O percurso de cada uma das pessoas consagradas pela História tem sempre os pontos fracos. Não os há absolutamente impolutos. Se procurarmos bem, encontrar-se-á sempre um facto da sua vida privada, uma conversa, uma suspeita aliança, uma frase comprometedora, que poderão servir para a sua exclusão. Ou, pelo menos, para o seu apequenamento.

E, apesar da mudança de atitude que se tem vindo a observar nos últimos anos, em particular através da concessão de prémios do Ministério da Cultura, e de medalhas de mérito pela Presidência da República, por ocasião da festa da independência nacional, a verdade é que continuam a faltar ruas, praças e avenidas com os nomes de lutadores pela independência nacional como Mário Pinto de Andrade, Dilolwa, Lúcio Lara, Jonatão Chingunji ou Viriato da Cruz. Ou de escritores como António de Assis Júnior, Cordeiro da Matta ou dos mais recentes, Raúl David, Jorge Macedo, David Mestre ou Ruy Duarte de Carvalho. Ou de jornalistas, percursores da angolanidade, como José de Fontes Pereira e Francisco Castelbranco, para falar só em alguns dos muitos nomes que poderiam desfilar sob os nossos olhos, como páginas de história abertas, despertando a curiosidade de todos e, em particular, da juventude.

A toponímia tem essa missão, de preservar a memória daqueles que se destacaram na construção da Nação, ícones com os quais nos deveríamos identificar, criando esse quadro comum no qual nos revemos, e que nos faz ter um sentimento partilhado de orgulho na nossa angolanidade.

Mas, a toponímia tem, igualmente, a função de permitir que uma sociedade moderna se organize e funcione. A proliferação de moradas com rua sem nome e casa sem número, nos documentos de identificação, impede o normal funcionamento de muitos serviços. A necessidade que algumas empresas públicas tiveram de criar o seu próprio sistema de identificação das moradias dos clientes é um sinal inequívoco do quão débil é o funcionamento da nossa administração territorial. É ridículo ver, em determinados bairros, casas com dois ou três números, que nem sequer podem depois ser utilizados nos documentos oficiais, pois não são colocados pelas autoridades que o deveriam fazer. Os reflexos desse facto no funcionamento quer do sistema judicial, quer da Polícia, são enormes, e isso para não falar de serviços que dependem da morada, como o dos correios. Se é verdade que hoje em dia é possível, através da georreferenciação, proceder-se a actividades cruciais, como é o caso do censo, não devemos esquecer-nos do quão importante é ter-se um endereço fácil de transmitir nos vários momentos da nossa actuação como cidadãos. E tal pode ser feito mesmo recorrendo-se a soluções em que se atribuam números e letras às vias. O que não podemos é continuar a esquecer-nos de preencher essa lacuna.