com que Angola desenhou o seu OGE 2025, e é por isso que em Luanda se olhar para o sobe e desce dos mercados com especial atenção, devido à relevância que o crude tem na economia nacional.

Mercados agitam-se em baixa e a economia angolana treme

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido, também, aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a perspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.