A resposta dos militares, que assumiram o poder, após a queda de Omar al-Bashir, em Abril, na forma de Conselho de Transição, à exigência das ruas estava a ser relativamente contida, com a elaboração de um calendário para a transição que passava pela realização de eleições em dois anos.

Mas, com o crescendo dos protestos populares, as chefias do Exército não conseguiram, ou não quiseram, evitar a repressão que ontem deixou pelo menos 35 mortos e centenas de feridos nas ruas de Cartum entre os milhares de manifestantes que querem ver os generais foram do poder e reformas democráticas sérias no país.

Um dos manifestantes, citado pelas agências, dizia, na segunda-feira, que se o povo que quer a democracia deixar os militares consolidar o poder camuflado numa promessa vã de realizar eleições em breve, "o mais certo é que se repita uma história de 30 anos de poder" como sucedeu em 1989 com Omar al-Bashir.

"Temos de conseguir agora a democracia, custe as vidas que custar", atirava o mesmo manifestante.

E, pelos vistos, esse objectivo está a caminho de ser conseguido, porque, depois da violência exercida contra as pessoas na segunda-feira, as chefias do Conselho militar convocaram de imediato eleições, cancelando os acordos que tinham sido conseguidos anteriormente, no processo pós derrube de Bashir.

O Conselho Militar de Transição (CMT), criado logo após a prisão de Omar al-Bashir, forçada por semanas de protestos começados com o anúncio do aumento do pão no início do ano, anunciou eleições mas os lideres políticos não parecem convencidos com a bondade democrática dos militares e exigem aquilo a que chamam "reformas democráticas à prova de tudo".

E, para as conseguirem, prometem realizar um chamamento geral à "desobediência civil" de forma a que sejam conseguidos os objectivos da "verdadeira democracia".

O CMP e o DFCF, sigla em inglês para o movimento-aliança Declaração de Liberdade e Forças de Mudança, mantinham há semanas negociações que ruíram na semana passada por desentendimentos sobre o processo de reformas exigido.

As eleições que os militares querem dentro de nove meses não são aceitáveis, por causa do prazo longo, pelas forças civis e a resposta deverá ser agora a convocação de novas e mais fortes manifestações, incluindo um apelo à desobediência civil.

Face ao perigo que representa este finca-pé, e os já contabilizados em centenas de mortos desde a queda de Bashir, levou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e pa"sies como o Reino Unido, os EUA ou a União Europeia, a par da União Africana, a condenarem a violência e a exigirem o fim imediato da repressão.

O Conselho de Segurança vai reunir hoje à porta fechada para tomar uma decisão mas, para já, está a ser imposta uma investigação independente à resposta dos militares aos protestos populares.