Uma das propostas de João Lourenço passa por realizar uma "ampla conferência reservada apenas à análise dos conflitos em África" de forma a espalhar a ideia concreta de que a paz é um bem essencial para sustentar o desenvolvimento.

Neste capítulo, no discurso proferido perante a Assembleia, o Chefe de Estado angolano deixou mesmo uma primeira proposta: aplicar "sanções pesadas" pela União Africana de forma a "desencorajar e responsabilizar" os promotores de crises nacionais e de instabilidade regional.

"Os promotores de tensões e conflitos no nosso continente devem ser desencorajados, responsabilizados e penalizados com sanções pesadas da organização, que venham a ter sérias consequências sobre os mesmos, pessoas e países", disse.

Questões como o terrorismo e o extremismo violento, as mudanças inconstitucionais de Governos democraticamente eleitos e os conflitos que ainda prevalecem no continente, devem, segundo Lourenço, merecer uma abordagem coordenada "para se pôr um fim definitivo" a estes entraves ao desenvolvimento.

Como seria de esperar, até pela sua condição de mediador designada pela UA, João Lourenço dedicou parte desta sua intervenção à situação escaldante do leste congolês, resumindo que existem ali sinais de "evolução negativa", apesar de ter conseguido recuperar a centralidade de Luanda enquanto capital e palco de negociações de paz entre os rebeldes do M23 e Kinshasa.

"Relativamente a este dossier, decidimos não cruzar os braços e insistir na busca de soluções pacíficas, não permitindo que se concretize o plano de balcanização em curso, com a criação de um Estado pária no Leste da RDC, ou mesmo a tentativa de reversão pela via militar do poder instituído em Kinshassa", avisou, naquilo que parece um recado para o Ruanda.

E é no contexto da procura de soluções africanas para os problemas africanos que Lourenço foi dizer a Adis Abeba que é sua convicção que "no plano da paz e segurança em África" se deve "agir no sentido de (...) conseguir o silenciar das armas, para que este tema não continue a dominar as nossas agendas e o nosso debate de uma forma quase eterna".

"Neste capítulo, considero que seria útil realizar-se uma ampla conferência reservada apenas à análise dos conflitos em África, cujo foco principal deverá centrar-se na questão da paz como um bem obrigatório e indeclinável para todos os povos do nosso continente", avançou.

"Os promotores de tensões e conflitos no nosso continente devem ser desencorajados, responsabilizados e penalizados com sanções pesadas da organização, que venham a ter sérias consequências sobre os mesmos, pessoas e países", sublinhou.

O outro dos temas cimeiros da intervenção do Presidente da UA e de Angola foram as infra-estruturas, cujo défice continental é uma dor de cabeça há décadas e parece não haver uma solução no horizonte.

Uma das formas de materializar o "novo olhar" que parece ser unanimemente desejado numa perspectiva pan-africana para ultrapassar este atraso que impacta directamente na capacidade continental de desenvolvimento é convencer a Comissão da União Africana, em coordenação com as Comunidades Económicas e Mecanismos Regionais, para "trabalhar na organização de uma grande conferência continental sobre infra-estruturas em África no decorrer do ano em curso".

Nessa conferência, o líder angolano propõe que se procure "transmitir aos principais parceiros de cooperação, a nível bilateral e multilateral, a importância e as vantagens em apostarem no financiamento e investimento em infra-estruturas de interconexão continental, como forma de participarem directamente em todo o processo de crescimento e desenvolvimento de África".

"Considero uma prioridade apostarmos seriamente na construção e na melhoria das nossas estradas e auto-estradas, na modernização das nossas linhas ferroviárias, dos portos e aeroportos, bem como na criação de linhas de transporte e distribuição de electricidade, de modo a conseguirmos levar energia das zonas onde há excedentes para as que carecem deste bem fundamental", afirmou.

E quer ainda ver os actores africanos, nacionais e regionais, a trabalhar juntos na "construção de uma nova arquitectura financeira internacional, para que o nosso continente deixe de continuar a ser visto como um actor secundário, marginal, mas sim como parte activa e determinante da economia global".