Sobre brasas, os ucranianos, claramente encostados às cordas pela Casa Branca, depois da catastrófica ida do Presidente ucraniano a Washington, a 28 de Fevereiro, para negociar garantias de segurança dos EUA contra a cedência dos minérios raros, já admitem tudo.
Desde assinar um acordo com os norte-americanos cedendo o acesso às minas de "terras raras" sem quaisquer garantias, até se sentarem à mesa com os russos, apesar de ainda estar em vigor o decreto Presidencial que impede quaisquer negociações com o Kremlin.
A questão das terras raras, que são 17 minérios diversos que, por norma, surgem agregados na natureza, é outros dos mistérios por explicar, porque, além de que estes não são em grande quantidade, até porque a Ucrânia não está na lista das reservas relevantes conhecidas, e as que existem estão do lado das áreas já ocupadas pelos russos.
Portanto, existe a possibilidade de haver um objectivo escondido com esta questão das terras raras, sendo que alguns especialistas e estrategas militares apontam para a possibilidade, arriscada, de serem os EUA em busca de uma situação de facto consumado com a sua presença no terreno conseguida sob a capa, ou disfarce, de equipas de mineração.
Entretanto, como se tem visto, as posições de Kiev vão mudando sem que o passo decisivo, que é aceitar ceder territórios, como já avisou a diplomacia norte-americana, tenha sido dado ou possa vir a ser dado sob condições conhecidas e anunciadas.
De um lado da mesa está, porque as conversações começaram cerca da hora de almoço, hora de Luanda, Marco Rubio, chefe da diplomacia norte-americana, e Mike Waltz, conselheiro de Trump para a Segurança Nacional, e do outro Andriy Yermak, o chefe de gabinete de Volodymyr Zelensky, e o chefe da diplomata ucraniano, Andrii Sybiha.
Nada se sabia, a meio da tarde desta terça-feira, 11, sobre o decurso das negociações, mas sabe-se que Yermak tratou antes de dinamitar quaisquer possibilidades de sucesso, se a questão for como os americanos dizem, chegar a um acordo de paz e não apenas um acordo sobre as "terras raras", como parecem entender os ucranianos.
É que o chefe do gabinete e principal conselheiro de Zelensky fez publicar um artigo de opinião no jornal britânico The Guardian, onde este diz que a paz é possível com o suporte dos norte-americanos e dos aliados europeus de forma a garantir um travão às agressões russas no futuro.
Esta condição já era suficiente para deitar por terra quaisquer possibilidades de sucesso no que toca à paz, deixando a porta aberta para a questão dos minerais estratégicos, mas depois Andryi Yearmak foi mais longe e defendeu que "dessa forma poderá haver finalmente paz" mas é preciso que europeus e EUA "não deixem escapar a Rússia!".
Não é fácil, até para os analistas miliares e especialistas em política internacional, como se pode perceber ouvindo-os do lado russo e ocidental, o que pretende Yermak com este jogo de xadrez que mais parece um "bluff" num jogo de vida ou de morte de póquer, mas o Kremlin já veio avisar que é preciso "muito cuidado" com as "fake news" que possam sair da capital saudita.
Com efeito, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, já veio avisar que só as fontes oficiais russas podem ser tidas em consideração sobre o que vier a ser acordado em Riade, entre ucranianos e americanos que envolvam uma posição de Moscovo.
Isto, mesmo que não seja uma resposta ao que o Kremlin esperava dos ucranianos na capital saudita, mostra receios de que os rumores produzidos pela parte ucraniana cheguem aos media ocidentais sob a forma de fontes relacionadas com a Federação que apenas servem os propósitos de Kiev, avisou Peskov.
E a primeira "fake" que pode estar em cima da mesa das negociações entre Kiev e Washingtom em Riade é que Moscovo estaria, segundo fontes citadas pela Bloomberg, receptivo a analisar uma proposta de cessar-fogo parcial abrangendo apenas ataques provenientes do mar e do, bem como infra-estruturas energéticas.
O que o Kremlin veio negar enfaticamente porque essa proposta "visa apenas beneficiar a parte ucraniana" numa altura em que as forças russas estão em vantagem nas frentes de batalha, avançam os media russos citando o porta-voz do Presidente russo e do Kremlin.
Nas várias frentes de guerra, os russos levam uma clara vantagem, no geral, destacando-se a região de Kursk (ver links em baixo) mas com sérias dificuldades na região de Zaporizhia, e ainda em Kupiansk, na região de Kharkiv, onde os russos estão a ser fortemente atacados e a recuar perante as unidades ucranianas.
O único elemento que se conhece da agenda norte-americana para as conversações de Riade é que, avançou Marco Rubio, os ucranianos terão de ceder na questão dos territórios conquistados pelos russos nestes três anos de conflito, impondo a Kiev que recue na exigência de rever todas as fronteiras prévias a 2014, o que inclui a Crimeia.
"É obviamente muito difícil para a Ucrânia, sob qualquer perspectiva razoável, e período de tempo, que os russos recuem dos territórios actuais para as fronteiras prévias a 2014", avisou Marco Rubio, citado pelo The New York Times, onde acrescentou que Kiev "tem de se preparar para tomar decisões difíceis".
Para já, tanto ucranianos como russos não arredam pé das posições conhecidas sobre as suas condições para um acordo de paz, incluindo o decreto de Zelensky que o impede a ele e aos seus governantes de encetar quaisquer negociações com o Kremlin.
Assim, os russos, segundo explicou em Julho de 2024, querem que a Ucrânia seja neutral, fora da NATO, não aceita quaisquer forças ocidentais na Ucrânia, quer Kiev a aceitar que as cinco regiões anexadas, a Crimeia em 2014, e Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia são, efectiva e reconhecidamente parte da Federação Russa, tendo, por isso, de retirar das áreas que ainda ali controlam...
Além disso, Moscovo quer ver respeitada a língua, cultura e religião russas no que for a Ucrânia no pós-guerra.
Entretanto, Kiev mantém, porque ainda não o retirou oficialmente, mesmo que tenha admito fazê-lo nalgumas circunstâncias, que exige que a Rússia retire todos os militares para as fronteiras de 1991 (ano da independência da Ucrânia da ex-URSS), que Moscovo pague todos os custos da reconstrução e que os dirigentes russos sejam julgados e condenados em tribunais internacionais...
Até que ponto conseguirá Donald Trump levar russos e ucranianos a ceder nestas posições, não é possível saber para já, mas sabe-se que Marco Rubio está consciente de que não é fácil essa tarefa.
"O mais importante que temos de deixar claro é que os ucranianos devem estar preparados para ceder em coisas difíceis, assim como os russos terão de perceber que têm de fazer coisas difíceis para que seja possível conduzir este conflito para o seu fim", avisou o chefe da diplomacia norte-americana.
Se não for possível conseguir que essas cedências sejam já conseguidas de um e do outro lado, Moscovo e Kiev "terão de concordar num cessar-fogo, sob qualquer formato ou condições, de forma a ter tempo para conseguir um acordo sólido", porque, acrescentou, "todos já percebemos que não há nenhuma saída militar cabal para este conflito".
Segundo vários analistas militares, o ataque a Moscovo desta manhã, recorrendo a centenas de drones, com dezenas a atravessarem a defesa anti-aérea russa, das mais sofisticadas do mundo, é, precisamente, uma cartada de Kiev para pressionar os russos a aceitarem um cessar-fogo parcial no que toca a ataques aéreos, por mar e sobre as infra-estruturas energéticas.