Há duas semanas que os media internacionais dão como garantido que Israel está a erguer uma nova força militar, com mais de 100 mil soldados, no norte do país de forma a dar seguimento ao plano existente de invasão do Líbano para neutralizar o Hezbollah.

A intenção desta operação, segundo o primeiro-ministro isralelita, Benjamin Netanyhau, é acabar com a permanente ameaça desta organização sobre as populações israelitas do norte do país, e de onde milhares de pessoas foram retiradas por razões de segurança.

Esses largos milhares de famílias exigem regressar a casa em segurança e Netanyhau quer, com esta ofensiva sobre o Líbano, permitir essa segurança, neutralizando a capacidade do Hezbollah para continuar a flagelar a zona com roquetes e misseis em grande quantidade.

E agora, segundo vários media norte-americanos, a intelligentsia norte-americana, que é o mesmo que dizer a CIA e a NSA, dão como certa uma guerra de grande intensidade entre israelitas e o Hezbollah, que agrega mais de 150 mil combatentes e dispõe de uma capacidade militar que não tem comparação em sofisticação e quantidade com a do Hamas.

E, recorde-se, Israel, empregando uma força de 350 mil soldados em Gaza, após oito meses de intensos combates, ainda não conseguiu neutralizar o Hamas, que conta com, dependendo das fontes, entre 50 mil e 70 mil combatentes, pobremente armados com armas automáticas e roquetes caseiros.

Mas o maior poderio do Hezbollah não é uma novidade para Israel, porque em 2006, este movimento xiita, apoiado e armado pelo Irão, com acesso a uma rede de apoio alargada, que vai da Síria às enormes milícias xiitas iraquianas, infligiu uma pesada derrota militar ao Tzahal, o Exército israelita.

Nesse conflito, que ficou para a história como a "Guerra dos 30 dias", o Hezbollah obrigou os israelitas a pedirem tréguas através da ONU, tendo aceitado retirar das vastas áreas que controlavam no sul do Líbano e acabar com o bloqueio naval a este país...

Hoje, como notam alguns analistas, dentre eles o major general Agostinho Costa, analista militar na CNN Portugal, não só o Hezbollah está muito melhor preparado e treinado, com mais combatentes e mais e melhor armamento, como Israel está, como se vê em Gaza, longe de ser a força tremenda que foi em tempos.

Perante esta constatação, a disponibilidade para abrir uma nova frente de guerra, seguramente mais ácida e arriscada, mesmo antes de terminar a operação em Gaza, onde nenhum dos seus objectivos foi conseguido, como exterminar o Hamas, libertar os reféns e fazer de Gaza uma zona segura para Israel, só pode ter um objectivo "secreto" por detrás.

E aí os analistas são quase unânimes, ou se trata de uma manobra de distracção de Netanyhau da pressão política interna, onde correr o risco de voltar ao banco dos réus com a chegada da paz, ou se trata de uma forma de obrigar à intervenção directa dos Estados Unidos porque o Hezbollah é um "proxy" do Irão, o arqui-inimigo de Washington no Médio Oriente.

O Politico, media que se tem destacado pelas fontes nas secretas, adianta que é já dado entre a intelligentsia norte-americana que dentro de escassas semanas, ocorrerá uma guerra de larga escala entre Israel e o Hezbollah.

Isto, quando foram enviados navios de assalto com forças especiais norte-americanas para o largo da costa israelo-libanesa sob a justificação de que se trata de uma força para retirar cidadãos das áreas de maior risco caso se verifique necessário.

Todavia, tal desfecho é difícil de dar como garantido, porque o Irão já afirmou, repetidamente, e o episódio do ataque a Israel na resposta do ataque ao consulado na Síria, dá solidez a esta posição, e, depois da morte do Presidente Ibrahim Raisi, o país está esta sexta-feira em eleições, onde não é certo que o vencedor seja um apologista de uma guerra com Telavive.

E também os Estados Unidos estão à beira de eleições, o que, por maioria de razão, determina que Washington tenha interesse em ver aberta uma guerra desta dimensão no Médio Oriente, com claro potencial de pegar fogo ao barril de petróleo do mundo.

Muito do que vier a suceder na flamejante fronteira israelo-libanesa nas próximas semanas, pode estar dependente do resultado da visita do ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, a Washington, porque sem a garantia de fornecimento abundante de armas norte-americanas, Israel não pode arriscar um conflito com um opositor do calibre do Hezbollah.

E, pelo que se sabe, o Presidente Joe Biden tem referido que o corte no fornecimento de armas a Israel é uma possibilidade se Benjamin Netanyhau não travar a sua impetuosidade belicista...

Só que o mesmo não pensa Donald Trump... e, como se viu no debate desta noite, o antigo Presidente e candidato nas eleições de Novembro a um regresso triunfal à Casa Branca, já disse que Israel, com ele na Presidência, terá toda a "pólvora" necessária para se bater com o Hamas e com o Hezbollah.