Pelo meio, o Presidente norte-americano já avisou Kiev que quer as `terras raras' ucranianas, os seus portos e a logística do país para ser ressarcido dos milhões entregues pelos EUA à Ucrânia no decurso do conflito com os russos.
Mas Donald Trump não vai dar quaisquer garantias de segurança aos ucranianos, que é o que o Presidente Volodymyr Zelensky pretende para assinar o documento que o aguarda na Sala Oval da Casa Branca, e a porta da NATO está fechada para a Ucrânia.
Com este cenário pela frente, Zelensky arrisca-se a entregar quase todos os recursos económicos do seu país a troco de nada, porque Trump insiste que é apenas uma forma de Kiev pagar o que "deve" aos americanos pelo apoio militar e financeiro que já receberam.
O Presidente norte-americano fala em 350 mil milhões USD que quer ver regressar aos cofres do país, enquanto o ucraniano já veio dizer que o apoio dos EUA ao longo dos últimos anos foi feito em doações e não em créditos com prazo de pagamento definido.
Apesar das verbas astronímicas de que Trump fala, está por demonstrar e explicar que quantidades de `terras raras' existem na Ucrânia, porque até agora o mundo simplesmente desconhecia a sua existência e as poucas de que havia notícia estão nas áreas controladas pela Rússia.
O que deixa alguns analistas a suspeitar de que Trump quer muito mais que os minérios ucranianos, como as `terras raras', relevantes para as industrias 2.0, estando já a pensar no controlo dos seus portos no Mar Negro e das vastas terras aráveis do país.
Mas há ainda a possibilidade de os americanos estarem a desenrolar um plano secreto à vista de todos, que seria estabelecer por contrato com Zelensky a posse dos recursos naturais ucranianos, incluindo nos territórios ocupados pelos russos, não reconhecidos internacionalmente, de forma a abrir uma frente negocial com Moscovo.
Dessa forma, Trump poderia envolver as minas e os portos ucranianos nas futuras negociações alargadas com Vladimir Putin, podendo estas concessões ser trocadas por cedências dos russos noutras áreas, que podem estar relacionadas até com as disputas geoestratégicas com a China no Indo-Pacífico, considerando que a Federação Russa mantém com Pequim uma robusta parceria estratégica que colide com os interesses norte-americanos.
Por detrás desta lógica, já partilhada por vários analistas, está o facto de Trump ir receber Zelensky na sexta-feira, 28, na Casa Branca tendo anunciado previamente que não lhe vai dar nada em troca da posse das concessões mineiras e do controlo dos seus estratégicos portos marítimos.
A questão que falta responder é porque é que Zelensky vai assinar um documento que retira à Ucrânia os escassos trunfos económicos que possui, viu Trump a fechar-lhe a porta da NATO e a garantir-lhe que não lhe dará quaisquer garantias de segurança para o futuro, após a assinatura de um acordo de paz entre Kiev e Moscovo, atirando essa responsabilidade para os europeus.
Provavelmente esta questão estará em cima da mesa das negociações entre EUA e a Rússia que, depois do encontro histórico de há duas semanas na Arábia Saudita, são esta quinta-feira, 27, retomadas em Istambul, na Turquia, com delegações de alto nível mas sem a presença dos chefes das diplomacias da Rússia, Sergei Lavrov, e dos EUA, Marco Rubio.
A informação que existe sobre este regresso à conversa entre as duas superpotências militares, embora escassa, foi proporcionada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que explicou tratar-se de um momento de discussão sobre os "problemas sistémicos acumulados nos últimos anos" de relações cortadas no contexto do conflito ucraniano pelo antecessor de Trump, Joe Biden.
Apesar de Moscovo e Washington insistirem que estas conversações são mais abrangentes que a questão ucraniana, esse tópico está no topo da agenda, e a reunião de sexta-feira entre Trump e Zelensky na Casa Branca é de extrema relevância para os russos, porque, como é claro, se o acordo envolver recursos na parte anexada pelos russos, estará aberta outra abrasiva frente de desentendimento.
Em cima da mesa estará igualmente a questão do envio de forças militares para o leste da Ucrânia no âmbito de um acordo de paz que Trump diz estar para breve, com "cedências" de Vladimir Putin garantidas, que o americano diz que podem ser europeias mas que o Kremlin já avisou que tal é inaceitável para a Rússia.
As duas delegações não deixarão ainda de abordar, aproveitando o pouco tempo que resta, a questão das garantias de segurança exigidas pelo Presidente ucraniano para assinar o documento que Trump em à sua espera e cima da mesa, onde Kiev abdica de grande parte da sua soberania económica.
Antes de viajar para Washington, Zelensky disse estar a "acontecer muito trabalho internacional" e que a "paz e a segurança" são as palavras-chave para a Ucrânia que diz precisar claramente de protecção dos EUA para garantir que não vão acontecer novos ataques russos.
Se Zelensky exige essas garantias de segurança dos EUA para assinar o documento, se Trump já lhe disse que não as vai proporcionar, atirando essa responsabilidade para a União Europeia, então que truque tem o ucraniano na manga para usar quando chegar à Casa Branca e o seu anfitrião lhe apresentar o documento para assinar? Na sexta saber-se-á.