Unidos em conferência de imprensa, realizada ontem, 6, em Luanda, os quatro partidos políticos com assento parlamentar alertaram para o facto de "a lisura, a legitimidade e a validade do processo eleitoral" estarem ameaçados.

Na base do aviso, extraído do comunicado final do encontro, encontra-se um negócio de mais de 200 milhões de euros, no âmbito de um concurso público em que as empresas Sinfic (Portugal) e Indra (Espanha) - que já trabalharam com a CNE - são eleitas para realizar assessoria tecnológica das eleições gerais de 23 de Agosto.

"Recordamos que as empresas que estão a ser escolhidas são as mesmas que participaram nas fraudes de 2008 e 2012. Em 2008, por exemplo, a Indra produziu mais boletins de voto do que aqueles que a CNE disse ter recebido, e forneceu um sistema tecnológico que não estava em conformidade com a lei. A Sinfic, por seu turno, foi a empresa que assessorou o Ministério da Administração do Território e a CNE na produção de cadernos eleitorais incorrectos", sustenta a oposição, apelando para a "correcção imediata" desta situação.

De acordo com a UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA, essas duas firmas apresentaram uma proposta "em circunstâncias pouco transparentes", mas deverão ser adjudicadas amanhã, 8, para prestação de "serviços eleitorais".

Os quatro partidos falam mesmo numa acção que passa por "lançar bases" para um "processo [eleitoral] não transparente nem democrático, que visa unicamente a manipulação dos resultados eleitorais".

A situação, segundo essas forças políticas, introduz "mais uma vez uma névoa de opacidade ao processo eleitoral", lê-se no comunicado.

"O mais grave é que o caderno de encargos que integra um dos contratos que a CNE pretende assinar, [na segunda-feira, 8], para o desenvolvimento de uma solução tecnológica para a transmissão dos resultados eleitorais, não está em conformidade com a Lei", refere a mensagem, aludindo à alegada intenção da Comissão de concentrar a canalização dos resultados eleitorais de 23 de Agosto para um único ponto, em Luanda, em vez de o fazer pelas 18 províncias.

"Nos discursos oficiais públicos, todas as vozes se têm pronunciado pela necessidade de realização, no país, de eleições que decorram dentro da lisura, transparência e justiça, que permitam que os resultados publicados reflitam só e somente só a vontade expressa pelos cidadãos eleitorais nas urnas. Ora, o que nos têm dado a assistir não pode concorrer para o alcance desses objectivos", acusam os partidos.