Como não foi também aleatória a inauguração desse mega empreendimento há um ano, mais concretamente no dia 10 de Novembro de 2023.
Doze meses depois da sua inauguração, o NAIAAN recebeu, finalmente, quatro voos domésticos provenientes de Cabinda, num misto de alegria e insatisfação.
Dito de outro modo, a promessa feita há um ano só agora foi concretizada, sem que os responsáveis do sector tivessem dado nenhuma justificação aos contribuintes sobre os motivos do prolongado atraso.
A ruidosa imprensa governamental, que, normalmente, não perde a mínima oportunidade de enaltecer, até à náusea, os feitos do Executivo, não se deu ao trabalho de questionar junto do ministério de tutela as causas que estiveram na origem dos sucessivos atrasos.
Assim sendo, o País ficou sem saber quanto perdeu em termos financeiros com a inoperância dos voos, cujo início estava previsto para o primeiro trimestre deste ano. Ficou também sem saber quanto se gastou em matéria de manutenção do edifício que, pelos vistos, não tem sido barata aos cofres do erário.
A recente inauguração dos voos domésticos deveria servir de balanço para avaliar o grau de cumprimento em matéria de transportação de carga. Quantas toneladas de carga das 130 mil previstas foram transportadas? Quais foram os países que mais procuraram os nossos serviços? Quantos voos de carga foram realizados?
Mais inclinada em mostrar o verniz das obras e dar visibilidade mediática aos governantes do que analisar o assunto nos seus mais diversos ângulos, a mídia estatal privou o País de informações importantes sobre o desempenho do aeroporto que foi inaugurado há um ano.
Sintomaticamente, ela minimizou o caso passageiros vindos no último voo de Cabinda terem sido " forçados" a pernoitar nas instalações aeroportuárias devido à falta de comboios e de autocarros públicos depois das 22 horas. A RNA não deu voz aos passageiros lesados, os que passaram uma noite no chão frio do aeroporto, pelo que se limitou a ouvir a versão dos responsáveis do sector.
Deste episódio, infere-se que um aeroporto, por mais moderno ou sofisticado que seja, só é capaz de cumprir cabalmente com o seu objecto social se tiver inserido dentro de um sistema de infra-estruturas de apoio, nomeadamente acessibilidades, meios de transporte intermodais, alojamentos, segurança, abastecimento de aeronaves, serviços de catering, dentre outros.
A falta de unidades hoteleiras e de alojamentos à volta do aeroporto para acomodar os passageiros e as tripulações não deixa de ser preocupante.
Esta situação deveria ser acautelada quando se projectou a construção do Novo Aeroporto, de forma a não comprometer a mobilidade das tripulações das companhias aéreas estrangeiras que, por norma, têm optado por alojar as suas equipas em locais mais próximos dos aeroportos.
Por alguma razão, as operadoras aéreas estrangeiras escolheram o Hotel Alvalade, que fica a 10/15 minutos do Aeroporto 4 de Fevereiro, para alojar os seus tripulantes, ou o Hotel Epic Sana, no centro da cidade, que tem servido, igualmente, de alojamento às distintas tripulações.
A distância de mais de 40 Km entre o novo aeroporto e o centro da cidade levanta, também, questões de segurança, sobretudo para os voos internacionais, alguns dos quais serão operados no período nocturno.
Conhecendo-se os elevados índices de criminalidade, sobretudo a que ocorre na via pública, há razões que alimentam os receios por parte das transportadoras estrangeira quanto às questões de segurança.
Estes factores atrás enumerados poderão comprometer o funcionamento desse aeroporto, que está projectado para movimentar 15 milhões de passageiros/ano, 10 milhões serão turistas estrangeiros.
Para atrair o turismo, não basta ter um bom aeroporto, mas uma série de infra-estruturas que vão desde os recursos humanos, hotéis e alojamentos de qualidade com preços acessíveis, estradas em boas condições, hospitais públicos ou clínicas com preços acessíveis e elevados níveis de segurança.
Sem recurso a uma lupa, chega-se, facilmente, à conclusão de que Angola está longe de competir em matéria de turismo com países como a Namíbia, Zâmbia, RSA ou o Botswana. E como se isso não bastasse, as autoridades angolanas não têm sido capazes de informar a quantidade de turistas que visitou o nosso País no espaço de um ano.
A transferência de serviços para o Novo Aeroporto não se afigura tarefa fácil, havendo mesmo relatos de que as companhias aéreas estrangeiras estarão a opor uma certa resistência.

Verdade ou mentira, o facto é que há ainda muito trabalho de casa por fazer, sobretudo no domínio de acessibilidades, abastecimento das aeronaves, catering e, sobretudo, segurança não só aérea, mas também terrestre.