Verifica-se que, sobretudo em Luanda, a violência em contexto escolar ocorre em idades cada vez mais precoces, com um aumento exponencial de casos de agressões verbais e físicas, de fenómenos de bullying e cyberbullying, consumos de bebidas alcoólicas, drogas e afins. Tudo isso potenciado pela utilização massiva das redes sociais.
As queixas não se limitam apenas a incidentes isolados, são sintomas de um problema mais profundo que afecta a comunidade escolar como um todo. A sensação de insegurança permeia os corredores das instituições de ensino, gerando um clima de apreensão entre alunos, pais e professores. A ausência de medidas efectivas mais duras, para combater a violência, compromete o aprendizado, bem como as relações sociais dentro e nos arredores do recinto escolar.
Nas situações de maior gravidade, a violência entre estudantes transcende os muros das escolas, afectando directamente a comunidade ao seu redor. Um caso recente, que viralizou nas redes sociais, ocorreu nas proximidades de uma escola na Centralidade do Kilamba. Um confronto de grupos rivais de estudantes, com recurso a diversos instrumentos de agressão, como arremesso de pedras e exibição de armas brancas, resultou em ferimentos leves entre os envolvidos e danos materiais significativos de veículos estacionados, incluindo vidros partidos e pára-brisas danificados. Os prevaricadores foram apanhados e conduzidos à Polícia.
A normalização deste tipo de comportamento nas imediações das escolas clama por uma resposta urgente das autoridades e da comunidade. É imprescindível que sejam implementadas medidas eficazes de prevenção e consciencialização, a fim de restaurar a paz e a segurança nos espaços que deveriam ser destinados ao aprendizado e à formação cidadã.
Importa sublinhar que, na Centralidade do Kilamba, um dos problemas mais alarmantes são os assaltos que ocorrem nas paragens de táxi. A identidade dos perpetradores é incerta; muitos parecem ser estudantes, mas é possível que sejam marginais disfarçados com uniformes escolares, como batas e mochilas. Esses indivíduos costumam reunir-se nas paragens ao anoitecer, fazendo-se passar por estudantes, e atacam os transeuntes de forma agressiva, frequentemente armados com facas e utilizando o disfarce académico para não levantar suspeitas.
As principais vítimas destes assaltantes são mulheres e idosos que se tornam alvos fáceis. Os marginais focam-se no roubo de telemóveis, de relógios e de carteiras, sendo essas últimas particularmente atraentes, visto que, muitas vezes, contêm objectos de valor e são fáceis de transportar. É, portanto, importante que se apure se são mesmo estudantes que praticam assalto ou se são marginais disfarçados.
O incidente preocupante que sucedeu no dia 8 de Setembro do ano curso, no Instituto Nacional de Petróleos (INP), na cidade do Sumbe, província do Kwanza-Sul, onde dois grupos rivais de alunos, do 11.º e 12.º anos do ensino secundário, se envolveram em rixa, com recurso à arma branca, pedras e outros instrumentos de agressão, resultando em ferimentos leves num dos envolvidos, expõem a falta de controlo mais efectivo e de regulamento rígido aplicável aos estudantes que promovam a delinquência juvenil no contexto escolar.
A delinquência juvenil, convém sublinhar, é um fenómeno social influenciado por vários factores, como a desigualdade material, a falta de oportunidades, uma educação precária ou essencialmente défices no relacionamento familiar.
A adolescência, por seu turno, é um período de transição entre a infância e a idade adulta. É o momento necessário para adquirir as atitudes, as capacidades, os valores e as competências sociais que possibilitarão a transição bem-sucedida para a idade adulta. É um momento determinante para evitar escolhas e comportamentos que limitem o seu potencial futuro.
O Estado deve exercer um papel relevante no mosaico de soluções. Além de reforçar medidas de segurança, como Brigadas de Patrulhamento nas Escolas, por exemplo, é importante identificar e atacar a raiz do problema. Uma das soluções passa por atrair os jovens para actividades extracurriculares de índole associativa, cultural e desportiva, proporcionando alternativas saudáveis e construtivas para o uso do tempo livre. Em particular, o desporto constitui uma ferramenta importante de inclusão social, e a acessibilidade efectiva à prática desportiva deve ser promovida e alargada.
À guisa de conclusão, as actividades extracurriculares desempenham papel crucial no desenvolvimento de jovens e adolescentes, oferecendo oportunidades para aprender, socializar e explorar novos interesses. Determinante para minimizar, ou acabar de uma vez, a delinquência juvenil e a violência nas escolas.
*Mestre em Linguística pela Universidade Agostinho Neto