Em escritos anteriores, pouco depois da declaração pela Organização Mundial da Saúde de evolução da epidemia iniciada na China, na cidade Wuhan, em "pandemia", chamei a atenção para o facto de o mundo, em particular os cientistas da área da virologia, infecciologia, epidemiologia e estatística, terem sido apanhados de surpresa "com as calças na mão", embasbacados e atemorizados com o aparato do teatro operacional dos chineses de Wuhan e das mediáticas e espectaculares covas mortuárias, em enormes filas de presumíveis falecidos por "Covid-19", nome por que se baptizou a doença.

Em Maio do ano passado aquando de uma das minhas elucubrações com a epígrafe "Eu o Ancião e a COVID-19", escrevi que "este vírus muito contagioso e agressivo cuja morbilidade e agressividade se assemelha ao de outros vírus (sarampo, dengue, chikungunia/katolotolo, febre amarela, zika, SARS, Mers e tantos mais) tem um ciclo de vida cujo destino é ir infectando (por vagas), causando algumas mortes (entre os anciãos e os menos velhos com comorbilidades), perdendo progressivamente agressividade, tornando-se endémico e sazonal" e comportando-se como uma banal gripe. É, aparentemente, o que se está passar no nosso país e na Europa (com temperaturas primaveris a subir e a contagiosidade a descer) em que os índices de transmissibilidade, o tal Rt, tem vindo a baixar a níveis considerados aceitáveis e tranquilisantes, abaixo de 1,0. Mas se os testes PCR só fossem feitos aleatóriamente e apenas: (i) a quem, em consulta externa numa instituição de saúde apresentasse sinais ou sintomas do trato respiratório e internados se necessário em unidades hospitalares equipadas para o efeito; (ii) a residentes em lares da terceira idade; (iii) a anciãos e a pessoas com doenças crónicas que o exigissem. Se assim se fizesse, esse índice, estou certo disso, seria igual a Zero (0,0). Lembro aqui e agora o caso paradigmático da longa fila de 50 ambulâncias num grande hospital de nível superior em Lisboa, Portugal, com pacientes há mais de 10 horas à espera de serem atendidos; foi decidida uma triagam dentro das ambulâncias e nas 50 à espera só seis tinham doentes necessitados de assistência naquela unidade.

Mas aqui em Angola, o dados em baixa (100 positivos/100 Mil) em março passado que nos mostravam todos os dias e que nos deveriam tranquilizar, deveram-se provavelmente ao escasso número de testados em todo o território nacional por razões aparentemente logísticas e operacionais. A talhe de foice lembro o que escrevi em tempos: não seria intelectualmente mais honesto que o Ministério da Saúde, ao apresentar a estatística diária da Covid-19, mostrasse também a das patologias "endémicas" que nos assolam (paludismo, tuberculose, diarreias agudas, broncopneumonias, diabetes, cancro, Sida, acidentes vasculares cardíacos e cerebrais, etc.) para, comparativamente, se aquilatar e julgar das diferentes letalidades?

Agora estão aí as terrificantes "variantes"e voltou a testar-se em força; e os valores diários entre nós são agora de 3 dígitos com um Rt acima de 1 o que faz prever e temer que se volte ao índice elevado de contagiosidade do ano passado o que parece ser o caso. Mas, de fevereiro para cá, por relaxe da testagem, baixaram os resultados da positividade e fez-se "vista grossa" ao comportamento das pessoas nos mercados, nos transportes públicos, nos actos festivos familiares, nos óbitos, nos cultos religiosos e outros ajuntamentos onde os populares fizeram e fazem figas ao uso da máscara, ao confinamento e ao distanciamento permitindo ao virus propagar-se e ao povo adquirir espontânea e naturalmente a chamada "imunidade de rebanho". Entretanto, o receio dos dirigentes é que esse não cumprimento do Decreto Presidencial tenha como resultado uma hecatombe de doentes e de mortes "por Covid". Mas, aparentemente, os hospitais não estão a regorgitar de doentes com "covid", as UTI funcionam sem grande pressão e os avantajados hospitais de campanha (os covidérios) instalados de toda a urgência para acolher centenas de doentes e assintomáticos com Covid estão mais ou menos "às moscas" e a mortalidade "por Covid" está em média a 1 por dia ou menos. Mas, relativemos essa mortalidade: menos de 600 falecidos com e/ou por coronavírus em cerca de 21.000 positivos em todo o país, num universo, diz-se, de 35 Milhões de habitantes sendo o maior número em Luanda, com 7 a 8 Milhões. Quantos morrem, diariamente e anualmente, de ou com cada uma das patologias correntemente endémicas entre nós? É bom saber e divulgar! Deixemos de incutir e exacerbar o medo e o terror com o repetido "a Covid mata" e "a saúde é o bem mais precioso, preservemo-lo".

Mas o povo, preocupado e ocupado na labuta diária: (i) para sobreviver e obter com o que sustentar a família, em particular os filhos; (ii) com a falta de luz, de água potável e a não potável que se lhe aparece e paga caro; (iii) com a venda ambulante em constante medo da polícia; (iv) com a insegurança nos bairros e mesmo na via pública; (v) com medo da morte, mas mais do feitiço e da "tala", prefere correr o risco de apanhar o vírus. Assim, os mercados estão a abarrotar de vendedores e compradores, os transportes públicos lotados e sobrelotados, as máscaras não usadas ou "incorretamente" usadas. Enfim, parece ser uma bagunçada; mas é a luta objectiva pela vida e pela sobrevida a que se deve dar maior atenção que a que se está a dar à Covid-19.

E como é, agora, com a tal de "variante em circulação comunitária"? Acabe-se com essa bagunça de lesa Decreto Presidencial! Que se reforcem e se endureçam as medidas de fiscalização policial pois a polícia "não está aí para distribuir chocolates e rebuçados" (Ministro dixit). E que importa que se atente contra os direitos cívicos individuais: encerrem-se recintos de diversão e quintais familiares; confisquem-se instrumentos musicais e de reprodução sonora; apliquem-se pesadas multas e na eventualidade de resistência cadeia e julgamento? Estamos onde?

Mas, para complicar e fazer possívelmente recuar os decisores político-sanitários no afrouxamento das medidas dos decretos, descobriu-se, um pouco por todo o lado, dezenas de "variantes do SARS-COV-2", que se têm mostrado, diz-se, mais contagiosos. Como resultado disso nos países onde circulam "variantes", mormente aqui e em Portugal -nosso "alter ego"-, prolonga-se por mais 15 dias o estado de emergência e de calamidade convencidos que estão de que só dessa maneira se conseguirá impor um alto lá, um STOP, à imparável e lenta progressão do SARS-Cov-2. Isso só irá acontecer quando se instalar entre a população, natural e paulatinamente, a imunidade "de rebanho ou de grupo" ("herd immunity") através dos mecanismos de defesa humoral (anticorpos) e celular (linfocitosT :CD4 e CD8)), processo este que se vai adquirindo com o contacto não só com este vírus mas com todos os microorganismos (virus, bactérias, fungos e outros) que aos milhares de milhões connosco cohabitam, dentro e fora dos nossos corpos.

E, atenção à "variante sul-africana" a circular entre nós na comunidade e às outras variantes a crescerem um pouco por todo o mundo, como cogumelos (Brazil, EUA, algures e nenhures!); são mais infectantes e agressivos, até para os de menor idade (jóvens e crianças) como se propala com ênfase e mimetismo nos meios de divulgação massiva aqui e nos midia internacionais, no geral sem uma chancela científica séria.

Entretanto, no nosso caso, o comércio formal tem sofrido o contrachoque do "Fica em Casa, do Lockdown", tendo como corolário os despedimentos de pessoal, a dificuldade e o estresse do trabalho e do ensino por internet, a falência técnica e total de empresas, o desemprego, a fome, a criminalidade; por outro lado o povo vive, em enorme percentagem, de uma economia confinada e amordaçada, de comércio informal, vendendo nos mercados oficiais e não oficiais, na rua, ao longo da via férrea, sobre os passeios, onde quer que seja e for, à chuva e ao sol. Enfim uma panóplia de causas e efeitos que nos conduzirá ao caos económico e social se se continuar a decretar "ad aeternum" o estado de calamidade/emergência, sabendo-se o que pensam muitos cientistas, sociólogos e economistas: que esta "pandemia" está a perder naturalmente a sua infecciosidade e virulência devido ao próprio ciclo de vida do vírus e à capacidade inata e adquirida do ser humano de se defender contra as agressões externas tanto as macro como as microbianas.

Na luta contra a SARS-CoV-2 e "variantes", na falta de um medicamento eficaz, apareceram então as tais "vacinas" (terapia genética experimental?) que foram produzidas e estão a ser larga e rapidamente utilizadas em todo o mundo e aqui entre nós. Por outro lado também se ecoa, para aumentar e manter o pânico, o terror, o medo e o cagaço, a "pan-paranóia" em suma, que as variantes em circulação na Europa, nas Américas, em África e algures, se têm mostrado refractárias às 4 "vacinas" actualmente mais usadas (AstraZeneca, Pfizer, Moderna e Johson & Johson).

Como sempre sucede com os novos medicamentos e vacinas, em particular quando produzidos e ensaiados sob pressão e em tempo recorde queimando-se etapas, levantam-se dúvidas e objecções sobre as suas eficácia e fiabilidade, os efeitos secundários imediatos e a distância. Com as vacinas em uso actualmente há muita controvérsia, dúvida e relutância e até repúdio na aceitação da vacinação e na escolha por esta ou aquela marca; mas no que, em geral, se está de acordo é da importância(?)e do imperativo(?) da sua utilização como um dos elementos, se não o único neste momento, para tentar proteger as pessoas do vírus e "salvar vidas", vidas essas importantes mas que são em número muito menor que as que se têm perdido e se escamoteiam no cômputo das ceifadas pelas endemias que nos assolam desde sempre.

Há dias um familiar perguntou-me qual seria o meu plano, a minha estratégia, para se fazer face a esta "pandemia" que, neste momento e aqui no nosso país, se deveria chamar epidemia.

Disse-lhe que, de certeza, não faria o mesmo que tem sido preconizado e feito aqui e em quase todo o mundo. Que agiria como o escrevi numa das minhas elucubrações e que outros médicos também o têm dito e escrito: (i) deixar o virus circular fazendo e desfazendo ondas ou vagas, contaminando e raramente matando; (ii) tratar os sintomáticos de acordo com o quadro clínico (constipação das vias respiratórias superiores e sintomatologia associada): fazer auto medicação ou recurso ao 1º nível dos cuidados primários (posto, centro de saúde); (iii) se febre, tosse, dispneia, procurar o 2º nível dos cuidados médicos (hospital municipal: consulta externa, medicação e ou internamento); (iv) se taquipneia e sinais clínicos de falência respiratória, arritmia cardíaca, febre, cefaleia...: 3º ou 4º nível de assistência: hospital provincial ou central com tecnologia e pessoal médico e de enfermagem treinado em respiração assistida e cuidados intensivos; (v) acompanhamento dos convalescentes das terapias intensivas e agressivas no próprio hospital ou medicamente no domicílio.

Se se seguisse este esquema, mais de 95% dos positivos e sintomáticos teriam sido vistos e veriam as suas queixas evoluir sem necessidade de recorrer aos níveis superiores de atendimento; os hospitais não se queixariam de ter enfermarias a abarrotar de doentes, do cansaço extremo do pessoal e poderiam ocupar-se e tratar outros doentes com patologias graves que estarão a ser preteridos por causa da excessiva atenção dada aos "covid".

Em suma aplicar-se-ia o sistema de escalões, desde os cuidados primários e, sucessivamente, aos níveis seguintes mais e melhor equipados para ir resolvendo os diferentes quadros clínicos que forem necessitando de assistência progressivamente mais diferenciada; escusado será dizer sobre a importância e imperiosidade dos cuidados a ter com a protecção do pessoal tratante.

Esse é pois o modelo, a estratégia, que eu proporia fazer aqui e algures e que não é inédito. Tem sido seguido e aplicado em alguns países mormente aqui em África, com resultados muito satisfatórios quanto à morbidade e à letalidade pelo vírus como quanto ao desenvolvimento económico e social, tão importante para a manutenção e conservação de um bom estado físico, social e mental, em suma, da saúde! E que temos, hoje e aqui, entre nós?