O Museu Nacional de Antropologia (MNA), do qual é director-geral, foi fundado há 45 anos, um anos após a proclamação da Independência Nacional. Como o caracteriza hoje?

O Museu Nacional de Antropologia foi fundado a 13 de Novembro de 1976, por via do Decreto n.º 80/76, no âmbito do confisco de todo o património cultural que se encontrava sob guarda de pessoas singulares no regime colonial. Houve a necessidade de o Governo resgatar o património e nacionalizá-lo. Por sinal, estamos há menos de um mês da comemoração de mais um aniversário, pois, em Novembro de 1976, foi inaugurada a primeira exposição pelo então primeiro-ministro, o senhor Lopo do Nascimento, em representação do primeiro Presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto. O MNA cumpre a missão da preservação dos vestígios materiais do património etnográfico e antropológico, que abrange vários aspectos dos diferentes grupos etnolinguísticos, como os aspectos culturais, políticos, económicos e sociais. Ao longo do tempo, foi evoluindo quer do ponto de vista da diversificação das suas temáticas e do cumprimento das missões específicas para o desempenho das próprias actividades museológicas, quer do ponto de vista da preservação, classificação, inventariação e divulgação do património, fundamentalmente.

Os museus não só preservam o património, mas uma das suas missões é, também, a sua divulgação, para que o povo possa conhecê-lo.

Sim. A divulgação é fundamental quer do ponto de vista da transmissão de conhecimentos, quer do ponto de vista da promoção da própria cultura por via de publicações e de outras linguagens de comunicação museológicas, sobretudo a exposição. Um museu é uma ferramenta de transmissão de conhecimento muito importante para as comunidades. Qualquer desenvolvimento passa pela promoção da cultura e do conhecimento. Quem visita um museu pode ser comparado a alguém que lê um livro. Sai diferente.

O património guardado no MNA tem sido bem divulgado?

Neste aspecto, ainda não estamos num patamar ideal, porque, à semelhança de outras estruturas, encontramos algumas dificuldades. Mas é importante aqui destacar que temos uma exposição permanente, que é o principal vínculo de comunicação museológica. Continuamos a realizar outras actividades de animação cultural que podem complementar os processos de divulgação, visto que, para os museus, a divulgação não depende só daquilo que está presente, ela é dinâmica, deve ser interpretada por vários cenários e vários aspectos. Por exemplo, a divulgação das colecções de um museu pode ser feita por via do teatro. As nossas exposições são temáticas, agregam vários temas que vão ao encontro da vida sócio-cultural das comunidades. Temos, por exemplo, a temática da pesca, na qual, aqui bem próximo, na Ilha de Luanda, encontramos comunidades com uma vida ligada à pesca, e as crianças e jovens que visitam o museu podem familiarizar-se com instrumentos antigos desta actividade. O MNA pode servir de um laboratório onde se vão conhecer as coisas, não só do ponto de vista teórico, mas, sobretudo, também do ponto de vista prático. É importante que a instituição não viva só das exposições permanentes; as exposições temporárias acabam por atrair mais visitantes. Temos também diversificado as temáticas das nossas actividades, buscando exposições no domínio das artes, por exemplo. Em Agosto, promovemos a exposição "A Máscara Oculta", no âmbito de uma parceria com a Embaixada da Bélgica em Angola, que teve impacto positivo no que diz respeito às visitas. Se o MNA não tiver publicações ou não comunicar, por via das colecções, acaba por desinibir o público. Temos dificuldades que são conjunturais, mas temos estado a mitigar essas dificuldades fazendo parcerias com outras instituições.

Qual é taxa média de visitas mensal?

A baixa no número de visitantes começou a registar-se em Março de 2020, devido à pandemia da Covid-19. Antes da pandemia, a instituição registava uma média de visita mensal de mil 500 visitantes, e, quando houvesse actividade, esse número subia para duas mil pessoas e, às vezes, três mil. Actualmente, os números variam entre 100 e 300 visitantes/mês.

Quais as taxas de acesso ao museu?

Uma visita guiada custa 374 kwanzas, isso para visitantes com idades compreendidas entre os 18 e 60 anos. Visitantes até 12 anos estão isentos dessas taxas. Dos 13 aos 17 anos pagam 175 Kz. Mensalmente, arrecadamos entre cinco e seis mil Kz. Eu faço uma crítica ao decreto que estipula essas taxas, porque, se compararmos a nossa realidade do ponto de vista dos visitantes que acedem ao museu, no caso dos estrangeiros, um indivíduo com 61 anos, por exemplo, ainda é jovem, e é nesta faixa etária em que encontramos os potenciais cidadãos com capacidade financeira. Já recebemos visitantes com mais de 80 anos.

Um dos requisitos fundamentais e universais que credibilizam um museu é o número de peças museológicas. Quantas peças estão conservadas, actualmente, no MNA?

Temos, no total, seis mil peças, e, como disse, e bem, é um dos requisitos de qualquer museu, e nós não fugimos à regra. Internacionalmente, a constituição dos museus tem regras e modalidades, e uma delas é o acondicionamento das peças, daí o investimento feito com o novo edifício que tem três andares, que compreende dois depósitos.

A nossa capacidade para a exposição é reduzida e o maior número da colecção do museu está em depósito, que, entretanto, oferece condições de acondicionamento. Por outro lado, o depósito, além de garantir a preservação das colecções, facilita as pesquisas. Há vários pesquisadores, quer nacionais, quer estrangeiros, que vêm ao museu e, mediante uma solicitação, podem ter acesso a essas colecções, para fins de estudos. A nível da divulgação, temos feito rotatividade, colocando em exposição determinados objectos que ainda não passaram.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)