Este valor, 118,68 USD por barril de Brent, vendido em Londres, perto das 10:50 (hora de Luanda) de sexta-feira, é o mais alto em perto de dois meses, mas não deve ficar por aqui se até segunda-feira, dia em que começara em Bruxelas a reunião de dois dias do Conselho Europeu, se confirmar aquilo que o seu presidente, Charles Michel tem dito aos jornalistas.
O líder deste órgão que congrega os primeiro-ministros e chefes de Governo da União Europeia, afirmou, na quarta-feira, estar "confiante de que é possível alcançar um acordo" sobre o embargo de petróleo à Rússia e, com ele, "fragilizar a máquina de guerra do Kremlin".
Porém, esta certeza de Charles Michel não é partilhada por alguns dos lideres europeus que, perante a dificuldade de encontrar alternativas ao crude proveniente da Rússia, têm dito que não vão alinhar numa decisão de embrago a Moscovo.
Nesse grupo de Estados-membros do bloco europeu está a Hungria, que chegou mesmo a avisar que vai vetar tal acordo, e a Áustria, mas há outros que mostram forte relutância em dar esse passo, como a Alemanha, a Itália ou em países menos relevantes como a Eslováquia ou a República Checa.
Mas é igualmente factual que toda a estrutura directiva da União Europeia persegue empenhadamente esse fim.
O belga Charles Michel, a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, e o chefe da diplomacia, o espanhol Josep Borrell, estão a fazer um poderoso esforço de "lobbying" para impor um embargo total à energia russa, apostando em alargá-lo também ao gás, embora neste campo, conte com a aposição clara de países-chave, como a Alemanha ou a Itália.
Estes líderes europeus defendem sem pestanejar a continuação da guerra na Ucrânia até à derrota de Moscovo, promovendo o contínuo apoio em equipamento militar a Kiev, e colocam o embargo ao crude russo na linha da frente das suas prioridades porque a exportação de petróleo e gás por Moscovo garante ao Kremlin cerca de 800 milhões de dólares por dia só dos países da União Europeia, dinheiro que Leyen, Borrel e Michel dizem estar a financiar a guerra de Putin.
Um eventual embargo europeu tem um impacto forte nos mercados porque a Rússia é o segundo maior exportador da matéria-prima do mundo, o primeiro é a Arábia Saudita, e é o 3º maior produtor, apenas superado pelos sauditas e pelos EUA, o que faria com que os perto de 2,5 milhões de barris vendidos diariamente ao bloco europeu ficassem sem destino. Os media especializados estão mesmo a divulgar que Moscovo já tem vários petroleiros com milhões de barris em alto mar e sem destino.
Lembre-se que os EUA, por exemplo, já oficializaram, em Abril, o embrago total ao gás e aos crude russos, o que é visto como uma falsa medida dura, porque este país é excedente na produção de ambos, embora os media especializados tenham divulgado recentemente dados que, ao invés, Washington está a importar mais petróleo russo que antes desta decisão passar no Congresso norte-americano.
Mas o que iria perturbar os mercados e pressionar os preços em alta é que este crude russo que deixaria de ir para os europeus teria de ser importado de outros países onde a capacidade de aumentar a produção está longe de estar garantida, o que gerará disrupções no fornecimento cuja dimensão ainda não pode ser mensurada.
A própria OPEP+, organização que desde 2017 agrega os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, já veio, por diversas vezes, dizer que não possui capacidade interna para aumentar a sua produção além do plano em curso que acrescenta 400 mil barris por dia, mensalmente, sendo disso um bom exemplo Angola, que, de momento, não consegue mesmo cumprir com a quota que lhe foi atribuída no seio do "cartel", fruto do forte desinvestimento na pesquisa e produção nos últimos anos devido às sucessivas crises e à baixa substancial dos preços.
Para já, ao chegar perto dos 120 USD, embora longe do máximo atingido no tempo da actual guerra no leste europeu, que a 09 de Março levou o barril de Brent aos 139 USD, apenas a sete do máximo de sempre, 147, em Junho de 2008, o barril está a reagir à perspectiva de um embargo da União Europeia ao crude russo que não está ainda consolidado.
Há, no entanto, outros factores determinantes para este sobe e desce nos mercados, desde logo o esperado desanuviamento dos confinamentos na China devido à Covid-19, que colocou quase 45 milhões de pessoas fechadas em casa em várias cidades do país, especialmente em Xangai e Pequim, em Março e Abril, estando agora a regressar ao "normal", e ainda, como sublinham os sites especializados, a importante época de deslocações internas de Verão em automóvel nos Estados Unidos da América, onde milhões de pessoas viajam em veículos de grande cilindrada, fazendo disparar o consumo de gasolina e, por conseguinte, o consumo de crude.
Apesar de uma grave crise económica, por causa da guerra na Ucrânia como razão cimeira, embora existam outras, estar à beira de emergir, um pouco por todo o mundo, como o próprio FMI admite, incluindo o risco de uma receção nos EUA, com valores de inflação históricos também na Europa, com a média a passar já os dois dígitos, com um desemprego galopante e encolhimento gritante do consumo, o que pode levar a uma queda abrupta dos mercados, para já, estes estão a valorizar mais os riscos que resultam do encolhimento da oferta do crude russo e o aumento do consumo nos EUA devido a questões não directamente relacionadas com a economia, como as férias familiares de Verão.
E isso é hoje, 27, claro ao analisar os mercados, que sobem em média 3%, queimando dois meses de transacções em alta, apertados pela continuação de uma oferta estreita face à procura, que nem sequer a libertação de milhões de barris das reservas estratégicas dos EUA e de países aliados, como Japão e Coreia do Sul, está a ajudar a alargar, sofrendo ainda do efeito de recuperação - diluído, apesar de tudo, pela guerra na Ucrânia - permitida pelo fade out da crise pandémica.
Com este incandescente momento nos mercados, Angola é um dos países exportadores mais beneficiados, de acordo com a Fitch Solutions.
É-o porque o petróleo representa cerca de 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do seu PIB e até 60% das receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.