O documento, publicado esta semana, denominado World Oil Outlook 2019, que procura desenhar aquilo que vai ser a procura e a oferta de crude em todo o mundo para os próximos cinco anos, até 2024, prevê que no final deste período a organização esteja a produzir, no conjunto dos seus 14 membros, 32,8 milhões de barris por dia (mbpd) contra os 35 milhões estimados para este ano.

Para além da pressão dos ambientalistas, a OPEP sublinha ainda o papel da economia mundial, que estima estar a perder vigor e ainda as sucessivas descobertas de novas reservas em todo o mundo, algumas delas de monta, como é o caso da anúncio feito pelo Conselho Supremo do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos, no Dubai, no valor de 7 mil milhões de barris de petróleo e 58 triliões de pés cúbicos de gás convencional. Esta descoberta permite a este pequeno país do Golfo assumir que possui agora as 6ªs maiores reservas do mundo de crude e gás - 105 mil milhões de barris de petróleo e 273 triliões de pés cúbicos de gás.

Para esta previsível diminuição da produção do "cartel", do qual Angola faz parte desde 2007, contribuirá ainda a crescente actividade da indústria norte-americana do "fracking", ou petróleo de xisto, uma actividade altamente poluente e que compreende a utilização de explosivos e químicos a grandes profundidades para colher gás e petróleo existente na composição deste tipo de rocha, mas que tem permitido aos EUA assumir a posição de maior produtor mundial actualmente, embora isso só seja possível também porque a Arábia Saudita e a Rússia, os dois maiores produtores em potencial, estão envolvidos numa estratégia comum de controlo em baixa da produção, no seio da OPEP+, para evitar a perda de valor da matéria-prima.

Neste relatório, a OPEP explica, todavia, que a diminuição da produção da organização não resulta directamente da diminuição da procura mundial, que mantém um Outlook em crescendo num contexto da esperada expansão da economia planetária.

Se por um lado é inegável que o mundo consome cada vez mais energia, o tipo de energia consumida tem vindo a sofrer alterações, muito por causa dos problemas ambientais que o planeta atravessa e dos estudos que se repetem com avisos contundentes para o risco de insustentabilidade da vida na Terra em resultado da poluição com gases que provocam efeito de estufa e levam a uma abrupta subida da temperatura média global.

Este relatório sobre o que a OPEP espera que venham a ser os próximos cinco anos para os seus membros, na sua maioria extremamente dependentes economicamente da exportação de crude, tem ainda em linha de conta o "pacto" que existe com a Rússia e outros produtores não-membros e que se organizam desde 2017 em torno da denominada OPEP+ para a diminuição da produção de 1,2 mbpd para impedir uma perda de valor do barril nos mercados internacionais, o que em sido essencial para evitar problemas ainda maiores em economias em crise como a angolana, mas também da nigeriana ou mesmo da saudita, para a qual sucessivos estudos apontam para a necessidade de o barril valer pelo menos 80 USD para manter as contas públicas equilibradas, razão pela qual este país do Golfo é aquele que mais contribui para esta subtracção artificial de petróleo dos mercados.

Com esta diminuição da produção no seio da OPEP, Angola, embora o mesmo suceda com outros produtores, terá obrigatoriamente mais dificuldades em lidar com a crise económica, pelo menos até que os esforços em curso para diversificar a economia comecem a dar resultado.

Em todo o mundo, que consome em média, dados de 2018, 104,5 mbpd, estará dentro de 4 anos, em 2023, a consumir meio milhão bpd a menos, o que acaba por encauxar num outro relatório da Agência Internacional de Energia, que, prevê uma diminuição na procura e na produção e, no caso específico de Angola, aponta mesmo para uma perda drástica da capacidade produtiva, dos actuais 1,45 mbpd, em média, para uns escassos 1,29 mbpd em 2023.

No entanto, no longo termo, embora isso contrarie a actual luta planetária para a substituição da energia fóssil por energias renováveis, a OPEP estima que em 2040 o consumo mundial seja superior aos 110 milhões de barris por dia.