Com esta decisão da Administração Trump, se os países afectados não forçarem eles mesmos excepções ao fim das excepções norte-americanas, o mundo pode ficar sem mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia, que é, em média, o que Teerão está a exportar, embora esta quantidade esteja substancialmente abaixo da sua capacidade, que, recorde-se, resulta de ser um dos maiores produtores do mundo - o 3º no seio da OPEP e 5ª no mundo -, chegando esse potencial a superar os 3,9 milhões de barris por dia (mbpd).

Mas as sanções de Donald Trump, pelo menos em parte, estão condenadas ao fracasso, visto que a China, o maior aliado e importador do crude iraniano - cerca de 500 m bpd -, já disse que a parceria que Pequim mantém com Teerão é conduzida dentro da lei internacional e que em nada viola as regras internacionais reconhecidas.

A Índia, a 3ª maior economia asiática - as duas primeiras, China e Japão, também estavam no grupo abrangido pelas excepções de Trump - deverá seguir o exemplo de Pequim e manter importações do Irão, mesmo que, tal como o gigante asiático, estas possam ser reduzidas de forma a não melindrar muito o actual dono da Casa Branca.

Inclusive a Coreia do Sul, porque precisa das ramas de petróleo leve do Irão para as suas sofisticadas refinarias, já admitiu que poderá resistir à vontade de Washington, tal como o Japão, ou a Turquia, esta devido à geografia que aconselha a não abdicar do crude iraniano se não quiser ver os custos do sector aumentar de forma substancial.

Para já, e ao contrário do que seria de esperar, o preço do barril de crude nos mercados internacionais está a descer ligeiramente, com o Brent de Londres - que sere de referência às exportações angolanas - estava hoje, cerca das 09:40 de Luanda, a descer 0,76%, para 71,63%.

Para contextualizar este problema global, recorde-se que a actual imposição de sanções ao Irão por Donald Trump surgiu com estrondo logo que este, há cerca de dois anos, tomou conta da Administração norte-americana, saindo do acordo nuclear que o seu antecessor, Barack Obama, em conjunto com a China, a Europa e a Rússia, tinha assinado com o Irão em 2015, garantindo o fim do programa nuclear com fins militares de Teerão.

Com esse acordo, o Irão, que estava afastado dos mercados internacionais há vários anos, voltou a poder exportar sem restrições, ao mesmo tempo que as grandes multinacionais europeias, chinesas, e norte-americanas, voltavam à economia persa.

Mas Trump reverteu todo este processo de normalização pressionado por Israel que tem, e vice-versa, no Irão o seu grande inimigo, obrigando também os europeus a abandonar Teerão porque as sanções incidiam especialmente sobre as empresas exportadoras, como as do sector automóvel, que deixavam de ter acesso ao mercado americano.

E, face a este cerco, por exemplo, marcas de carros francesas ou alemãs, forçadas a escolher entre o mercado iraniano e o norte-americano, a decisão foi evidente e antural, ao mesmo tempo que pressionavam os seus governos respectivos a alinhar com Washington por razões económicas puras: a economia dos EUA é fundamental para a generalidade das exportações dos países europeus.

Para já, o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, já garantiu que o seu país vai responder à altura aos EUA e que Trump deve saber "que a nação iraniana não fica de braços cruzados face à animosidade", embora sem explicar que tipo de resposta será dada.

Nada que atrapalhe muito o vigoroso Secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, que já disse que os EUA vão obrigar todos os países a reduzir a zero as importações do Irão como forma de garantir que este país cede às exigências de Israel e dos EUA de anular totalmente o seu sistema de defesa, com destaque para o programa de misseis.

Neste momento, segundo alguns analistas, a questão em cima da mesa é saber se os restantes produtores vão ser capazes se suprimir o "buraco" provocado por esta decisão de Washington, o que pode acontecer com o aumento da produção de países como o Iraque ou a Arábia Saudita.

Provavelmente, essa resposta, formal, será dada em Julho, quando a OPEP e os seus aliados, como a Rússia, reunirem em Viena para analisar o programa de cortes da produção em vigor desde o início do ano, que retirou 1,2 mbpd aos mercados.

Se a leitura dos principais analistas dos mercados estiver correcta, a forma como estes estão a reagir, aparentemente de forma serena, ao fim das excepções dos EUA sobre as exportações do Irão, isto quer dizer que os mercados acreditam que o poder de dissuasão de Washington será limitado e ficará aquém das declarações de Mike Pompeo e de Donald Trump.