Esta notícia, que o jornal árabe atribui a fontes egípcias envolvidas em várias frentes das negociações de paz entre Israel e o Hamas sobre o conflito em Gaza, é candidata a uma das mais estranhas desde que este confronto ganhou intensidade, há mais de seis meses.
Isto, porque, a confirmar-se esta informação, e isso é, pelo menos enquanto forte possibilidade, razoável vendo a forma como a ela estão a reagir as grandes potências ocidentais e os grandes media internacionais, em cima da mesa está um "negócio" de morte.
Para os EUA, evitar que Israel ataque com a intensidade já prometida pelo Governo de Telavive, o Irão, como vingança pelos 350 misseis e drones lançados contra o seu território no Sábado passado, vale a garantia de que mais uns largos milhares de civis palestinianos sejam assassinados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) na invasão de Rafah.
Recorde-se que Rafah é a última grande cidade de Gaza que Israel ainda não destruiu por completo, e onde estão refugiados mais de 1,5 milhões de civis que para ali foram, por ordem das IDF, a partir do norte e do centro do território à medida que limpavam terreno, arrasando todas as aldeias, vilas e cidades.
Por isso, e porque, até ao ataque israelita ao consulado iraniano em Damasco (ver links em baixo nesta página), capital da Síria, a 01 de Abril, onde foram mortos vários generais de topo da Guarda Revolucionária, que levou à resposta no último Sábado, evitar a invasão de Rafah era a grande missão dos países ocidentais, pressionados pelas suas sociedades indignadas com a morte de tantos civis palestinianos.
Desde 07 de Outubro de 2023, há menos de sete meses, depois do assalto do Hamas ao sul de Israel, onde morreram perto de 1200 israelitas, e perto de 150 foram levados como reféns para Gaza, a maioria militares surpreendidos nos quarteis, as IDF já mataram mais de 34 mil civis em Gaza, dos quais mais de 14 mil crianças, que, em conjunto com as mulheres e idosos, fazem mais de 85% do total de vítimas inocentes.
Todo o ocidente, com destaque para o Presidente dos EUA, Joe Biden, tinha como objectivo, até 01 de Abril, baixar o número de mortos entre os civis nas operações israelitas de limpeza de Gaza, em busca dos três objectivos inicialmente designados, e nenhum deles cumprido por um dos exércitos melhor equipados do mundo, aniquilar o Hamas, libertar os reféns e fazer de Gaza uma zona segura para Israel.
Agora, se se vier a revelar autêntica a informação do qatarense Al-Araby Al-Jadeed, citado pelo israelita Haaretz, bem como, depois, por todos os grandes media internacionais, Washington e os aliados europeus admitem que Israel avance com os seus blindados, unidades de forças especiais, aviões de guerra e artilharia pesada contra Rafah, onde, seguramente, vão morrer milhares de palestinianos inocentes que já mal sobrevivem à fome e às doenças.
Em troca, Israel tem apenas de protelar a sua vingança contra o Irão por algumas semanas, e reduzir a intensidade desse ataque de forma a que em Teerão isso seja visto como um sinal de que Israel pretende baixar a tensão e iniciar um fade out para esta recente incandescência militar, o que pode passar por evitar atingir alvos dentro do Irão, optando por objectivos militares do Hezbollah, por exemplo, no sul do Líbano.
Mas porque é que EUA, europeus e os próprios israelitas estão tão receosos do day after a um ataque de Israel contra o Irão? A resposta é simples: o Irão mostrou, com o seu ataque de Sábado, 13, que pode atingir os alvos que quiser dentro de Israel.
Isso ficou demonstrado pela, ao contrário do que dizem os media ocidentais, altamente complexa operação iraniana, com recurso a diversos tipos de armas, incluindo algumas como o míssil hipersónico Fattah -2, que surpreendeu tudo e todos porque o mais sofisticado sistema de defesa antiaérea, o Israelita, não se mostrou à altura deste projéctil iraniano.
Demonstrado que ficou a inesperada capacidade iraniana, e com cada vez mais ruidosos rumores de que o Irão já possui armas nucleares, tendo estas sido desenvolvidas em segredo com ajuda dos seus aliados, que podem ser da Rússia à China, mas também a Coreia do Norte ou até o Paquistão, uma guerra total entre Teerão e Telavive seria uma tragédia à escala planetária.
Tragédia essa para a qual os lideres iranianos, seja o Presidente Ibrahim Raisi, seja o líder religioso supremo, aiatola Ali Khamenei, estão dispostos a enfrentar se Israel não perceber que tem mais a ganhar em diluir os ânimos que em atirar achas para a fogueira.
Alias, em Teerão, antes do ataque de Sábado, uma retaliação legal, de acordo com a Lei Internacional, contra o míssil israelita disparado contra o consulado iraniano em Damasco, embora Telavive não o tenha reivindicado, foi dito de imediato que o assunto estava, no que deles dependesse, encerrado, até porque os países vizinhos foram avisados com 72 horas de antecedência, que é o mesmo que dizer que também Israel saberia de antemão.
Além disso, todos os drones e misseis disparados pelo Irão foram dirigidos a alvos militares, duas bases aéreas no deserto do Neguev e um posto de comando e controlo nos Montes Golã, onde foi planeado o ataque ao consulado na capital síria, poupando áreas civis, como se verificou de facto.
Israel, que reuniu três vezes em dois dias o seu Gabinete de Guerra, criado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyhau para lidar com a questão iraniana, sem que fosse anunciada uma decisão, o que mostra uma clara clivagem no interior do Executivo mais radical de sempre em Israel, tanto ideológica como religiosamente, incluindo alas ortodoxas representadas por pequenos partidos que acreditam ser seu destino expulsar todos os palestinianos da Palestina.
A composição radical deste Gabinete de Guerra deixa perceber que dificilmente ficará esquecido um qualquer tipo de resposta ao Irão, mas, seguramente, longe da intensidade que os mais radicais pretenderiam, porque a prioridade para EUA e aliados europeus de Israel é afastar um confronto aberto entre os dois mais poderosos exércitos do Médio Oriente.