O peso das feiras na economia mundial
As feiras internacionais de turismo são hoje um dos principais mercados globais de negócios: estima-se que cerca de 40% dos acordos comerciais do sector tenham origem nestes eventos, segundo relatórios da ITB Berlim e da WTM London. Países africanos como a África do Sul e o Marrocos compreenderam isso há muito, transformando a participação em feiras em verdadeiras plataformas de captação de investimento, criação de rotas aéreas e atracção de cadeias hoteleiras. Em contraste, em Angola, o turismo representa menos de 1,5% do PIB, de acordo com o World Travel & Tourism Council, enquanto a média mundial ronda os 9%. O País possui recursos naturais singulares, diversidade cultural e uma marca em consolidação, Visit Angola, mas ainda carece de uma estrutura económica e comercial capaz de transformar esse potencial em resultados tangíveis. O desafio, hoje, não é de imagem, mas de execução: criar um pipeline real de oportunidades, preparado e coordenado entre o sector público e o privado, para que a promoção internacional se traduza efectivamente em investimento, emprego e receitas para o país.
A rota internacional de Angola
Ao longo de 2025, Angola marcou presença nas principais feiras internacionais de turismo: FITUR (Madrid), WTM Africa (Cidade do Cabo) e INDABA (Durban), reforçando a visibilidade do destino e testando a articulação entre o sector público e o privado. Esses eventos, reconhecidos pela Organização Mundial do Turismo como motores de negócio, geram anualmente mais de 40 mil reuniões B2B e cerca de 20 mil milhões de dólares em transacções, segundo dados combinados da ITB Berlim e da WTM London (2024). Funcionam, hoje, como verdadeiras plataformas de investimento e diplomacia económica.
O percurso internacional de Angola culminará em Março de 2026, quando o País assumirá o papel de País-Anfitrião da ITB Berlim (3 a 5 de Março), o maior evento mundial do sector. Entre Janeiro e Maio deste ano, o calendário inclui ainda a FITUR (21-25 Jan), a BTL (12-16 Mar), a WTM Africa (13-15 Abr) e a Africa"s Travel Indaba (11-14 Mai), todas oportunidades para consolidar parcerias e medir resultados.
Dentro dessa rota, o ponto de partida nacional será a BITUR, em Luanda, prevista para o segundo semestre de 2026 (data a confirmar). A feira deve evoluir para mais do que um evento expositivo: tornar-se um verdadeiro espaço de aprendizagem, onde as empresas angolanas estruturam produtos, treinam negociações e criam cultura de resultados.
Com a aproximação da ITB, o desafio já não é aparecer, é estar preparado. Angola precisa chegar às feiras com propostas claras, contactos em andamento e um objectivo comum: transformar promoção em negócio. O sucesso não depende do tamanho do stand, mas da qualidade das parcerias e da capacidade de transformar cada contacto em oportunidades reais. No fim, é nas feiras, e não nos discursos que se vê quem está pronto para fazer negócios de verdade.
BITUR: o ponto de partida interno
Realizada em Outubro de 2025, em Luanda, a BITUR é hoje o espelho interno do turismo em Angola. Ainda não tem dimensão internacional, mas é justamente aí que começa o desafio: criar uma cultura de feiras com objectivos comerciais claros, onde o foco deixe de ser apenas presença institucional e passe a ser gerar negócios, parcerias e oportunidades reais.
Até aqui, a participação nas feiras tem sido sobretudo política e expositiva, muitos stands bonitos, pouca oferta estruturada. Falta transformar esse palco num espaço de conteúdo económico, com agências de viagens, companhias aéreas, rent-a-cars, operadores turísticos, hotéis e empresas de tecnologia a apresentarem produtos e preços definidos. É nesse ambiente que o mercado aprende a competir, a negociar e a medir resultados.
A BITUR deve tornar-se o espaço onde o turismo angolano deixa de ser apenas discurso e passa a ser negócio. É nela que empresas, províncias e instituições públicas precisam de unir esforços para transformar o turismo numa actividade que gera receitas, emprego e oportunidades concretas. Mais do que uma vitrine, a BITUR deve ser o lugar onde Angola aprende a fazer negócios dentro de casa, antes de se apresentar ao mundo.
Preparação e execução: o teste real
O verdadeiro retorno das feiras de turismo não se mede pela presença, mas pela preparação. Um stand só gera resultados quando há catálogos bem produzidos, portefólios de produtos, roteiros estruturados e pacotes de viagem com preços definidos. É aí que começa a diferença entre ser visto e fazer negócio.
Para que Angola transforme visibilidade em investimento, é essencial um trabalho conjunto entre a TAAG, as cadeias hoteleiras, os operadores turísticos, os bancos e as províncias, com objectivos claros e produtos prontos para o mercado. O sector precisa de planeamento e execução, não apenas de representação.
Cinco eixos podem fazer essa mudança acontecer:
1. Trabalhar em conjunto, entre ministérios, empresas e províncias, com um plano claro para cada feira;
2. Levar produtos prontos a vender, pacotes de viagem, preços definidos, contactos certos;
3. Usar as feiras como palco de negócio, onde se negociam rotas, investimentos e novas parcerias;
4. Comunicar com profissionalismo, mostrando resultados e acompanhando o que foi alcançado;
5. Capacitar as equipas, para que saibam negociar, dar seguimento aos contactos e fechar negócios.
Países como a África do Sul, a Tanzânia e o Egipto provam que, quando as feiras são tratadas como mercado e não como cerimónia, o resultado aparece: contratos assinados, novas rotas e mais investimento.
Sem continuidade e acompanhamento, o risco é sempre o mesmo, voltar para casa apenas com fotografias e boas intenções.
Conclusão: de promessa a exemplo
A ITB Berlim 2026 será o primeiro grande teste do novo ciclo de reposicionamento iniciado com a marca Visit Angola - The Rhythm of Life, lançada no fim de Setembro e seguida, a 16 de Outubro de 2025, pela confirmação de Angola como País-Anfitrião da maior feira de turismo do mundo.
Este movimento soma-se a medidas estruturais que reforçam o papel de Angola no mapa turístico internacional: a isenção de vistos para cidadãos de 98 países, a inauguração do Aeroporto Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, e a certificação do Aeroporto da Catumbela para voos internacionais, além do crescimento das escalas de cruzeiros e do regresso do Rovos Rail, que voltam a ligar o País ao mundo.
Agora, é preciso garantir que tudo isto se traduza em resultados visíveis, mais visitantes, mais negócios, mais empregos e mais rendimento para as famílias. O turismo só vai valer a pena quando sair dos discursos e se tornar em coisas simples e reais: oportunidades, crescimento e bem-estar para as pessoas. Quando o turismo gerar resultados que se sintam no dia-a-dia, mais trabalho, mais negócios e mais orgulho em ser destino, Angola deixará de ser promessa e tornar-se-á exemplo.n
*Consultor independente e especialista em hotelaria, turismo e desenvolvimento económico
Angola na rota do investimento turístico: o verdadeiro desafio da ITB 2026 - De montra institucional à plataforma de negócios
Nos últimos anos, Angola tem vindo a marcar presença em feiras internacionais de turismo como a FITUR, em Madrid, a BTL, em Lisboa, a INDABA, em Durban, e a WTM Africa, na Cidade do Cabo. Esses eventos deixaram de ser apenas montras promocionais, são hoje plataformas de investimento, parcerias e diplomacia económica, onde se fecham negócios e se consolidam destinos. No entanto, a presença angolana tem sido, sobretudo, institucional, marcada por stands vistosos, discursos e boa vontade, mas ainda com pouca oferta estruturada e negociação efectiva. Em 2026, Angola será País-Anfitrião da ITB Berlim, o maior palco mundial do turismo. O verdadeiro teste será transformar essa visibilidade em resultados concretos. No turismo, a diferença entre promover e desenvolver mede-se no impacto económico que o país consegue gerar.

