Em causa estão 60 mil milhões de dólares de novas tarifas, já a partir de 01 de Junho, sobre as importações chinesas dos EUA, o que leva a que sejam já 110 mil milhões USD em cima dos bens produzidos nos Estados Unidos desde que a guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais foi declarada pelo Presidente Donald Trump, logo que assumiu o cargo, há cerca de dois anos.

Esta foi a resposta chinesa ao aumento de 200 para 250 mil milhões USD nas taxas sobre os produtos Made in China previamente anunciado pela Casa Branca, e em curso desde a passada sexta-feira, no contexto de braço-de-Ferro entre Trump e o seu "amigo" Presidente chinês, Xi Jinping.

Perante isto, deixou de haver dúvidas de que a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos da América deixou de ser um problema exclusivo das duas maiores potências económicas globais para ser uma dor de cabeça planetária.

Nas bolsas, as declarações de Donald Trump contendo a ameaça de aplicar mais e gravosas taxas aos produtos Made in China, caíram que nem uma bomba e os seus estilhaços chegaram aos mercados europeus à velocidade de um míssil balístico, atingiram a Ásia com a intensidade de artilharia pesada e as américas como uma carga de infantaria.

O petróleo ainda não está a reflectir esta crise e mantém uma ascensão de ais de 2% em Londres (Brent) porque, do outro lado, corre ao mesmo tempo uma outra crise, desta feita entre os EUA e o Irão, que está a colocar travão a fundo nas exportações de crude iraniano, devido às sanções de Washington no âmbito do acordo nuclear do qual os EUA saltaram de forma unilateral.

Mas os analistas já estão a admitir uma inversão desta tendência porque as duas maiores economias do planeta vão consumir menos barris.

Por detrás deste intensificar da crise está a certeza repetidamente firmada de Donald Trump de que a China está há décadas a enganar os Estados Unidos, país para onde o gigante asiático mais exporta no mundo, gerando vantagens através do apoio estatal ao sector exportador privado para garantir vantagens competitivas aos seus produtos, ao mesmo tempo que mantém o seu imenso mercado de 1,3 mil milhões de habitantes com limitações legais às exportações norte-americanas.

O que Trump diz querer é que a China importe mais dos EUA, especialmente bens agrícolas/alimentares e, entre outras áreas, tecnologia ou viaturas, ao mesmo tempo que o Governo chinês abandone progressivamente o apoio estatal às empresas privadas, gerando vantagens competitivas que as congéneres americanas não conseguem ter e está na génese dos mais de 300 mil milhões USD de défice para os EUA nas contas do comércio entre os dois países.

Isto já levou, desde que Trump chegou, há cerca de dois anos, à Casa Branca, os EUA a aplicarem 250 mil milhões USD de taxas extra às exportações chinesas.

Perante isto, e depois de Trump ter ameaçado com ainda mais medidas se a China fizesse o que acaba agora de anunciar que vai fazer a partir de 01 de Junho - mais 60 mil milhões USD de taxas sobre bens importados dos EUA -, o que Pequim está a dizer é que, como, alias, já tinha sido garantido pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, que as ameaças do Presidente norte-americano não vão ter acolhimento sem retaliação imediata porque "estas taxas não resolvem nenhum problema nem são benéficas para nenhuma das partes nem para o resto do mundo".

Só que não é assim que pensa Trump, que quer, entre outras coisas, garantir os direitos das patentes dos EUA, a abertura chinesa a mais e novas importações norte-americanas, acabar com a transferência ilegal de tecnologia dos EUA para o gigante asiático.