Como empresário, Rui Nabeiro era conhecido por ter uma grande ética nos negócios e uma profunda noção do que é responsabilidade social, redistribuindo os ganhos. Dizia, sobre si próprio, que era um homem que queria viver e deixava viver os outros. "Ser um grande exemplo para muita gente é saber-se trabalhar para nós próprios, mas também saber trabalhar para os outros. Termos o nosso, mas permitir que os outros também tenham", defendia.

Em Angola, a Angonabeiro criou a Ginga, uma marca de café 100% angolano que, desde a sua origem, tem como objectivo contribuir activamente para o desenvolvimento da indústria nacional de café e devolver o prestígio ao café de Angola.

Aliás, a ligação do comendador e empresário Rui Nabeiro a Angola é longa. Dizia que aquilo que o fez ser o homem do café, "foi o café de Angola".

"Comecei a vida com Angola, porque Angola era o principal fornecedor de café a Portugal. Aliás, naquela altura (Portugal sob o domínio da ditadura de Oliveira Salazar), só se podia comprar a Angola, Timor e pouco mais. Em Cabo Verde havia pouco em São Tomé ainda menos (na altura colónias). Portanto, o que me fez ser o homem do café foi o café de Angola", afirmou Rui Nabeiro numa entrevista à Lusa, em 2019, para explicar que já antes da Independência tinha negócios no mercado angolano.

Considerava-se "um homem ambicioso, mas de mãos abertas".

"Sempre acreditei em mim e essa foi a minha melhor qualidade. Em pequeno sonhava muito. Trabalhei muito, lutei bastante para chegar aqui, mas nunca fechei as mãos", afirmou, numa entrevista ao jornal português Diário de Notícias.

Após o 25 de Abril, o grupo Nabeiro criou a Angonabeiro, com uma unidade industrial de cafés solúveis em Cacuaco, próximo de Luanda, que estava parada.

"Estivemos lá por empréstimo, investimos lá muito dinheiro, afirmou, em 2019, data em que a Angonabeiro fez a escritura de aquisição e estava a terminar a ampliação da fábrica, onde o grupo tem investido milhões de euros.

A Angonabeiro anunciou em 2015 o investimento de um milhão de dólares na aquisição da totalidade do capital da empresa pública angolana de produção de café Liangol, cuja gestão já assegurava há 14 anos, destacava, em 2019 a Lusa.

Desde 2001 que a empresa do grupo português assumia a gestão da fábrica da Liangol, depois de garantir também a sua reabilitação e modernização, tendo em conta que estava desactivada desde 1984.

A empresa ocupa uma área de quatro hectares, com uma zona de armazenamento, torra e embalagem de café, onde o grupo Nabeiro assegura a produção e comercialização de 250 toneladas do café da marca própria, Ginga, que lidera destacada as vendas em Angola.

Sobre a empresa responsável pela produção do café Ginga, a Superbrands escreve: "Sendo uma empresa da Delta Cafés, a Angonabeiro opera de acordo com as boas práticas do grupo a que pertence. Assim, a empresa procura implementar normas e procedimentos idênticos aos praticados pela Delta Cafés em Portugal, ajustando-os, naturalmente, ao contexto social, económico e político de Angola".

E refere: "A Angonabeiro assegura a sustentabilidade dos produtores de café em Angola, apostando na construção de infra-estruturas, tais como furos, poços e fornos nas zonas de café. Trata-se de um investimento que se insere na política de responsabilidade social da empresa, e que visa o apoio a projectos comunitários, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida dos pequenos e médios produtores de café, assim como das respectivas famílias e restantes moradores das aldeias. Para além disso, contribui para o desenvolvimento das comunidades produtoras, fomentando a escolarização e a capacitação dos produtores, promovendo também a gestão racional de recursos naturais e a não poluição dos solos.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu pobre, a 28 de Março de 1931, em Campo Maior, no Alto Alentejo, Portugal. Começou a trabalhar aos 12 anos, ajudando a mãe na pequena mercearia e o pai e os tios na torra do café.

Em 1984, dois anos após ter fundado a Novadelta, que se dedica à torrefação, empacotamento e comercialização de café, criou em Campo Maior aquela que era na altura a maior fábrica de torrefação da Península Ibérica. Em 1988, criou o Grupo Nabeiro - Delta Cafés, que conta actualmente com mais de duas dezenas de empresas com intervenção directa em áreas como a alimentação, imobiliário e turismo.

Além de empresário, Nabeiro ocupou durante vários anos o cargo de presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, Portugal, antes e depois do 25 de Abril.

Rui Nabeiro foi condecorado com a Ordem Civil do Mérito Agrícola Industrial e Comercial - Classe Comercial pelo Presidente Mário Soares, em junho de 1995, e com a Ordem do Infante D. Henrique, em janeiro de 2006, quando Jorge Sampaio era ainda Presidente. Em Espanha, recebeu a Comenda da Ordem de Isabel a Católica e, em 2010, foi nomeado Cônsul Honorário de Espanha, com jurisdição nos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja.