Num relatório divulgado nas últimas horas, os MSF, uma das mais relevantes organizações humanitárias internacionais, e das que possui mais experiência em cenários de guerra, apontam para a existência de "inegáveis evidências de limpeza étnica" na Faixa de Gaza.

A expressão limpeza étnica e o termo genocídio são usados comummente em circunstâncias distintas mas a maioria dos analistas considera tratar-se do mesmo crime e da mesma gravidade de actuação, embora, por opção, algumas organizações utilizem uma formulação e não a outra, mesmo que nalgumas circunstâncias sejam notadas ligeiras diferenças.

Desta feita, os Médicos Sem Fronteiras, com mais de meio século de actividade em zonas de conflitos e guerras, criada em 1971, com sede na Suíça mas de origem francesa, apontam para a existência de provas claras e inegáveis de limpeza étnica naquele território palestiniano.

Gaza, recorde-se, está sob ocupação das forças de defesa de Israel (IDF) desde Outubro de 2023, tendo lançado uma gigantesca operação de invasão do território após o ataque dos combatentes do Hamas ao sul do país onde deixaram um rasto de morte.

Rasto esse com mais de mil mortos registados, na maioria militares apanhados de surpresa nos quartéis, mas igualmente centenas de civis, nacionais e imigrantes asiáticos ou turistas ocidentais, e ainda perto de 250 reféns levados para Gaza.

Na operação lançada sobre Gaza a 08 de Outubro, Israel deslocou uma força de mais de 350 mil militares, apoiados por centenas de carros de combate pesados e sucessivas vagas de bombardeamentos aéreos, incluindo com os sofisticados F-35 norte-americanos.

Até ao momento, Israel vingou a morte de cerca de mil pessoas no país durante o assalto do Hamas, a 07 de Outubro do ano passado, com mais de 45 mil civis mortos brutalmente, bombardeados ou nas incursões terrestres das IDF, sendo que a maior parte, 75%, são crianças e mulheres.

Além das mortes, foram registados pelas Nações Unidas e outras organizações internacionais, mais de 100 mil feridos, a grande maioria com lesões permanentes e incapacitantes, num cenário de destruição de mais de 80% do imobiliário do território, com cidades como a Cidade de Gaza sem que um único edifício tivesse ficado de pé, sendo que dos 36 hospitais, apenas um mantém um funcionamento perto do pleno das suas capacidades.

As organizações humanitárias não têm ainda dúvidas de que o número de mortos pode chegar facilmente ao dobro do actualmente reconhecido, o que só se saberá quando, depois de terminar a invasão israelita, forem movidos os infindáveis escombros produzidos pela fúria destruidora de Telavive.

Gaza, note-se, é um pequeno território de 365 kms2, com 40 kms de extensão por 9 de largura, habitado por mais de 2,3 milhões de habitantes, o que faz com que seja um dos locais mais densamente populosos do Planeta.

Segundo o relatório dos MSF, comprovado pelos seus elementos no terreno, os palestinianos são deslocados à força, levados para armadilhas e bombardeados, com a destruição massiva e propositada de áreas urbanas, devastação e desumanização sem paralelo.

O documento, citado pelos media internacionais, nota que, mesmo que a guerra termine hoje, os seus efeitos nas populações de Gaza são ser sentidos de forma excruciante por gerações, seja pelas condições inumanas de vida, deslocamentos forçados...

Em declarações à Al Jazeera, o secretário-geral dos MSF, Christopher Lockyear, afirmou que as forças israelitas desmantelaram intencionalmente infra-estruturas essenciais para a vida das populações, incluindo médicas, e estrangulou os acessos à ajuda humanitária.

"Deparamo-nos com deslocamentos forçados de populações, limpeza étnica, destruição de infra-estruturas, ataques violentos físicos e mentais à população, sendo que tudo isto é inegável por parte de Israel", apontou Lockyear.

No relatório, a organização avança que a descrição feita por um crescente número de especialistas e organizações internacionais é condicente com a presença de um genocídio em curso em Gaza.

Recorde-se que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, o seu antigo ministro da defesa, Yoav Gallant, e o líder do Hamas, Mohammed Deif, têm pendentes mandados de captura internacionais emitidos pelo TPI.

Todas estas acusações são veementemente repelidas pelos aliados ocidentais de Israel, com destaque para os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha, a Fança, Suécia...