Ditas naquelas circunstâncias, diante dos seus pares e companheiros, naquele tom despertaram, talvez tenha sido esta mesma a intenção do Presidente Gustavo, algumas conversas e comentários sobre o seu verdadeiro sentido e alcance.
A mim, num dado momento, levaram a refletir sobre a velha dicotomia entre as lideranças e as instituições. Afinal de contas, o que as organizações, sejam nações, países, empresas, associações, famílias, etc, precisam para prosperar? De instituições fortes ou de lideranças fortes, questiona-se e teoriza-se bastante, não obstante a prática factual apontar, em determinados momentos, para um ou outro caminho.

A propósito disto, lembro-me que, há uns anos durante uma viagem por vários países africanos, o antigo Presidente dos Estados Unidos Barak Obama afirmou que África precisa de instituições fortes para apanhar a carruagem do desenvolvimento, ao invés de homens fortes e foi teorizando repetidamente sobre esta sua convicção pelos locais por onde passou e interveio.
Atrevo-me a responder à questão nos seguintes termos: as organizações, sejam elas nações, países, empresas, associações, organizações desportivas, precisam das duas coisas na justa medida, isto é, de instituições estruturalmente competentes, comprometidas e eficazes e de lideranças fortemente lúcidas.
Instituições estruturalmente competentes, comprometidas e eficazes na materialização dos seus propósitos na medida em que dotadas de um aparato de leis, regulamentos, normas, princípios, práticas, cultura institucional e de quadros que realmente fortalecem a sua actuação diária, permitindo-lhes exercer com eficácia o seu poder supremo, de serem os tais de check and balancs, os freios e contrapesos capazes de acompanhar, direcionar e até mesmo condicionar, no sentido institucional dos termos, a actuação dos seus líderes.
Se é uma verdade inquestionável o que disse acima, outra realidade que me parece igualmente irrefutável é que a lucidez das lideranças faz toda a diferença no destino das diversas instituições.
Lúcido é uma palavra etimologicamente derivada do latim (lucidus) que significa aquele que vê a luz, logo, num sentido metafórico ou semi-poético, uma liderança lúcida será aquela que tem a noção da luz, da sombra e da penumbra. Aquela que sabe que o período de tempo em que a sombra é mais curta é ao meio dia e é mais alongada durante a noite, quando chega a penumbra.
As sociedades e as organizações vivem de esperança. A propósito disto, dizia o imperador francês que "o líder é naturalmente um mercador de esperanças", por isso, qualquer que seja o contexto, se de nação, país, escola, família, clube desportivo, etc, é fundamental que emerja uma liderança capaz de aglutinar, de mobilizar, orientar e de convencer os outros para que busquem a realização de um propósito colectivo, de um sonho tangível.
E fundamental na vida das instituições e mesmo das pessoas que a esperança nunca se esvaneça. E isto requer, ainda que de modo gradual, porém sempre continuo, a resolução dos problemas e a satisfação das necessidades maiores.
Falo sobretudo neste aspecto particular da lucidez das lideranças porque não gostei do tom de "saída eterna", não obstante ter prometido "andar por aí" usado pelo Presidente Gustavo da Conceição.
Caminhando para a celebração dos 50 anos da nossa Independência, somos ainda um país nascente em muitos aspectos, carentes de múltiplas coisas, sendo uma delas, de quadros bem formados, com experiência, múltiplas vivências e com a tal capacidade para ver a luz e até de estimar, pelo ciclo da lua, o tamanho das sombras.
Não podemos nós, enquanto País, e para melhor salvaguarda da solidez do nosso sistema desportivo que se constrói todos os dias, ter a veleidade de abrir mão e deixar pelas obras do acaso a contribuição de um quadro com a comprovada capacidade contributiva do anterior Presidente do COA, Gustavo da Conceição, que foi, com muito mérito, igualmente, Secretário-geral da Associação dos Comitês Olímpicos Africanos (ACNOA), Presidente da Federação Angolana de Basquetebol (realizando iniciativas verdadeiramente revolucionárias como, por exemplo, a celebração de acordos de patrocínio para os campeonatos nacionais) e deputado na Assembleia Nacional, integrando a comissão responsável pelo acompanhamento do sector desportivo.
Todos somos realmente muito poucos, por isso, Presidente Gustavo, não vá andando por aí, mas, sim, circule por aqui, entre nós, pois tem tanto para partilhar, ensinar, inspirar, orientar e mostrar os caminhos para luz.

*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga.