O Congresso dos EUA é composto por duas câmaras, a baixa, a dos Representantes, e a alta, o Senado, sendo que a primeira já tem maioria democrata e a segunda está à beira de ser igualmente controlada pelos homens e mulheres do partido democrático que, com a dupla Joe Biden/Kamala Harris, venceu as eleições presidenciais de 03 de Novembro.

Isto, porque um dos dois lugares em disputa já está nas mãos do democrata Raphael Warnock (na foto, com Joe Biden ao fundo), um negro, pastor evangélico que pertence à congregação que foi de Martin Luther King até este ser morto em 1968, e o outro está à beira de ir para as mãos de Jon Ossoff, que se vier a ser eleito, como apontam todas as sondagens, será o mais novo de sempre a ocupar o Senado, depois de Joe Biden tê-lo sido igualmente e eleito pelo mesmo estado da Geórgia.

Com este cenário em cima da mesa, e se for esse o desfecho final desta disputa eleitoral especial no estado da Geórgia, que decorreu esta quarta-feira, embora a substanciais disparidades nos fusos horários não permitam ter resultados finais coincidentes com os horários a que se está habituado em Angola, por exemplo, o partido democrata consegue aquilo que ninguém apostaria ser possível há escassas semanas.

Recorde-se que esta campanha eleitoral foi marcada por intervenções controversas do Presidente Trump, que não reconhece a vitória de Biden e procurou pressionar as autoridades da Geórgia, do seu partido, para manipularem o resultado de 03 de Novembro, pedindo que fossem encontrados de qualquer maneira mais de 11 mil votos...

Mas o que é efectivamente decisivo nesta disputa pelos dois derradeiros lugares no Senado é que os democratas estão quase a conseguir o controlo desta câmara do Congresso, aplicando um rude e duro golpe na estratégia de Donald Trump que é tentar levar o Senado a não ratificar a vitória de Joe Biden a 03 de Novembro.

Com estes dois lugares, apesar de somarem os mesmos 50 lugares que os democratas, o desempate seria protagonizado pela vice-Presidente, Kamala Harris, como está previsto na Constituição, o que conferiria um ainda maior impulso à primeira mulher a ocupar o cargo em 231 anos de eleições nos EUA e, ainda por cima, de ascendência afro-indiana, sendo, como é evidente, uma garantia de controlo democrata do Senado e a certidão de óbito da estratégia manipuladora de Trump.

Há 30 anos que os democratas não ganhavam na Geórgia e com o controlo do Senado em disputa ainda, Joe Biden - sendo de sublinhar que ainda não está definido o segundo lugar em disputa, que pode ser conseguido ainda pelos republicanos, apesar das sondagens claramente contra essa possibilidade - não poderia ter melhor arranque para o mandato que começa a 20 de Janeiro próximo, altura em que, de acordo com a tradição, receberá o poder na presença do seu antecessor.

Todavia, segundo a imprensa norte-americana, Trump deverá ficar fora desta cerimónia, o que seria mais um momento histórico protagonizado pelo polémico 45º inquilino da Casa Branca.