Este envio de submarinos nucleares pelos EUA para a Austrália surge ao abrigo da nova organização militar da região do Indo-Pacífico que agrega a Austrália, os Estados Unidos da América e o Reino Unido, denominada AUKUS, por resultar das iniciais dos três países, em inglês, e foi uma dos momentos onde a China, pela voz do seu Presidente, Xi Jinping, foi mais longe nas advertências atiradas aos americanos, dizendo, como pode revisitar nesta notícia do Novo Jornal, que "quem brinca com o fogo acaba por se queimar".
E não era para menos, porque, nos alicerces do AUKUS (ver links, em baixo nesta página), os três membros não esconderam desde o início que o objectivo é criar uma força de tal forma poderosa que permita a contenção da expansão chinesa nesta vasta região do mundo que, como se percebe a olhar para o mapa, vai das costas dos EUA ao sudeste asiático, junta todo o sul da Ásia, a Austrália e a Nova Zelândia, e estende a sua geografia em direcção às costas de África e do Médio Oriente, embora o seu foco esteja mais no contexto asiático e da Oceânia.
Ora, é nesta vasta região onde a China tem investido mais política, diplomática e militarmente nos últimos anos, ou não fosse este o epicentro de uma das mais escaldantes confrontações iminentes em todo o mundo, que é o Estreito de Taiwan, ilha que a China mantém como objectivo maior de reintegrar no seu território de forma efectiva, contado com a oposição firme e bélica dos Estados Unidos, que têm fornecido equipamento militar num caudal infinito a Taipé como forma de dissuadir Pequim de invadir o mais fiel aliado de Washington neste contexto geográfico.
Como se as palavras cada vez mais azedas entre chineses e norte-americanos não fosse razão suficiente para se recear o pior, que seria uma confrontação entre China e EUA, a Rússia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, veio agora sublinhar que Pequim tem razão em avisar para os riscos inerentes ao "caminho" que está a ser trilhado pelos EUA e os seus aliados ocidentais.
Lavrov advertiu que esse caminho, que contempla a crescente presença da NATO e do AUKUS no Indo-Pacífico representa um risco claro de confrontação que se vai manter por longos anos, esclarecendo o chefe da diplomacia do Kremlin que esse risco é resultado da "não aceitação por parte dos povos da região dos ditames do ocidente como se fossem donos do mundo".
Estas palavras de Lavrov, que é um dos mais experientes diplomatas no activo actualmente, não surpreendem porque Pequim e Moscovo têm repetido, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022, declarações de aproximação e cooperação ilimitada, com ambos os lados a sublinharem que não admitem quaisquer reparos dos ocidentais a essa parceria estratégica "sólida como uma rocha", como a ela se referiu o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, no ano passado.
Sergei Lavrov, citado pela Russia Today, disse, sobre este reforçar bélico do AUKUS, que os três países que integram esta organização só podem desconhecer que "as grandes civilizações asiáticas em nenhum momento vão aceitar a imposição da agenda de Washington".
Isso, depois de o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, ter afirmado que os membros do AUKUS foram "longe demais no caminho errado e perigoso para os seus próprios interesses geopolíticos" fruto da sua "errada mas típica mentalidade de guerra fria" que apenas vai "abrir uma corrida às armas destruindo a contenção que existia no crescimento (não-proliferação) dos arsenais nucleares".
Já da parte do AUKUS, o ministro da Defesa australiano, Richard Marles, disse, para justificar esta corrida às armas na fora de submarinos nucleares, que estes erram essenciais para equilibrar a corrida ao armamento convencional que se verifica na região, a maior deste a II Guerra Mundial.
Da parte dos EUA, o sub-secretário de Estado para a região em questão, Daniel J. Kritenbrink, o mais importante a sublinhar é que se tratou de um processo "conduzido com toda a transparência" apresentando como objectivo maior a "garantia da paz e da estabilidade" regional.
Lembre-se que Pequim e Moscovo também critica fortemente, alertando para os riscos que tal compreende, a criação da denominada QUAD, que agrega a Índia, a Austrália, Japão e EUA, igualmente incidindo na vasta região asiática do sudoeste, igualmente bordejante das fronteiras da China e da Rússia.