Depois de uma rajada de tarifas contra o mundo, Donald Trump suspendeu a sua aplicação a quase todos os países excepto à China, o que mostra, segundo vários analistas, que os EUA têm efectivamente Pequim na mira.
E põe em evidência ainda que as tarifas são apenas um sintoma de uma doença que pode levar o mundo para uma guerra de dimensões catastróficas entre as duas maiores potências económicas e duas das três maiores potências nucleares, a par da Rússia.
A questão de uma guerra entre EUA e China já não é sequer um tema tabu, porque, basta ver os media internacionais, a sua deflagração já não é vista como uma possibilidade mas sim uma certeza, faltando apenas saber quando acontecerá.
E um sinal de que esse cenário está em aberto foi dado esta quinta-feira, 10, quando Trump, questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de a sua guerra de tarifas poder evoluir para uma guerra aberta militar, só não negou a possibilidade como aproveitou para avisar Pequim que os EUA possuem "armas secretas" de que ninguém tem ideia".
Depois de Trump avançar com uma rajada de tarifas (ver links em baixo), chegando aos 125%, sobre os bens importados da China, Pequim ripostou com 84% e a garantia de que não vai recuar na defesa dos seus interesses e que a luta vai mesmo ser "até ao fim", prometendo novas medidas retaliatórias.
Contextualizando o alerta para as suas "armas secretas", Trump sublinhou que "o Presidente Xi Jinping é uma das pessoas mais inteligentes" que conhece e "não vai permitir uma reacção armada" da China, mas deixou o aviso: "Os EUA são uma Nação muito poderosa!".
"Somos uma Nação muito poderosa. Este país é muito poderoso... muito mais poderoso do que as pessoas possam imaginar. Temos armas de que ninguém ouviu falar, e são as armas mais poderosas existentes, de longe, no mundo", atirou o Presidente norte-americano a partir da Sala Oval da Casa Branca, sem, todavia, dar quaisquer pormenores.
Este tipo de conversa entre os lideres das grandes potências militares não é totalmente novidade, porque tanto Vladimir Putin, em Moscovo, como Xi Jinping, em Pequim, ou mesmo Narendra Modi, em Nova Deli, mesmo que de formas distintas, têm por habito deixar avisos entre linhas para as suas "armas secretas".
Por exemplo, Putin já o fez por diversas vezes, seja quando veio advertir o mundo para o desenvolvimento do Sarmat, um míssil balístico intercontinental hipersónico, com voo máximo de 18 mil kms e carga de múltiplas ogivas nucleares, ou o mais recente Oreshnik, um míssil de médio alcance hipersónico, "imparável", com multiogivas e poder destrutivo "nunca visto".
Já a China tem optado por uma forma diferente de dissuasão, que é não falar em público sobre as suas "armas secretas" mas largando fugas estratégicas de informação sobre a evolução das suas armas, sejam os novos aviões J-36, de sexta geração, ou os novos sistemas de guerra galáctica ou a inovação na área do laser, sistemas inovadores de microondas ou de impulsão electromagnética.
Para já, como notam os analistas militares, como chegou a sublinhar o major general Agostinho Costa, na CNN Portugal, os EUA, apesar das ameaças de Trump, não possui ainda sistemas de armas hipersónicas totalmente operacionais, sendo que a China, a Rússia ou mesmo o Irão já as têm nos seus arsenais.
Mas há quem defenda entre os mais experimentados analistas de geopolítica e estratégia que a verdadeira arma secreta de Donald Trump é procurar separar a Rússia da China, fragilizando a sua parceria "sólida como uma rocha" como a ela se referiu o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Li.
E isso está a ser tentado com cedências gigantescas a Moscovo, seja na guerra da Ucrânia, onde Washington começa a mudar de campo, fragilizando Kiev e os seus aliados europeus, ao mesmo temo que medeia um cessar das hostilidades, ou ainda, como se tem visto, com a retoma das relações bilaterais soterradas na anterior Administração de Joe Biden, ou ainda na excepção anunciada da Rússia e dos seus aliados, Bielorrússia e Coreia do Norte, da lista das tarifas aplicadas nos últimos dias.
E este esforço de afastar Pequim de Moscovo tem como azimute a evidência de que, como referem os generais norte-americanos, nos próximos cinco anos a China estará militarmente num nível que os EUA podem não conseguir bater, mas, actualmente, o pêndulo ainda descai para os norte-americanos.
Só que se ao invés de enfrentarem a China, os EUA tiverem pela frente a "parceria sólida como uma rocha" sino-russa, os EUA, mesmo com os seus aliados europeus, não estão em condições de pensar numa vitória militar.
Isto, porque a capacidade industrial chinesa, somando a sua gigantesca capacidade de mobilização entre a sua população de 1,4 mil milhões, aos recursos naturais, minerais, alimentares e energéticos, bem como a capacidade miliar tecnológica já demonstrada pela Rússia, fazem deste eixo Pequim-Moscovo um adversário à altura de Washington ou mesmo superior, se as coisas se mantiverem no patamar convencional, porque no nuclear, o desnível seria ainda maior.