Este regresso dos ataques das IDF em Gaza não foi uma surpresa para quem segue de perto o conflito que já dura há mais de dois anos e "sobreviveu" a pelo menos três acordos de cessar-fogo, porque tanto o primeiro-ministro Netanyhau, como os membros do seu Governo têm afirmado que os ataques não iriam parar sempre que houvesse a possibilidade de abater membros do Hamas.

E foi isso que, de terça-feira para hoje, quarta, 29, aconteceu, com as IDF a interromperem o cessar-fogo mediado pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, e lideres regionais do Egipto, Arábia Saudita e Catar (ver links em baixo), alegando que as linhas de demarcação de posições foram trespassadas pelos combatentes do Hamas.

As linhas de separação traçadas no mapa de Gaza durante as negociações são apenas imaginárias, porque no terreno, os civis palestinianos não têm como perceber se as ultrapassaram em um ou 30 metros, mas os snipers israelitas já abateram largas dezenas de pessoas devido a esse "incumprimento" do acordo.

Isto, como se fosse fácil perceber essa demarcação num território com 365 kms2 onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas, com uma das maiores densidades populacionais do mundo, o que garante que a todo o momento uma criança ou uma família podem morrer por um descuido, como já sucedeu a dezenas, incluindo crianças abatidas a tiro por essa razão.

Para este mortífero cancelamento do cessar-fogo de forma unilateral pelas IDF, Israel alegou como justificação alegadas violações do acordo pelo Hamas que não apenas são negadas pelo grupo, como as organizações internacionais, como a ONU, não reconhecem esse fundamento.

Pelo contrário, vários analistas sublinham que se trata apenas de Israel executar o que já tinha dito que faria, que é matar elementos do Hamas, mesmo que estes se encontrem entre dezenas de civis, incluindo crianças - nestas 12 horas foram mortas pelo menos 20 nos bombardeamentos israelitas -, sem que o acordo os iniba de aproveitar essa "oportunidade".

E depois de cerca de 90 palestinianos abatidos nos ataques com bombas largadas de aviões, entre estes estão 20 crianças, em Telavive o Governo de Benjamin Netanyhau informava que o cessar-fogo voltava a estar em vigor, com Donald Trump, que está de visita à Malásia, a garantir que o Governo israelita não violou o acordo, apenas o interrompeu momentaneamente com justificação plausível.~

E é neste contexto, como nota o jornalista da Al Jazeera, Hani Mahmoud, a partir de Gaza, que foi com estrondo que a "esperança nascida das tréguas se transformou novamente em desespero" sob a forma de filas de aviões de guerra, drones e misseis...

Diz Mahmoud que o medo que tinha largado os rostos dos palestinianos de Gaza nestes últimos dias voltou a instalar-se e dificilmente os largará devido à evidência de que não há nada que impeça Israel de voltar a atacar quando quiser porque tem o resguardo da impunidade.

Este repórter da Al Jazeera avança que das 91 pessoas mortas, 20 são crianças, no total 42 foram mortas no centro de Gaza, 18 destas de uma única família, com "três gerações mortas num único ataque" à sua casa.

Face a este cenário de puro terror, o Presidente dos Estados Unidos, veio defender publicamente a opção de voltar a atacar de Israel apenas três semanas depois de assinado o cessar-fogo, através de uma ordem dada por Netanyhau para "ataques imediatos e poderosos" como foi divulgada.

Esta ordem do primeiro-ministro israelita foi justificada com ataques do Hamas sobre as posições militares das IDF em Gaza, com Trump a dizer aos jornalistas que fora informado por Netanyhau que o Hamas disparou contra soldados israelitas, matando um deles, "o que levou a que fosse, como faz sentido, ordenado um contra-ataque", porque quando tal sucede, "deve ser dada uma resposta imediata".

Apesar desta situação, Trump, tal como Netanyhau, entende que o cessar-fogo se mantém, voltando a ameaçar o Hamas com a fúria norte-americana se não se submeter às regras do acordado: "Se não se comportarem como devem, as suas vidas serão eliminadas".