Hoje, oitenta anos depois, enfrentamos de novo a mesma pergunta: que tipo de mundo escolhemos construir juntos? Vivemos uma era de disrupção sem limites e de sofrimento humano persistente. Conflitos multiplicam-se, o clima torna-se imprevisível, a tecnologia avança mais depressa do que a consciência, e a desconfiança cresce até entre vizinhos. Os princípios da Carta das Nações Unidas a paz, dignidade, igualdade e solidariedade, estão sob ataque. Mas é precisamente quando são postos à prova que os valores se afirmam.
O poder da cooperação
Num mundo multipolar e mais interligado do que nunca, a cooperação não é ingenuidade é realismo puro. Nenhum país, por mais forte que seja, pode travar sozinho as mudanças climáticas, as pandemias, o colapso da biodiversidade ou as crises económicas que atravessam fronteiras.
A cooperação é a condição da sobrevivência comum. E essa é a escolha que temos de fazer: um mundo de força bruta ou um mundo de leis; um mundo do "cada um por si" ou um mundo de alianças; um mundo de medo ou um mundo de direitos.
As Nações Unidas permanecem o espaço onde a humanidade se reencontra para dialogar e procurar soluções partilhadas. Mas, para que o multilateralismo sobreviva, tem de ser renovado mais representativo, mais eficaz e mais próximo das pessoas.
Angola e o multilateralismo em acção
Em Angola, essa visão ganha vida com as múltiplas iniciativas do país para a paz. Angola tem afirmado uma voz e uma posição de liderança na defesa do diálogo e da paz no continente africano, tanto como país como nas vestes da Presidência da União Africana.
O seu papel nas mediações regionais do Leste da RDC ao Sahel e o seu compromisso com a reforma do sistema das Nações Unidas demonstram uma visão clara: um mundo mais justo e pacífico exige uma África mais presente à mesa das decisões globais.
Angola tem também uma voz forte nos debates sobre a reforma das Nações Unidas, dirigidos a assegurar uma maior legitimidade da nossa Organização, com uma representação africana permanente no Conselho de Segurança.
Em Angola, o Governo mantém uma excelente cooperação com as Nações Unidas, ultimamente reflectida no Quadro de Cooperação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (2024-2028), que une o Governo e o Sistema das Nações Unidas em torno de cinco pilares: Pessoas, Planeta, Paz, Prosperidade e Parcerias. Juntos, trabalhamos para fortalecer os serviços sociais, impulsionar o emprego digno, diversificar a economia e proteger o ambiente.
Escolher o que nos une
Celebrar os 80 anos das Nações Unidas e os 50 anos de independência de Angola é celebrar a mesma ideia: a capacidade humana de recomeçar, de resistir e de escolher a esperança, mesmo nos momentos mais desafiantes.
Hoje, mais do que nunca, é tempo de agir com coragem e humanidade. A paz, a dignidade e a solidariedade não são destinos, são escolhas diárias.
Ao olharmos para o futuro, reafirmamos o essencial: que "nós, os povos", unidos na diversidade, podemos sempre escolher o melhor de nós mesmos. Essa é a escolha e o legado que devemos honrar.n
*Coordenador Residente Interino das Nações Unidas em Angola

