A composição do Parlamento moçambicano põe em evidência as fortes contradições da política moçambicana, com a muito contestada maioria absoluta da FRELIMO, a ausência da oposição histórica e a presença do partido que apoiou o candidato presidencial que mais contesta os resultados.
A presença dos eleitos do Podemos levou mesmo Venâncio Mondlane a afastar-se desta força política, chamando "traidor" ao seu presidente, Albino Forquilha, criando um forte atrito entre ambos, tendo a organização política optado por se afastar do candidato presidencial e da sua aposta na contestação dos resultados nas ruas moçambicanas.
Entretanto, quando faltam apenas dois dias para a tomada de posse de Daniel Chapo, o candidato da FRELIMO, que ganhou com quase 70% dos votos, confirmados pelo Conselho Constitucional a 23 de Dezembro mas ainda a serem contestados com vigor e morte nas ruas, veio defender a paz e a estabilidade pedindo a "colaboração do povo" para isso.
Estas palavras de Chapo foram divulgadas pelos media moçambicanos quase ao mesmo tempo que o antigo Presidente Joaquim Chissano, a figura política com maior credibilidade e prestígio no país, veio admitir que "há muitas coisas que não estão bem" em Moçambique.
O ex-PR moçambicano veio dizer, citado pelos media locais, que "ainda há muito para discutir, muitas coisas não estão bem e todos sabem disso", acrescentando que "é preciso encontrar soluções".
"Devemos sempre discutir para encontrar as melhores soluções, as melhores leis que possam ser bem executadas pelas instituições e que isso permita ajudar a unir o país", apontou ainda Chissano.
A par desta troca de palavras e apelos à estabilização da sociedade moçambicana, o candidato derrotado Venâncio Mondlane, quando o Parlamento se preparava para dar posse aos 250 eleitos de Outubro, convocou mais uma greve geral para três dias, a partir desta segunda-feira, 13.
Esta greve geral vai, assim, coincidir com a abertura do Parlamento e com a tomada de posse de Daniel Chapo, o candidato da FRELIMO vencedor das eleições, que terá lugar na próxima quarta-feira, 15.
Desde 24 de Outubro, dia em que o Conselho Constitucional, derradeira instância de apelo, confirmou a vitória esmagadora da FRELIMO e dos seus candidatos, Presidencial, deputados e locais, que Moçambique tem sido palco de violentos protestos que deixaram um rasto de centenas de mortos e feridos, além da destruição volumosa de bens públicos e privados.