Volodymyr Zelensky, num dos seus vídeos, agora já menos rotineiros, veio responder a Vladimir Putin acusando-o de "nova tentativa de manipulação" e contrapõe com "30 das sem guerra" imediatamente para dar "lugar à verdadeira diplomacia".

Isto, porque, segundo ele, Putin apenas quer ter "silêncio" durante o desfile com que, normalmente, a Rússia comemora o 09 de Maio, colocando milhares de militares a percorrer as ruas de Moscovo e centenas de veículos militares, com dezenas de convidados estrangeiros.

O cessar-fogo ordenado pelo chefe do Kremlin visa coincidir com os festejos da vitória da então URSS sobre o nazismo alemão, que levou ao fim da II Guerra Mundial, tendo Vladimir Putin feto saber dias antes que está agora disponível para negociar sem pré-condições.

Tal como sucedeu com o cessar-fogo parcial de um mês mediado pelos norte-americanos, sobre infra-estruturas energéticas, que não foi respeitado por ucranianos e russos, também neste Putin avisou que qualquer violação terá resposta imediata.

Embora coincida com as comemorações do 9 de Maio, a justificação avançada pelo Kremlin para estes três dias foram razões humanitárias, retomando a ideia de que este é um passo para negociações sem condições prévias mas que incidam nas raízes do conflito.

A resposta de Kiev foi igualmente imediata e retomou a já conhecida posição de Zelensky na defesa de um cessar-fogo de 30 dias sem condições e não apenas uma pausa nas hostilidades "para permitir que a parada decorra em silêncio".

Já nesta terça-feira, 29, Kiev respondeu dizendo que "se a Rússia quer, verdadeiramente, a paz, então deve acabar com a guerra imediatamente", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros Andrii Sybhia, garantindo que Kiev está disponível para isso já.

Num ponto importante da sua argumentação, Volodymyr Zelensky questiona Vadimir Putin sobre o porquê de ser necessário esperar pelo dia 08 de Maio para mandar calar as armas, aludindo a uma "nova tentativa de manipulação" como razão.

Esta resposta dos ucranianos apanha os ventos de feição soprados de Washington pelo Presidente Donald trump que, nos últimos dias, tem virado o seu dedo acusador para Moscovo, colando-se mais à posição de Kiev depois de se convencer que "se calhar" Putin não quer mesmo acabar com a guerra, está apenas a ganhar tempo.

Como se percebe facilmente dos timings medidos pelos media internacionais, esta reposição estratégica dos Estados Unidos, pelo menos relativamente, surge com o encontro entre Trump e Zelensky na Catedral de São Pedro, durante o funeral do Papa Francisco, no Sábado.

E dias depois de os russos terem atacado Kiev com uma vaga de misseis e drones de tal modo intensa que levou o Presidente americano, furioso, a pedir a Putin para "parar com estes ataques desnecessários".

Isto a par de uma nova declaração do secretário de Estado dos EUA, que é quem dá a cara pela diplomacia de Washington, sobre o fim da paciência norte-americana para ver sinais claros de que tanto Moscovo como Kiev querem a paz (ver links em baixo).

Com a novidade trazido a público por Marco Rubio sobre o prazo máximo para que isso suceda, que é a semana em curso, finda a qual os EUA saltam do processo de negociações para levar ao fim do conflito "porque existem outras prioridades, mesmo ate mais importantes".

Apesar deste deadline apertado, Rubio disse, numa entrevista recente à CBS, que um acordo "nunca esteve tão próximo como agora mas sem que esteja suficientemente perto", deixado assim uma brecha abeta por onde se pode ver aproximar-se o fim da guerra na Ucrânia.

Ao que o russo que chefia a diplomacia do Kremlin, Sergei Lavrov, respondeu numa série de entrevistas, incluindo a norte-americana CBS e o brasileiro O Globo, onde repete que Moscovo está "aberto para negociar" mas avisa que "a bola está do lado ucraniano".

É que, recorda Lavrov, não existe forma de iniciar conversações entre Moscovo e Kiev, ou a "verdadeira diplomacia", como se lhe refere Zelensky, sem que seja abolido o decreto Presidencial de 2022 que proíbe quaisquer conversas com de governantes ucranianos com os russos.

Ou seja, se a Rússia fosse neste momento para negociações directas com os ucranianos, quaisquer que fosse o resultado poderia se anulado a qualquer momento porque essas decisões seriam ilegítimas à luz do decreto assinado por Zelensky.

E aqui parece haver um imbróglio sem saída porque o decreto que o Presidente ucraniano assinou em 2022 é uma resposta à anexação das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, que se juntaram assim à Crimeia, anexada em 2014, estando a sua validade condicionada à recuperação dessas regiões.

Provavelmente, a resistência de Zelensky a não extinguir o decreto em questão resulta de, como admitem analistas, receios concretos de que sem essa segurança, Moscovo poderia negociar com outros governantes, ou não, ucranianos, sobre o futuro das relações entre os dois países, o que seria facilitado com o crescente descontentamento interno em Kiev com a sua liderança, como, de resto, o mostram as sondagens feitas por organismos ocidentais.

Os mesmos analistas sublinham que o "pecado" norte-americano enquanto mediador comprometido, depois de anos a apoiar, por Joe Biden, Kiev, com armas e dinheiro, é Donald Trump não ter ainda falado em publico deste dispositivo legal que entrava quaisquer possibilidades de negociações entre os contendores.

Ou seja, os sinais claros de que Moscovo e Kiev querem a paz exigidos por Marco Rubio podem não ter espaço para emergir sem que esse mesmo decreto seja anulado, mesmo que Zelensky já tenha dito que o seu conteúdo não abrange o Presidente do país.