João Lourenço já esteve no Cunene, Huambo, Cabinda, Luena, Saurimo, Bengo e fez-se representar pela Vice-Presidente no Lubango (sete no total). Adalberto Costa Júnior esteve em apenas duas: Cuando Cubango e Cabinda. Vêm com a desculpa de que o presidente do MPLA se aproveita da condição de Presidente da República e que Adalberto não tem dinheiro. Desculpa esfarrapada; se fosse isso, faria pelo menos umas poucas, pois dinheiro para pagar bilhetes de passagem ou combustível dos carros tem, de certeza. E gasta mais dinheiro nas viagens pelo exterior que gastaria para o interior do País. A verdade verdadeira é que parece não existir nem plano, nem estratégia, nem vontade de ir ao encontro dos eleitores, olhar-lhes nos olhos e fazer passar a sua mensagem. Preferem ficar-se pelas redes sociais e ir dizer aos estrangeiros que já ganharam outra coisa é fraude. Ainda bem que a própria comunidade internacional parece ter-se apercebido de que a fraude é o "coordenador da FPU", que nunca existiu e que, em vez de fazer campanha junto dos seus eleitores, faz campanha a eles que nada têm a ver com os assuntos internos de Angola...
O MPLA tomou a iniciativa de fazer uma pré-campanha, depois imitada por outros partidos. Mas ele tinha e tem um objectivo estratégico: dizer aos eleitore/as o que fez; o que não fez, as razões de não ter feito; e o que pretende fazer para a renovação do voto de confiança na sua governação.
O discurso nesta pré-campanha assenta no facto que apenas teve pouco mais de metade do mandato para implementar os seus planos e materializar as promessas eleitorais. O resto do tempo foi consumido pela pandemia da Covid que, para além disso, trancafiou as pessoas em casa impedindo-as de trabalhar - o que levou empresas a fechar e empregos a se perderem. Desviou os recursos que serviriam para o desenvolvimento socioeconómico para a compra de medicamentos, materiais de biossegurança, construção de hospitais de campanha e outras medidas que fizeram que Angola esteja hoje entre os selectos 10 países menos afectados pela pandemia em termos de casos e mortes, sendo essa a razão principal pela qual os programas inicialmente previstos em 2017 não puderam ser cumpridos. Porém, tão logo a pandemia foi considerada controlada, rapidamente se retomou a dinâmica do investimento no desenvolvimento do País, como provam as realizações alcançadas nos últimos cerca de 12 meses.
É por isso que o discurso do MPLA nesta pré-campanha é, sobretudo, de esperança! O Executivo por si suportado, que teve o amor à Pátria, criatividade e disciplina técnica para proteger as vidas dos angolanos e angolanas de uma pandemia completamente inesperada, é perfeitamente capaz de continuar a liderar a barca da Nação, rumo ao desenvolvimento, à prosperidade e à paz, agora em mares mais calmos. É isso que o Presidente João Lourenço assumiu dizer olhos nos olhos, em conversa ao pé do ouvido a cada eleitor e cada eleitora.
Quem é sério faz propostas sérias e acha que lida com pessoas sérias, não se esconde atrás de desculpas nem se comunica através de interpostas pessoas. Vai ele próprio ter com as pessoas e diz ao que vai. De viva voz e peito aberto, com o coração e com a alma. É esse o discurso que João Lourenço se propôs fazer; é por isso que ele está a viajar para todas as províncias, que vai completar até terminar a campanha eleitoral.
Não vemos os outros partidos políticos levarem as suas campanhas eleitorais tão a sério, nem apresentando um discurso tão claro como o MPLA está a fazer - e isso já começa a ficar visível a toda a gente. Especialmente para a comunidade internacional de que querem fazer testemunha da alegada "fraude". E que já se vai perguntando meio divertida o que anda a fazer nas estranjas um candidato que devia estar em campanha no seu País. No seu jeito diplomático, o caso já se torna anedótico nos círculos diplomáticos aqui e lá: o homem diz que já ganhou, o que falta agora são uns aplicativozinhos de espionagem e uns observadores, "conterrâneos europeus", ao invés dos "primos africanos" e... já está!. Não é necessário campanha(!)...
Essa percepção de falta de seriedade é sentida também no interior; em digressão na semana passada pelo Huambo, meu berço que conheço bem, amigos e parentes do maior partido na oposição lamentavam que, enquanto seguem todos os sábados o líder do partido concorrente indo de província à província, o seu presidente não vai ao Huambo desde que se foi apresentar em 2019! E se perguntavam se não seria um sinal de desprezo "por valorizar mais o voto de Luanda". Ora, sendo o Huambo a pérola do Planalto Central onde a UNITA diz ter o seu bastião, essa negligência diz tudo sobre a (pouca) seriedade com que esses partidos encaram a pré-campanha que eles mesmos assumiram a reboque do MPLA (que sabe muito bem porque a quis fazer). Das outras províncias nem se fala: salvo uma ou duas, a oposição ainda não despertou, é como se não existisse.
Dito isto sobre discursos e estratégias nesta pré-campanha, resta falar sobre a comunicação semiótica nela usada: os gestos, os símbolos o dar as mãos e mostrar a cara.
Ir ao encontro das pessoas, dos eleitores no caso, é um gesto essencial para quem faz o pedido. Quem pede - votos no caso - sai da sua casa e vai ao encontro daquele a quem vai pedir. Não manda outra pessoa. Diz ele próprio o que quer, não manda recados. Quem dos candidatos está a fazer isso nesta pré-campanha, deixo a resposta para os leitores e leitoras.
Dizer o nome e mostrar a cara. Quem pede votos ao povo vai junto dele, diz como se chama, mostra a cara e olha nos olhos das pessoas. Os olhos são as janelas da alma, diz a sabedoria popular. Isso é preciso para criar confiança e isso é o que o MPLA e João Lourenço estão a fazer. Temos casos nesta pré-campanha que o maior partido na oposição ainda não consegue dizer bem se é UNITA ou FPU; e o que é essa tal coisa a que deram esse nome. Deverá ser por isso que ainda não fazem campanha pelo país; "ainda" não sabem o que são nem o que vão dizer...
Seja como for, as campanhas eleitorais são como os jogos de futebol: as contas fazem-se no fim. Cada equipa monta a sua estratégia, faz o seu jogo, defende a sua baliza e tenta marcar golos na do adversário. E no fim do jogo, contam-se as espingardas, ou melhor, os golos. Aos adversários resta-nos desejar boa sorte porque o MPLA não confia (só) na sorte. Mas no trabalho abnegado, persistente e disciplinado. Noutras latitudes, e a experiência em Angola mostra isso também. Esse é o único caminho seguro para ganhar eleições, não-bazófias e gabarolices nas chancelarias internacionais e redes sociais. Ou ameaças veladas de arruaças caso perca, o que a depender das calinadas que se vêm sucedendo umas atrás das outras, é o mais certo que acontecerá.
*Membro do Comité Central do MPLA