As empresas de grande dimensão criam oportunidades de negócios que sustentam os pequenos empreendimentos. Quando se faz referência ao emprego indirecto, é o que surge em associação as oportunidades criadas pelos grandes projectos. Na crise de 2008, acompanhamos a intervenção dos Governos para salvar grandes empresas, pois, se assim não fosse, a sua falência levaria muitas outras pequenas empresas à ruína, surgindo a expressão "muito grande para falir, ou too big to fall". Referi num artigo sobre o Caminho de Ferro de Benguela, que em 1973, empregava mais de 16 mil trabalhadores directos. Já os Indirectos, deviam ser aos milhares. Estou recordado das laranjas que se comprava na estação do Caimbambo, dos morangos na Estação do Chinguar e dos bolos da Dona Iria em Silva Porto Gare, hoje Cunje. Quantas pequenas empresas prestam serviços, por exemplo, às grandes empresas? Essas empresas terceirizam serviços que vão desde a estiva, frete, catering, formação, serviços de consultoria diversa, etc. Portanto, em torno das grandes empresas cria-se uma teia de pequenas e médias empresas que em conjunto dinamizam a economia.
Vontade de criar negócios não falta aos africanos. Uma sondagem regular do African Youth Survey, sugere que 71% dos jovens africanos planeiam iniciar um negócio. Segundo ainda essas sondagens, mais de um quarto de mulheres adultas começaram ou estão a iniciar, um negócio - a maior percentagem de qualquer continente, de acordo com dados citados pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Entretanto, para esses sonhadores, muitos permanecem apenas no sonho, ao contrário de seus congéneres de outros continentes. Por que essas iniciativas, muitas delas ficam eternamente no papel, e se algumas saem do papel, ou da cabeça dos seus autores, apenas ficam-se pelo mercado informal? Os factores limitantes do sucesso empresarial são também os mesmos que enumerei no artigo sobre a transformação estrutural das economias africanas: os baixos níveis de instrução; a instabilidade macroeconómica, que inibe a poupança; as elevadas taxas de inflação, que elevam as taxas de juros para níveis proibitivos para negócios; a fragilidade das infra-estruturas (estradas, centrais de fornecimento de água e electricidade, etc.); e, não menos importante a fragilidade dos Estados, que acaba por ser a consequência de todos os outros factores impeditivos.
Entretanto, sendo africano e olhando para a minha própria trajectória de vida, não tenho dúvidas de que o maior factor impeditivo é a instrução versus educação. O que muda o destino das pessoas é a educação, pois ela permite uma melhor interpretação das variáveis deste mundo, cada vez mais complexo, alterando, para o seu benefício, o meio em que vivem. A pessoa educada, com qualificações, tem maiores probabilidades de encontrar um emprego remunerado ao nível das suas competências. Os países que estão a vencer o desafio do desenvolvimento investiram com seriedade na educação/instrução dos seus cidadãos. Na realidade africana, e angolana em particular, as oportunidades de emprego intensivas em conhecimento ou tecnologia, são ocupadas por expatriados, pois os nacionais não possuem competências necessárias, resultando em que 80% dos empregos são precários, sendo absorvidos pelo mercado informal.
Hoje, a produção em escala é a condição para viabilizar investimentos. Tem-se ouvido falar de intenções de investimentos, que se ficam mesmo pelas intenções, pois, depois de feitos os correspondentes estudos de mercado, conclui-se que o projecto, nas actuais condições, não é viável. O mercado é condição indispensável para a tomada de decisões de implantação de unidades de produção em grande escala. Uma população próxima de 40 milhões de habitantes teria condições de possuir um grande mercado de consumo, não apenas de bens alimentares, mas de outros produtos de transformação industrial. Não é o caso de um país como Angola, em que dos prováveis 40 milhões, talvez nem 3 milhões, podem ser considerados de classe média, que possam fazer consumos de produtos intensivos em tecnologias, que poderia ser então o chamariz de projectos de dimensão média, que gradualmente iriam evoluir para projectos de grande dimensão.
A diversificação da economia, como diz e bem, o Professor Alves da Rocha, é uma totalidade sociológica, o que significa que implica a transformação da estrutura social, impactando as diversas formas de vida. Uma população que sobrevive com 2 dólares por dia, não cria demanda de produtos de alto consumo, fica-se pelo quilograma de fuba, ou pelo pacote de massa! Consequentemente, quem produz fuba ou massa só pode produzir os volumes demandados, inviabilizando a produção em grande escala. Olhando para os registos, as discussões sobre diversificação económica em Angola, datam dos anos 1977, e os resultados ainda são muito tímidos. Isso explica, concomitantemente, a razão pela qual a África não tem nenhuma empresa entre as 500 maiores do mundo. Revendo a lista das 100 grandes empresas de África que facturam mais de 5 mil milhões de dólares por ano em 2022, Angola aparece apenas com uma empresa, a Sonangol. A África do Sul domina massivamente a lista com mais de 23 empresas, seguindo-se a Nigéria com 3, todos outros países, mesmo os do Magrebe, como a Argélia e Egipto, apenas apareciam com uma ou duas empresas neste nível de receitas.
Tenho viajado pelo país, particularmente, na região Centro e Sul. Constato que as actividades das pessoas são feitas sempre da mesma maneira. Por exemplo, ao longo da Estrada Nacional 105, que liga Benguela - Lubango, vende-se o leite azedo (o chamado mahini), sempre da mesma maneira, embalado em garrafas de água, os vendedores não têm conhecimento para fazer outros aproveitamentos do leite bovino. Os pais fizeram dessa forma, os filhos fazem-no da forma como o pai fez há anos, assim por diante! Passa-se o mesmo com as frutas. Na estrada Lobito-Alto Hama, entre Balombo e Monte Belo, vende-se o ananás. Uma quinta custa 1 500 Kwanzas, quando nos mercados do Lobito, uma unidade custa aproximadamente 1 000,00 Kwanzas. Dezenas de raparigas lutam por uma oportunidade de venda do mesmo produto, que também compram para o revender, sem qualquer transformação, ganhando uma miséria, o que perpétua a sua condição de pobreza. Verifico também que quando é época de uma determinada fruta, todos os vendedores vendem o mesmo produto, se é época de mangas, todos os vendedores vendem mangas, é uma luta sem precedentes, cada um a lutar por si, não importando se está a passar por cima da outra pessoa. Acontece o mesmo com as práticas agrícolas, há resistência de adoptar novas práticas, porque as pessoas têm dificuldades de seguir as instruções. A única razão por que essas pessoas não fazem diferente, não assimilam práticas modernas para desenvolver, quer a agricultura, como a pecuária, é pelo baixo nível de instrução, como consequência, a sua actividade não progride de pequena à grande actividade.

A transformação da estrutura económica que tanto se propala em África está condicionada à transformação da estrutura societária. Por exemplo, o agricultor brasileiro, paraguaio, argentino, canadiano e outros, dos nossos dias, não são mais aqueles agricultores que esperam ou olham para o céu para preverem se a chuva cai ou não naquele dia e nos dias subsequentes. São pessoas com conhecimentos que para planearem com alguma assertividade as suas actividades, equipam-se com estações meteorológicas portáteis, permitindo-os preverem as quedas pluviométricas, essenciais para a produtividade das suas culturas, com alguma precisão. Igualmente, usam sementes e não grãos, para as suas sementeiras, o que faz uma diferença enorme na rentabilidade das suas culturas. Pessoas com capacidade de assimilar novas tecnologias de produção, ou de outra natureza, podem inovar e trazer para o mercado novos produtos e/ou serviços, assim expandir as suas actividades, saindo de pequenas empresas a empresas de grande dimensão! Mas, essa capacidade deriva de esforços na busca de novos conhecimentos, através da investigação científica de base e aplicada, sem o qual, o mosaico empresarial continuará a ser dominado por empresas do sector informal, com muito poucas do sector formal, sem uma efectiva capacidade de criação de empregos e, consequentemente de riqueza, porque o que é pequeno não é impressionante, é improdutivo!