Tudo começou com a ida de Kim Yo-jong, a irmã de Kim Jong-un a Seul, capital da Coreia do Sul, durante os Jogos Olímpicos de Inverno, aproveitando o espírito pacificador dos Jogos, para as coisas começarem a mudar na direcção das pretensões do Governo sul-coreano, mais interessado que ninguém em amainar os ânimos na contubada Península Coreana.
Com a visita de Yo-jong, há menos de um mês, teve início uma vertiginosa sucessão de declarações de um lado e do outro que permitem admitir a possibilidade de Washington e Pyongyang não só aliviarem as tensões como ainda se sentarem à mesa como bons amigos.
Convém lembrar que a Coreia do Norte, nos últimos meses, não parou de testar engenhos nucleares e mísseis balísticos com capacidade para atingir os EUA, tudo entremeado por declarações bombásticas de promessas de destruição total, de um lado para o outro, e Washington manteve quase em permanência as suas forças militares na Península Coreana em exercícios agressivos conjuntos com a Coreia do Sul.
Alturas houve, durante 2017, em que muitos analistas admitiram mesmo a iminência de um ataque militar norte-americano a Pyongyang, com a China e a Rússia a saírem a público clamando por calma porque isso poderia ser o início do fim do mundo tal como o conhecemos, a ponto de os Presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin terem tido este problema como dos mais importantes pontos das suas agendas durante meses.
"Pequeno homem-foguete", citando Trump, ou "velho tonto", citando Kim, foram das expressões menos severas usadas por estes dois homens para se atacarem mutuamente ao longo de 2017, mas tudo pode ser atirado para trás das costas depois da entrada em cen da bela Kim Yo-jong que serviu de calmante para os dois "touros enraivecidos" prontos para a batalha.
E isso aconteceu quando, numa inédita iniciativa, Kim Yo-jong se deslocou a Seul, como enviada especial do seu irmão, Kim Jong-un, para encetar um diálogo que estava morto desde o fim da guerra da Coreia, em 1953, ou melhor , do fim das batalhas na Península, porque os dois países, formalmente, permanecem em guerra porque nunca chegou a ser assinado qualquer tratado de paz.
Pouco se sabe o que aconteceu entretanto, mas o mundo foi surpreendido há dias com o anúncio, por parte do Governo sul-coreano, de que Kim Jong-un estava disponível para, não só interromper os testes nucleares e os mísseis balísticos voltariam para os seus silos, como para um tête-à-tête com Donald Trump.
Ora, se a disponibilidade de Kim já foi um acontecimento global, quando Trump mandou dizer que também ele estava disponível para se sentar à mesa com Kim... a surpresa foi total. Em Maio se verá o que pode dar.
Mas, para já, sabe-se que Kim Jong-un tem o seu regime sob apertadas sanções da comunidade internacional, com dificuldade em estabelecer relações comerciais com outros Estados - por exemplo, com Angola, que expulsou centenas de trabalhadores norte-coreanos que estavam no país - e impossibilitado de exportar bens e serviços essenciais para a sustentabilidade económica da Coreia do Norte.
Mas, por outro lado, quando se sentar à mesa com Trump, Kim Jong-un já levará na pasta a certeza de que tem um sistema de mísseis balísticos, ou intercontinentais, eficaz e com provas dadas, e ainda uma capacidade operacional de projecção de engenhos nucleares.
O que vai exigir Trump para abrir as portas do mundo a Kim? Que estará disposto Kim a oferecer? Trata-se de mero fait-divers para entreter e ganhar tempo, de um lado e do outro, ou é mesmo a sério?!
Em Maio, se o encontro entre os dois acontecer de facto, ficar-se-á a saber.
Mas há analistas que duvidam dessa possibilidade, admitindo que tal só poderá ser realidade se antecedida, por exemplo, de algo parecido ao que se passou entre os EUA e a China no tempo de Richard Nixon, início da década de 1970, quando o seu secretário de Estado Henry Kissinger, foi primeiro a Pequim falar com Mao Tse Tung (Zedong) para abrir caminho ao encontro dos dois Presidentes, podendo Rex Tillerson, o responsável actual pela diplomacia norte-amerciana, fazer agora o mesmo em Pyongyang.