Para a consumação dos despedimentos, a empresa, que foi adquirida recentemente pelo gigante Hapag Lloyd, criou outra sociedade, denominada Hapag Lloyd Angola, que passou a funcionar nas mesmas instalações, na Vila Alice, em Luanda, e a fazer o mesmo serviço, com os mesmos clientes e fornecedores, mas com trabalhadores "mais baratos".
Esta "nova" empresa tem quase a mesma direcção e está a absorver alguns dos funcionários dispensados e que tinham mais de 20 anos de casa, mas com um novo contrato e condições de trabalho inferiores, incluindo salários de alguns trabalhadores, às que tinham na NileDutch Angola.
Sob anonimato, vários funcionários denunciaram a situação ao Novo Jornal, esta semana, descrevendo que apenas foram chamados para assinar o fim do contrato, sem sequer poderem fazer cópia dos documentos e dos termos cessão do contrato de trabalho.
Segundo os visados, a Hapag Lloyd, depois de englobar a NileDutch, criou a Hapag Lloyd Angola para despedir e baixar salários dos técnicos da NileDutch Angola. Os funcionários asseguram que as operações da empresa foram sempre de sucesso e "com resultados milionários".
Os funcionários contaram que recentemente ouviram boatos de que a empresa seria extinta, mas que todos os trabalhadores seriam integrados pela nova direcção, o que não está a acontecer.
"A empresa tem tentado diminuir as condições de trabalho dos funcionários, esbarrando na Lei Geral do Trabalho, e decidiu, agora, constituir uma sociedade nova, para, usando subterfúgios, despedir quem não lhe interessa", descreve um dos trabalhadores ao Novo Jornal.
Segundo estes funcionários, o processo não tem sido conduzido de forma transparente, o que tem deixado vários trabalhadores desgastados e descontentes.
"A promessa de um dos responsáveis da empresa, em Angola, o senhor Vishal Bundhun, era de que seriam preservados os nossos postos e as condições de trabalho e todos os trabalhadores passariam para a nova entidade", prosseguem.
A NileDutch Angola, empresa de transporte de contentores, que opera no País há mais de 30 anos, tem mais de 60 trabalhadores, e está a mandar para casa funcionários com mais de 20 anos de serviço, ao arrepio da Lei, conforme os denunciantes.
Os trabalhadores realçam que o processo de recrutamento, na Hapag Lloyd Angola visa apenas eliminar aspectos, entre outros, como a antiguidade que alguns funcionários já adquiriram enquanto trabalhadores da NileDutch.
"Estão a ser propostas condições manifestamente desvantajosas, o que fere a Lei Geral do Trabalho", lamentam.
Entretanto, sem que lhes tenha sido formalmente comunicada qualquer modificação nos contratos, vários trabalhadores disseram que alguns dos seus colegas estão a ser coagidos a assinarem documentos de fim de contrato, com compensações aquém do exigido por Lei.
Ao Novo Jornal, estes trabalhadores acusam a Hapag Lloyd/NileDutch de intimidar e agredir trabalhadores verbalmente, para forçar alguns dos funcionários a apresentar a demissão.
"Temos até ao dia 31 de Janeiro para deixarmos a empresa definitivamente. Infelizmente, há trabalhadores que estão muito próximos da reforma", lamentam.
Quanto ao cidadão estrangeiro citado pelos trabalhadores, depois de uma pesquisa, o Novo Jornal percebeu que não é a primeira vez que tem problemas legais.
Entretanto, os trabalhadores são de opinião que a central da Hapag Lloyd AG, na Alemanha, cotada em bolsa, desconhece o que está a acontecer em Angola.
Juristas ouvidos pelo Novo Jornal asseguram que a NileDutch Angola está a agir ao arrepio da Lei e aconselham os visados a recorrerem aos tribunais.
Estes juristas salientam que a empresa está a desrespeitar o artigo 110.º da LGT, que refere que "a modificação na situação jurística do empregador não constitui causa de extinção da relação jurídico-laboral.
O número 2 do mesmo artigo, consultado pelo Novo Jornal, diz que "os trabalhadores mantêm a antiguidade e as categorias e continuam a desenvolver as actividades contratadas pelo anterior empregador...", lê-se.
Sobre o assunto, o Novo Jornal procurou ouvir a NileDutch Angola para obter a sua versão, e, para tal, tentou o contacto com a gerente da empresa, Cláudia Francisco, que responde pela direcção, mas esta responsável não respondeu à solicitação deste jornal.