A página do Banco Nacional de Angola dá conta disso mesmo, com o euro a ultrapassar a fasquia dos mil Kwanzas, para os 1.012 Kz, enquanto o dólar passou a valer 912 kz, numa relação directa com a queda do valor do petróleo, que é um dos alicerces da economia nacional.
E o histórico do sobe e desce cambial do Kwanza mostra com clareza incontornável que a desvalorização da moeda nacional acompanha com sólida regularidade a perda de valor do petróleo nos mercados internacionais, sendo igualmente factual o processo inverso.
Antes, no início da semana, o barril de Brent, que serve de referência para as exportações nacionais, chegou a estar a quase 12 USD, nos 58 dólares, do valor médio usado pelo Governo para elaborar o OGE 2025, deixando a equipa económica de João Lourenço à beira de um ataque de nervos.
Depois, sempre em paralelo com as surpreendentes decisões de Donald Trump, que, na quarta-feira, 09, suspendeu as tarifas para 75 países por 90 dias, a matéria-prima recuperou ligeiramente, mas ainda a grande distância do conforto dos 70 USD.
E esta manhã de sexta-feira, 11, perto das 10:30, hora de Luanda, o barril de Brent valia 63,41 USD, já em nova trajectória descendente porque, mais uma vez, o Presidente norte-americano subiu as tarifas contra a China para os 125%.
Só que. Pouco depois, ainda na quinta-feira, 10, os media especializados perceberam que, afinal, esta cifra é de 145%, porque já existia uma taxa de 20% para punir Pequim pelo seu alegado envolvimento no tráfico de Fentanil, uma poderosa substância derivada do ópio muito mais viciante e poderosa que a heroína, que mata milhares de pessoas todos os anos nos EUA.
Entretanto, o Governo do Presidente Xi Jinping, que, aparentemente, não está no lote dos países que, segundo Trump, disse-o literalmente, lhe querem "beijar o rabo" e pedir por favor que faça um acordo para se livrarem do peso das tarifas, ripostou e aumentou as suas taxas para os bens Made in USA, para 125%.
Ao mesmo tempo, o Ministério do Comércio chinês veio dizer que mesmo que Donald Trump volte a aumentar as tarifas sobre as exportações chinesas, Pequim não volta a mexer nas que já estão a ser aplicadas às importações dos EUA porque com estes valores de impostos "deixa de existir um racional para fazer sentido importar seja o que for".
O que o Governo chinês está a dizer, segundo alguns analistas, é que foi atingido o limite da capacidade de ataques e contra-ataques na cena económica e que, a partir daqui, e se se mantiver a agressividade de Washington, face à inocuidade de mais taxas alfandegárias, existe um risco sério desta guerra comercial escalar para uma atrição militar.
Alias, o próprio Presidente chinês, num encontro com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchz, que foi a Pequim em busca de alternativas face aos efeitos dramáticos das tarifas dos EUA na Europa, mesmo que indirectamente, disse já que "não haverá vencedores" nesta guerra comercial.
E Xi Jinping aproveitou mesmo para pedir ao chefe do Executivo de Madrid para o apoiar na construção de uma barreira contra o "bullying" de Washington, quando a maior parte dos Governos europeus, e as mais relevantes economias asiáticas e latino-americanas já criaram programas de resposta com apoios substantivos à diversificação das suas empresas exportadores, algumas delas feridas de morte pela rajada de tarifas de Donald Trump.
É claro que a suspensão de 90 dias para a aplicação de tarifas, que envolve todos os países que não ripostaram às taxas que a Casa Branca anunciou, o que envolve a maior parte dos países africanos, incluindo Angola, que tinha em cima 32%, deveu-se mais aos efeitos devastadores da medida nos mercados bolsistas norte-americanos e à "bomba atómica" da venda de dívida dos EUA pela China, que levou a uma subida abrupta da taxa de juro, que a uma qualquer "bondade" de Trump.
Como o Presidente francês já avisou, a suspensão de três meses "é demasiado frágil" e a Europa não pode estar à espera para ver o que acontece, ao mesmo tempo que a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, avisava que as contra-medidas europeias estão prontas a ser disparadas a qualquer momento.
Até porque, se nos mercados petrolíferos o alívio durou pouco, com o barril a voltar a inclinar-se para o vermelho, bem como no comércio de diamantes, com o site especializado Rapaport a descrever mesmo o actual cenário como de "incerteza histórica" face à avalanche de tarifas norte-americanas, nas bolsas o cenário, após a forte recuperação de quinta-feira, voltou hoje a ser trepidante nas perdas significativas, com a incerteza e a desconfiança a marcar o ritmo das descidas.
Há, contudo, algum tom de esperança nalguns analistas internacionais, depois de Donald Trump, pressionado pelo colapso bolsista e pela subida das taxas de juro directoras nos EUA após a venda de uma pequena parcela da dívida norte-americana pela China, apenas 50 mil milhões dos quase 800 mil milhões de dólares que possui, ter vindo admitir que anseia por um acordo com Pequim.
A saída, aparentemente, é a afirmação do ministro do Comércio chinês, quando informa que Pequim não volta a mexer nas taxas mesmo que os EUA o façam de novo, que Donald Trump deve vir a público em breve defender que é a "rendição de Xi" nesta guerra comercial por si declarada.
Provavelmente, os estrategas chineses viram uma oportunidade de lançar a escada a Trump depois deste ter vindo dizer que a China quer fazer um acordo, mesmo sem explicar porque o disse, colocando o ministro do Comércio a dizer que Pequim não volta a mexer nas tarifas... para o Presidente norte-americano poder gritar vitória numa "guerra sem vencedores"...
Ver-se-á nos próximos dias, ou mesmo horas, se Trump e Xi Jinping acertam os ponteiros para voltarem a dar a corda da confiança ao relógio da economia global.