A liberdade de imprensa enfrenta um declínio alarmante em muitas partes do mundo, alerta a RSF, que diz que a situação se deve em grande medida "à concentração da propriedade [das empresas de comunicação social], à pressão dos anunciantes e financiadores e à ajuda pública restrita, ausente ou alocada de forma opaca".

No que respeita a Angola, o panorama mediático é marcado pela predominância da média estatal. Das 23 estações de rádio oficialmente registradas, somente duas - Rádio Eclesia, ligada à Igreja Católica, e Rádio MFM - são consideradas independentes, diz a RSF.

"Algumas rádios têm tido suas licenças recusadas por não serem próximas do governo. Existem dois canais de televisão públicos e alguns canais privados. Em 2020, o grupo Media Nova, composto pela Rádio Mais, pela TV Zimbo e pelo jornal O País, passou a ser controlado pelo governo. Dos muitos jornais privados que surgiram com o advento da política multipartidária, em 1992, apenas quatro ainda existem em versão impressa. Não há rádios comunitárias no país", refere o relatório.

"Depois de uma aparente abertura em 2017, o Presidente Lourenço restringiu as suas interacções com a imprensa e realiza conferências com acesso muito limitado, sem possibilidade de perguntas. Ele manifesta-se principalmente durante inaugurações e eventos públicos, para os quais somente jornalistas dos meios de comunicação estatais são convidados", refere o relatório, acrescentando que "o acesso a informações públicas e fontes governamentais é extremamente difícil, e a censura e a autocensura continuam muito presentes".

A RSF considera que "o partido no poder está super-representado nos media, especialmente na Televisão Pública de Angola (TPA). Muitos pedidos de licença estão pendentes no Ministério das Telecomunicações, acusado de obstruir as iniciativas independentes".

No que diz respeito ao continente africano, os baixos indicadores económicos, a concentração de proprietários de meios de comunicação social e a pressão dos agentes publicitários prejudicam e comprometem a independência jornalística no continente, consideram os Repórteres Sem Fronteiras.

Segundo o Índice Mundial da Liberdade de Imprensa 2025, a "liberdade de imprensa está a sofrer um declínio preocupante em muitos países africanos". De uma forma geral, a região registou "o maior número de países com indicadores económicos em declínio, uma vez que 80% [dos países] viram os seus resultados económicos baixar."

Diz o relatório que "em muitos casos", os meios de comunicação social estão concentrados em grupos privados "próximos dos detentores do poder e de indivíduos com interesses públicos", o que "compromete a independência editorial das redacções".

Consequentemente, de acordo a ONG, esta concentração de propriedade é "particularmente notória em países como a Nigéria (122.º lugar no ranking), a Serra Leoa (em 56.º lugar) e os Camarões (131.º lugar).

A conjuntura dos media em África é agravada pela dependência das receitas publicitárias, que "geralmente provêm dos orçamentos de comunicação do Estado e das grandes empresas. O sector dos media é também enfraquecido "pela falta de subsídios públicos consistentes e transparentes" e a ajuda governamental "é rara ou mal distribuída".

Além dos desafios de segurança, a ONG aponta que "as pesadas medidas judiciais e administrativas também afectam gravemente a saúde financeira dos meios de comunicação social". Em vários países africanos, as autoridades recorrem ao sistema judicial, ou a organismos estatais reguladores, para sancionar os media.

Os países africanos com pior classificação no índice são o Uganda (143.º), a Etiópia (145.º lugar) e o Ruanda (146.º lugar), que passaram este ano para a categoria "muito grave", e a Eritreia, que detém "o triste recorde das mais longas detenções de jornalistas no mundo", permanece em último lugar.

Os países africanos mais bem classificados são a África do Sul (27.º lugar), a Namíbia (28.º lugar), Cabo Verde (30.º lugar) e o Gabão (41.º lugar).

Mas o panorama no resto do mundo também não é favorável à liberdade de imprensa: Segundo dados recolhidos pela organização, em 160 dos 180 países avaliados (88,9%), os meios de comunicação social só conseguem resultados financeiros estáveis "com dificuldade" e muitos nem sequer os conseguem. "Pior ainda, os meios de comunicação social estão a fechar devido a dificuldades económicas em quase um terço dos países de todo o mundo", como é o caso dos Estados Unidos, da Tunísia ou da Argentina.

Nos Estados Unidos, onde o indicador económico tem vindo a descer nos últimos dois anos, vastas regiões estão a transformar-se em desertos noticiosos.

"Quando os meios de comunicação social enfrentam dificuldades financeiras, entram numa corrida para atrair audiências em detrimento de reportagens de qualidade e pode ser vítimas de oligarcas e autoridades públicas que procuram explorá-los", acrescenta a organização no relatório.

Segundo o relatório, em 34 países houve encerramentos em massa dos seus meios de comunicação, o que levou ao exílio de muitos jornalistas. Isto aconteceu sobretudo na Nicarágua, na Bielorrússia, no Irão, em Myanmar, no Sudão, no Azerbaijão e no Afeganistão, onde as dificuldades económicas agravam os efeitos da pressão política.