Não há uma segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão. Todos ouvimos com espanto que os jovens que saem do País não são patriotas e que não fazem falta. Mas todos sabemos que a cada ano ficam mais de 3 milhões de crianças fora do sistema de ensino. Num país que a comemorar 50 Anos de Independência não conseguiu resolver um único problema básico e quando digo básico me refiro ao sentido literal do termo: escola primária de qualidade, com água e casas de banho. Postos médicos de proximidade sem luxo, mas com competência humana e material. Esgotos. Um tecto digno. Três refeições por dia para cada angolano que é dono do petróleo e que, ou está no desemprego, ou o seu salário não chega para viver, com os mínimos olímpicos da dignidade humana.
A pobreza desta visão nasce da arrogância militante. Falta genialidade, coragem para fazer a diferença na vida dos angolanos e pedir desculpa pela inacção e pela elaboração de programas realistas e visionários capazes de construir um país. O actual sistema educativo colapsou. Não serve o País, nem o século XXI, nem o desenvolvimento social. A coragem de manter milhões de crianças e jovens analfabetos só pode ser um instrumento diabólico que pretende de forma anormal incapacitar as pessoas para que não percebam a tragédia da governação atabalhoada do MPLA.
Se houver uma qualidade das crianças e jovens angolanos é a criatividade. São potencialmente capazes. Só lhes falta a oportunidade para deixarem de ser uma promessa e passarem a ser um facto. O MPLA torrou milhões para a construção da nova Assembleia Nacional, esmerando-se no ridículo estilo colonial. Os eleitos têm ginásio, refeitório, mobília importada (pirosa, mas importada), tapetes palacianos. Salas para a resolução de todas as aflições nacionais. Ainda assim continua a ser uma instituição que trai os eleitores todos os dias por obediência ao servilismo da agenda militante. E, em 50 anos, foi incapaz de dignificar a escola. O Viveiro. O presente. O futuro. Ignorou de forma olímpica a necessidade de criar um edifício robusto, competente e eficientemente orçamentado para que fosse pertinente e consequente. As "escolas" rurais são deprimentes. As "escolas" dos bairros são pocilgas. A maioria das escolas da cidade parece cenário de guerra. O ideário de que "aprender era um acto revolucionário" desapareceu dos discursos oficiais. Mataram o futuro.
E quando os jovens pretendem melhorar a sua formação ou terem acesso a um emprego que lhe garanta um salário para viver durante um mês são diabolizados com frases agressivas cheias de rancor e sem qualquer respeito, porque foram para países onde, sem terem parentes na cozinha do poder, nem cartão de militantes, têm acesso à crédito bancário, um emprego e um tecto condigno, coisa que no seu País é uma missão impossível.
Infelizmente este discurso de ódio apenas revela quão pequenina deve ser a nossa esperança no futuro. O MPLA há muito que deixou de defender os angolanos, o País e as prioridades. A maioria defende o cargo disparando à toa na tentativa de ser considerado um militante que mata a cobra e mostra o pau. A magnitude do dano social e do retrocesso do capital humano causado por uma governação que não se baseia na ciência, privilegiando apenas o lucro, só pode ser medido pela Escala de Richter.
Foi feito o apelo à critica. Mas quem dentro do MPLA ouve uma crítica e a avalia? O que é que ainda não foi dito pelos eleitores? Sofrem do Síndrome de Procusto. Têm medo da crítica, por isso não hesitam em boicotar, humilhar e menosprezar todos os conselhos, sendo indiferentes a quem não pensa como eles. Passámos a ser todos lúmpenes, como disse o senhor Presidente da República.
Nenhum país conseguiu vencer o desalento de uma juventude a quem foi tirada a alegria, o chão, os direitos, a vida e a esperança. Descalços, desnutridos, descolarizados, desvalorizados e sem ninguém que os defenda, não obstante representarem a maioria da população, um dia irão puxar dum nervo e mostrar que a paciência tem limites. Em Angola, mesmo que todos dêssemos as mãos e decidíssemos caminhar na mesma direcção, ainda assim, seríamos sempre poucos para a hercúlea tarefa de erguer do gigantesco buraco um país com este tamanho e com tudo por resolver.
Esta semana morreu um líder mundial, Papa Francisco, um líder transformador e inclusivo, uma alma humilde e peregrina, que repetiu até à exaustão que "não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça com desigualdade". Só não percebo qual é a parte que, 50 anos depois, ainda não entenderam que o caminho que estão a trilhar jamais vai tirar o País da cepa torta.
Por um País para todos
Fazem falta sim
Já se tornou enfadonho vermos governantes a atacar o mensageiro quando não têm desculpa para a ausência de soluções para o cargo que aceitaram cumprir com patriotismo e sentido de Estado. A notória ausência de ideias, empatia e amor pelo próximo está na base da incapacidade de inovarem e, por esta razão, a maioria quando é exonerada não deixa obra que promova caminho para o desenvolvimento.
