A essa mesma pergunta, o Presidente norte-americano, que já tinha, há cerca de dois meses, anunciado tarifas de 50% sobre a maioria das exportações brasileiras para os EUA, sem outra justificação que não fosse o processo que Trump considerava "injusto" contra Bolsonaro no STF, agora optou por fazer de conta que não percebeu a pergunta.

Essa pergunta foi se os EUA iriam aplicar novas sanções ao Brasil depois da condenação histórica a 27 anos e três meses de cadeia, e mais de 150 dias de multa à razão de dois salários mínimos (cerca de 600 USD), numa votação de 4 para i dos cinco juízes do STF, Donald Trump escolheu referir apenas as qualidades humanas de Jair Bolsonaro.

Disse que o conheceu bem quando era Presidente do Brasil, que é "um bom homem", que "foi alvo de um processo semelhante" ao que correu nos EUA contra ele depois do assalto ao Capitólio em 2021, e que não estava a ver Bolsonaro fazer aquilo de que foi acusado e pelo qual foi condenado.

Jair Bolsonaro, de 70 anos, foi condenado por ter liderado uma tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2023, depois de ter perdido as eleições para Lula da Silva em 2022, com uma horda de milhares de apoiantes seus a invadirem o chamado Palácio dos Três poderes, em Brasília, onde está a sede do Governo, o Parlamento e o Supremo Tribunal.

Além disso, correm ainda contra ele vários processo, especialmente num caso que envolve o seu filho e deputado federal, Eduardo Bolsonaro, por coação devido à atuação do parlamentar nos Estados Unidos, sobre a qual foi aberta uma investigação foi aberta pelo juiz-presidente do STF, Alexandre de Moraes, o mesmo que presidiu ao julgamento histórico desta quinta-feira, 11.

Segundo o jornal O Globo, Alexcandre de Morais atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar Eduardo Bolsonaro por, em conluiu com o seu pai, articular sanções aplicadas pela Casa Branca a integrantes da Suprema Corte brasileira, numa tentativa de interferir no julgamento da trama golpista.

Apesar deste contexto, Donald trump considerou "totalmente surpreendente" a condenação de Jair Bolsonaro, que partilha com ele um universo de extrema direita, além de uma mutuamente reconhecida empatia e amizade, mas em momento algum, apesar de pressionado pelos jornalistas, admitiu que iria acrescentar quaisquer sanções económicas ao Brasil.

Na margem direita da política brasileira, um coro de protestos e ameaças de novas e gigantescas manifestações contra a decisão do STF já foram anunciadas, com o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho de Bolsonaro, a afirmar que o julgamento do pai foi uma "farsa" e prometeu que vão "lutar até ao fim".

"A mensagem que eu quero fazer chegar a toda a população brasileira, depois de passar por esses momentos, agora, com o presidente Bolsonaro, é que o mínimo que exigimos é que Alexandre de Moraes devolva tudo o que ele tomou de Bolsonaro e da direita. A pacificação só virá com a amnistia total, criminal, administrativa e eleitoral", disse num claro tom de ameaça o filho mais velho de Jair Bolsonaro.

Flávio Bolsonaro considerou que se trata da "reação de um inocente injustamente condenado", reafirmando, em forte sublinhado, que as hostes bolsonaristas vão "lutar até o fim".

Entretabto, Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos a fazer `lobby` junto da Administração Trump para que esta exerça pressão junto do STF do Brasil, também recorreu às redes sociais onde replicou uma mensagem do membro da Câmara dos Representantes dos EUA, Carlos A. Giménez, um conservador extremista, que considerou que "Bolsonaro é um prisioneiro político e deve ser libertado imediatamente".

O Supremo Tribunal Federal do Brasil condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão que deve ser cumprida numa prisão de elevada segurança.