É por isso que no seu mais recente, extenso e aprofundado relatório sobre a evolução previsível para o comportamento do petróleo na próxima década, a AIE não estanca o passo para afirmar que o barril de petróleo vai valer pelo menos 90 dólares em 2030.
Por detrás desta previsão estão os dados recolhidos pela AIE, o organismo global com maior capacidade de análise sobre a evolução do mercado energético no que respeita ao crescimento das alternativas ao petróleo, dando como exemplo a evolução da energia solar, a mais importante, a par da eólica, como substituto dos hidrocarbonetos, que nem de perto nem de longe, para já, permite pensar que os dias do crude estão a chegar ao fim.
A AIE sublinha, neste documento que está a ser antecipado em sínteses pelas agências e sites especializados, que a energia solar está a crescer, em todo o mundo, a uma média anual de 100 GW, o equivalente a 200 mil campos de futebol em painéis solares, mas, como exemplifica Nick Cunningham, analista do site oilprice, mesmo com este gigantismo, o mundo precisaria de 200 anos para chegar a uma produção de energia equivalente à permitida hoje pela queima de petróleo.
Ou seja, apesar do investimento global nas energias renováveis como um dos pilares do combate ao aquecimento global que está por detrás das alterações climáticas, que alguns cientistas admitem, cada vez em maior número, que a este ritmo, em breve, a vida será insustentável em largas partes do Planeta, a ciência ainda está longe de conseguir energia com a densidade dos hidrocarbonetos.
Mas são igualmente comuns as opiniões de que a indústria petrolífera gasta anualmente biliões para estancar o avanço tecnológico nesta área como forma de defender os seus interesses, mesmo com o risco evidente de a Terra estar claramente em risco de chegar a um ponto de não retorno e isso significar, literalmente, a extinção da humanidade.
Um exemplo do árduo caminho que a ciência tem pela frente é a dificuldade reconhecida em fazer voar um dos actuais aviões de transporte de passageiros com recurso a energia que não seja resultante da queima de derivados do petróleo, sendo o mesmo aplicável ao transporte marítimo.
Estes relatórios normalmente optimistas para o sector petrolífero e para os países produtores mais dependentes das exportações da matéria-prima para equilibrar as suas contas públicas, como é o caso de Angola, estão, no entanto, a ser recebidos cada vez com mais violentas críticas, porque indicam um caminho que choca de frente com a emergência mundial de diminuição do uso do petróleo como caminho mais curto para evitar o iminente colapso ambiental do planeta.
Mas, como a AIE também admite, com o passar do tempo, a ciência vai conseguir criar formas novas de produzir energia e a substituição do petróleo começará a ser efectiva a partir de 2030, seja porque vai aumentar muito a eficiência da energia que deriva da queima de petróleo e ainda porque as alternativas vão começar a ganhar densidade equivalente à dos hidrocarbonetos, sendo ainda sublinhada a questão da electrificação de cada vez mais veículos ligeiros e pesados.
Nesta antecipação do seu World Energy Outlook, a AIE vê ainda o crescimento da procura por petróleo crescer a uma média de 1 milhão de barris por dia (mbpd) até 2025, chegando, cinco anos depois, em 2030, a uma situação de estagnação, a que se seguirá uma diminuição, o que permite antecipar que o barril vai manter-se em valores acima dos actuais - hoje estava a 62.80 USD por barril de Brent, em Londres, uma subida de 0.69% em comparação com o fecho de quarta-feira -, chegando ao patamar dos 90 USD em 2030.
Por outro lado, a subida observada hoje em Londres, onde o Brent local determina o valor médio das exportações angolanas, é resultado indirecto destes dados conhecidos do relatório global da AIE, mas surge na sequência de uma inesperada baixa substancial nas reservas norte-americanas.
Segundo dados do Instituto Americano do Petróleo (API, sigla em inglês), as reservas petrolíferas dos EUA desceram, na última semana, meio milhão de barris, num contraste relevante com o que estava a ser antecipado pelos analistas, que apontava, para um crescimento de 1.649 milhões de barris.