Em menos de três semanas, o barril de petróleo vendido em Londres (Brent), onde Angola tem a referência para os preços médios das suas exportações, passou de 85 dólares norte-americanos para os pouco mais de 71 conseguidos na segunda-feira, essencialmente porque as grandes economias, aproveitando os baixos preços, optaram por alargar as suas reservas estratégicas, nomeadamente a dos EUA, que vem semana após semana a divulgar aumentos de milhões de barris aos seus stocks.

Por detrás desta realidade esteve a decisão da OPEP, imposta pela Arábia Saudita, o maior produtor do cartel e líder informal permanente da organização, em conluio com a Rússia, de responder afirmativamente à exigência do Presidente dos EUA para que a OPEP aumentasse a sua produção.

Exigência essa que serviu para obrigar os preços a baixar, o que era essencial para conseguir ter combustíveis - gasolina - baratos durante a campanha eleitoral para as eleições intercalares dos EUA que tiveram lugar na terça-feira.

Apesar de a maioria dos países da OPEP terem, de uma forma ou de outra, manifestado a sua discordância com o aumento da produção, porque isso seria a garantia de que os preços baixariam, a organização acabou por aumentá-la em números que vão, dependendo das fontes, do milhão de barris por dia aos dois milhões.

No entanto, perante a evidência de que isso estava a causar estragos nas suas economias, incluindo a saudita e a russa, que dependem em grande medida das exportações de "ouro negro", os ministros da Energia e dos Petróleos do "cartel" marcaram uma reunião em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que começou no Domingo, a partir da qual já começaram a enviar "recados" para o exterior sobre novos cortes na produção no horizonte.

Os efeitos começaram a fazer-se sentir hoje, na abertura dos mercados, onde, por exemplo, o Brent, a meio da manhã já estava a negociar nos 73,20 USD por barril, quase mais dois dólares que na segunda-feira.

Esta resposta, com contornos de emergência, motivada pela aflição das suas economias, à qual não foge a angolana, que definiu como valor de base para a elaboração do seu OGE para 2019 o barril nos 68 dólares, e perante a ameaça de derrocada no preço, é, ainda, segundo analistas ouvidos hoje pelos sites especializados no sector energético, uma reacção às expectativas defraudadas com os efeitos das sanções dos EUA ao Irão, que ficaram muito longe do que era expectável..

Quando Donald Trump confirmou que ia impor novas sanções ao Irão - o 4º maior produtor da OPEP -, por causa do seu programa nuclear, e retomando as anteriores ao acordo assinado em 2015, no qual EUA, União Europeia, Rússia e China se comprometiam com Teerão em retirar as grilhetas contra a suspensão dos testes e investigação nuclear, o mundo foi confrontado com um aumento vigoroso do preço do barril.

Isto, porque o Irão, que estava a exportar à volta de 3 milhões de barris por dia, iria passar rapidamente para menos de 2 milhões e assim, em queda, até zero, como garantia Trump. Só que assim não foi, porque os EUA ficaram sozinhos a vociferar contra o Irão, enquanto as grandes economias chinesa e indiana ou turca, disseram logo que iam manter as importações do petróleo iraniano.

Face a isto, a OPEP, se queria voltar a impulsionar o valor das suas exportações, teria de fazer alguma coisa extra. O quê?, não se sabe totalmente, mas isso ficará definido no "meeting" de Abu Dhabi, que decorre ao longo desta semana, e no qual devem voltar a ser anunciados cortes na produção.

Recorde-se que em 2016 a OPEP e a Rússia, a liderar um grupo de 11 países produtores não-membros do cartel, decidiram retirar da produção 1,8 milhões de barris por dia, que foi efectivado a partir de 01 de Janeiro de 2017, o que, aliado a crises múltiplas, como a venezuelana, cuja infra-estrutura produtiva está em derrocada por causa da crise económica e política, ou na Nigéria, por causa das guerrilhas do Delta do Níger, entre outras, levou o barril a subir de forma significativa.

Mas também porque a crise despoletada em 2014, que em Angola gerou a mais grave crise económica em muitos anos, levou ao abandono da produção no país por algumas multinacionais que, sem abandonar o país, deixaram as suas infra-estruturas degradarem-se a ponto de comprometerem quaisquer veleidades de retoma da produção com o regresso dos preços apetecíveis do barril.

Isso mesmo veio lembrar a Agência Internacional de Energia (AIE), no seu relatório para 2018, que aponta como estimativa para Angola, até 2023, uma quebra na produção dos actuais 1,4/1,5 milhões de barris por dia para apenas 1,29, contrastando ainda mais com os 1,9 milhões de barris que conseguiu produzir em 2008 diariamente, no auge da sua capacidade.

Mas, a opção para voltar a investir em Angola, estando o Governo a tomar um conjunto alargado de medidas para impulsionar a produção, nomeadamente com novas pesquisas e incentivos fiscais, pode voltar às grandes companhias internacionais com o regresso aos preços altos.

Mas a OPEP terá de ser convincente quando divulgar os resultados deste encontro em Abu Dhabi.