O barril de Brent, referência maior para as ramas exportadas por Angola, está a "milílitros" de chegar ao valor médio escolhido pelo Governo angolano para o OGE 2026 e a razão é a paz na Ucrânia estar, na perspectiva dos mercados, a "milímetros" de ser alcançada.
Há já algumas semanas que o processo de paz mediado pelos Estados Unidos para a Ucrânia e as notícias que este tem gerado, é o "motor" que faz mexer os mercados petrolíferos e o resultado, mesmo sem haver ainda resultados palpáveis, já se faz sentir.
Negativamente. Porque, olhando para os gráficos esta quarta-feira, 26, essa realidade pode ser medida em muitos cêntimos de USD diariamente nas últimas semanas, tendo mesmo chegado ao valor mais baixo das últimas cinco.
O barril de Brent estava, perto das 09:30, hora de Luanda, a valer 62,3 USD, uma perda de 0,30% face ao fecho da anterior sessão, e se se pensar que a guerra no leste europeu tem sido a chama que ilumina os mercados por estes dias...
... o mais certo é que as más notícias para as contas públicas nacionais ainda não tenham acabado. E nem sequer é preciso usar o valor de referência do OGE ainda em vigor em 2025, que é de 70 USD, basta o que só entra em vigor a 01 de Janeiro próximo.
E pode ficar em risco de ter de ser mexido mesmo antes de existir de facto, se os marcados continuarem a valorizar mais que tudo o resto a possibilidade, porque é isso que significa o fim da guerra, de o crude russo voltar a encharcar as trincheiras da oferta...
... quando é evidente, basta revisitar as perspectivas das várias organizações internacionais, que, para este ano, o crescimento global vai permanecer aproximadamente nos 3,2%, valor igual ao do ano passado, mas com uma descida ligeira esperada para 3,0% em 2026.
Com a economia mundial a mostrar escasso vigor para o advir breve, e com a ameaça sempre robusta de a Rússia voltar livremente aos mercados com os seus mais de 11 mbpd, sem as restrições impostas pelas sanções de guerra acuais, o "Outlook" é claramente negativo para a manobrabilidade imediata do Ministério das Finanças angolano.
E este cenário é ainda mais "vermelho" quando se sabe que o buraco entre a oferta e a procura está a alargar-se já há algum tempo, fazendo ruborescer as preocupações dos países mais dependentes das exportações petrolíferas, como é o caso de Angola.
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, em Angola, como, de resto, noutras dezenas de países em todo o mundo, este momento...
... é mais uma razão para não se perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora ligeiramente acima do OGE 2026, que contempla um ajustamento em baixa deste valor, 61 USD, valor conservador mas aconselhável, atendendo aos altos e baixos globais...
Ainda assim, Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente â beira de 1 milhão de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

