Com os governos por detrás deste apelo estão o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que na passada semana se mostraram concordantes com a necessidade de aliviar os países em maior stresse face ao pagamento das suas dívidas, embora sejam acusados de não estarem a dar o exemplo.

Na linha da frente dos países em maior sufoco estão os mais dependentes da exportação de matérias-primas, especialmente o petróleo, que foram severamente afectadas pelos efeitos devastadores da pandemia na economia global, nomeadamente as grandes potências planetárias que deixaram de consumir crude como antes da crise, pressionando o seu valor em forte baixa, mais de 60% desde o início do ano.

Angola, que é um desses países, tem em mãos, segundo algumas consultoras que elaboraram relatórios sobre a situação do país, o risco de default se não conseguir renegociar a sua dívida externa, ou se o crude não se valorizar fortemente em breve.

Mas ainda não é conhecido um posicionamento de Luanda face a esta expansão continental dos países que não escondem estar a apelar para esse alívio no pagamento dos juros face aos seus compromissos.

Apesar de o número de casos oficialmente reconhecidos, Angola começa a sofrer gravemente o impacto desta pandemia, como é disso exemplo a diminuição da actividade em Cabinda por parte da petrolífera norte-americana Chevron.

E o país está a ser listado entre aqueles que poderão ser forçados em breve a uma renegociação da sua dívida, especialmente com os seus maiores credores, nomeadamente a China, a quem Luanda deve mais de 23 mil milhões de dólares, segundo as informações oficiais mais recentes.

E é ainda um exemplo do que está a justificar a posição do FMI e do Banco Mundial, tendo a directora-geral do Fundo, Kristalina Georgieva, recentemente apelado a que sejam repostos, embora de forma mais abrangente, os mecanismos usados durante a epidemia de Ébola em 2014, que permitiram aliviar a pressão da dívida sobre os países mais afectados.

E para os países mais frágeis, com menor capacidade de resposta à pandemia, mais empobrecidos e sem meios para se organizar, o alívio deverá mesmo chegar a um perdão alargado da dívida.

Em cima da mesa está a urgência dos credores face a este apelo, que poderá ajudar o continente a suportar os tempos tempestuosos que se aproximam à medida em que a pandemia se entranha de forma mais profunda em África, geografia que a OMS mais tem alertado para o risco de uma tragédia em construção.

Segundo o The Guardian, David Malpass, do Banco Mundial, clamou igualmente pela suspensão imediata de todos os pagamentos dos países mais pobres, apelando directamente a estes países que assumam políticas de mercado livre, terminando com os subsídios e regulamentações nacionais, o que pode ser lido como um recado para países como Angola que, anualmente, gastam milhões, no caso nacional, mais de 1,3 mil milhões USD, na subsidiação aos combustíveis, tendo sido fortemente criticado por estar a aproveitar uma crise grave para impor uma ideologia económica extrema, especialmente por Tim Jones, chefe da Jubilee Debt Campaign, uma organização britânica que luta globalmente contra a escravidão imposta pela dívida aos países em desenvolvimento pelas maiores potências económicas do planeta e organismos financeiros internacionais, como o FMI.

Tim Jones acusa o FMI e o BM de estarem a aproveitar um tempo em que os Estados mais são chamados a intervir para procurarem impor uma ideologia extrema, exigindo antes que estas organizações dêem o exemplo, anulando as suas dívidas aos mais carenciados.

Segundo cálculos da Jubilee Debt Campaign, os 76 países mais pobres deverão ser obrigados este ano a pagar 18,1 mil milhões de dólares a outros países, 12,4 mil milhões a organismos multilaterais, como o FMI, e 10,1 mil milhões a credores privados externos.