Este movimento dos militares acontece depois, como o NJOnline noticiou na segunda-feira, de elementos do Exército terem criado uma força de interposição entre a polícias antimotim e os serviços secretos que comandam no país milhares de homens armados e os manifestantes que estavam a ser selvaticamente agredidos.

Esse foi um sinal de uma possível reviravolta no posicionamento das Forças Armadas, até aqui o suporte do poder de Bashir, um dos mais violentos ditadores africanos.

A informação de que Bashir foi preso e colocado num lugar seguro foi avançada aos media no país pelo ministro da Defesa e general Ahmed Awad Ibn Auf.

A atitude dos militares foi justificada pela constatação de que, disse o ministro da Defesa, "os pobres continuam a ficar mais pobres e os ricos continuam ricos no país onde não existe igualdade de oportunidades" por causa da "corrupção que graça no Sudão há muito tempo".

Os protestos contra Bashir começaram há vários meses mas recrudesceram nas últimas semanas.

Omar al-Bashir, de 75 anos, era um dos mais antigos homens no poder em África actualmente, depois de Robert Mugabe, no Zimbabué, ter sido afastado pela tropa em finais de 2017, e de José Eduardo dos Santos, em Angola, ter cumprido com o compromisso de deixar a política activa em 2018, só Teodoro Obiang Nguema, na Guiné-Equatorial, Yoweri Museveni, no Uganda, Dennis Sassou Nguesso, na República do Congo, e Paul Biya, nos Camarões estão há mais tempo a comandar os seus países.

Por detrás dos protestos, tal como sucedeu na Argélia - admite-se que tenha tido influência no Sudão - com Abdelaziz Bouteflika, está o tempo excessivo de poder do antigo coronel sudanês, que conseguiu assumir as rédeas do Sudão em 1989, através de um violento golpe de Estado à frente de um grupo de militares, mas essencialmente a severa crise económica que o país atravessa, com esta a revelar-se com estrondo depois de o Sudão do Sul ter conseguido a independência em 2011, retirando a Cartum o domínio dos principais poços de petróleo.

Nos protestos dos últimos dias estiveram dezenas de milhares de jovens, mas esta massiva manifestação de descontentamento popular levou para as ruas de Cartum também mulheres e idosos em grande número, com a concentração "a dirigir-se diariamente para o complexo militar da capital sudanesa, situado numa das margens do Rio Nilo.

Nas últimas semanas, de acordo com organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos, garantem que morreram dezenas de pessoas, sendo que a lista de vítimas dos acontecimentos de hoje não foi revelada pelas autoridades, mas algumas ONG"s temem que tenha ocorrido, apesar da protecção dos militares, um massacre.

Na origem dos protestos que derrubaram o Presidente sudanês, que tiveram início a 19 de Dezembro, esteve uma decisão do Governo em aumentar o preço do pão para mais do dobro, tendo rapidamente alastrado para todo o país.

Em resposto aos crescentes protestos, Bashir decretou, em Fevereiro, o estado de emergência no Sudão, o que levou a uma ligeira baixa na intensidade das manifestações, com a repressão policial na linha da frente dos instrumentos de dissuasão contra os protestos, que, mesmo assim, não foi suficiente para este nova vaga de descontentamento, que surgiu no passado Sábado.

Segundo as agências, os homens do poderoso NISS, sigla em inglês para o serviço de segurança e inteligência, apoiados pela polícia antimotim, reagiram com forte violência contra os manifestantes, que responderam mantendo-se no local enquanto puderam, contando, primeiro com a inércia dos militares e depois com a acção destes no sentido de protegerem os manifestantes, naquilo que, sabe-se agora, foi um claro reposicionamento estratégico das Forças Armadas neste "conflito".