E mesmo as mais recentes conversações, que tiveram lugar na capital da Etiópia, Adis Abeba, não deram em nada, porque o país construtor da represa, denominada Grande Barragem do Renascimento etíope, ainda não conseguiu dar garantias à prova de brechas de que esta infra-estrutura, que será uma das maiores barragens do mundo, não vai reduzir de forma significativa o caudal do Rio Nilo, o garante da subsistência de ambos os países a jusante.
Desde o início desta obra (ver links em baixo nesta página) que Egipto e Sudão fustigam a Etiópia com demanda de respostas para a suas dúvidas, ao que de Adis Abeba têm sempre recebido como resposta que a Etiópia não vai tolerar que nada se intrometa no caminho do seu desenvolvimento.
E esta barragem é a promessa do Governo etíope, liderado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali, de que o desenvolvimento deste gigante africano, o 2º mais populoso país em África, com mais de 110 milhões de habitantes, não será travado, até porque mais de metade da população não tem acesso garantido à electricidade, situação que será alterada de forma dramática com a conclusão deste projecto hidroeléctrico gigantesco, orçado em mais de 5 mil milhões USD, mais do dobro da maior barragem angolana, a de Lauca.
Só que nem Cartum nem o Cairo estão na disponibilidade de ver secar a sua fonte de vida, que é o Rio Nilo, sem o qual tanto o Egipto como o Sudão seriam apenas vastas paisagens desertas e sem vida, tendo mesmo já ameaçado mandar preparar os seus Exércitos para a guerra, o que levou tanto os Estados Unidos como a União Europeia e envolverem os seus diplomatas no assunto de forma a refrear as tensões.
E não é para menos, porque se trata de três dos mais robustos exércitos do continente, embora o Sudão, envolvido numa guerra civil há largos meses, esteja agora numa posição frágil, mas tanto a Etiópia, também este país acabado de sair de uma longa guerra civil, e o Egipto, sejam dos maiores potenciais militares africanos.
Com 5,5 GW, está será não só a maior barragem do continente como uma das mais importantes do mundo, estando já a produzir parcialmente desde Fevereiro, mais de 370 MW.
O que os países procuram é que esta barragem permita alimentar a Etiópia da energia que carece, mas, ao mesmo tempo, não "reprimir" o caudal do Rio Nilo Azul em tal monta que isso leva a uma redução do caudal a jusante, primeiro pelas montanhas onde nasce, na Etiópia, até à capital sudanesa, Cartum, onde se junta ao Nilo Branco (que nasce no Sudão do Sul), para formar o poderoso Nilo que garante que o Egipto não é apenas um deserto despido de vida antes de desaparecer a norte, em direcção ao Mar Mediterrâneo.
Sendo certo que todas as partes, como tem notado a ONU, garantem estar de boa-fé e prometerem razoabilidade negocial, a verdade é que um acordo demora a ser conseguido, estando a ser tentado há quase uma década.
E sabe-se, porque os dois países a jusante já avisaram, que se tal não for conseguido, pegarão em armas para defender os seus interesses, que são mais que estratégicos, são vitais...