Volodymyr Zelensky aterrou num aeroporto privado, Lanseria, em Joanesburgo, antes de se encontrar em Pretória com o Presidente sul-africano, ao final do dia de quarta-feira, 23, para uma visita muito breve mas grandemente simbólica, que terminou nesta quinta-feira, 24.

Com esta deslocação à África do Sul, um país que, tal como a Ucrânia, está num processo de distanciamento dos Estados Unidos, embora por razoes diferentes, sendo Pretória um aliado da Rússia em vários campos e um parceiro de longa data nos BRICS, Zelensky procurava ganhar de novo um lastro internacional que claramente foi perdendo nos últimos meses.

E acabou por consegui-lo ao surgir nos grandes media internacionais ao lado de Cyril Ramaphosa, com quem esteve reunido, e a quem pediu que interceda, no âmbito do G20, que preside no presente ano, e não nos BRICS, para que a Rússia seja pressionada de forma a conseguir para Kiev uma "paz justa".

Zelensky considerou nesta passagem curta pela África do Sul ser "crucial conseguir chegar mais perto de uma paz justa" para a qual disse estar a trabalhar junto de países do G20, os 20 mais ricos do mundo, para que se empenham activamente na busca de um fim adequado para a guerra.

"Contamos com a África do Sul", disse Zelensky, dando como exemplo, baixando claramente as exigências junto deste aliado próximo da Rússia no contexto dos BRICS, o regresso de crianças russas levadas para a Rússia, numa evidente tentativa de criar embaraços a Moscovo.

Igualmente simbólico nesta breve passagem por Pretória foi a coincidência temporal com o mais adstringente momento das relações com os EUA jamais vivido pelo líder ucraniano (ver aqui), embora o encurtamento da viagem, que está a ser planeada há semanas, tenha sido o mais recente ataque russo a Kiev, que levou mesmo o Presidente dos EUA, Donald Trump, a exigir a Putin que trave este tipo de "ataques desnecessários".

No entanto, para deixar as coisas claras, segundo os media sul-africanos, antes de receber Zelensky, Ramaphosa manteve, há dois dias, uma demorada chamada telefónica com Vladimir Putin, tendo feito um enquadramento desta visita ao Presidente russo, tendo, de seguida, no X, escrito que essa conversa serviu para "reforçar os laços de amizade" com a Rússia.

E, tal como sublinhou durante a presença de Zelensky, quando pediu que ambos os contendores calem as armas, também disse ao Presidente russo que está disponível, tendo lembrado que foi um dos primeiros a apresentar-se para mediar os esforços de paz para o conflito no leste europeu, para ajudar a chegar à paz.

Mas esta visita de Zelensky à África do Sul põe em evidência igualmente o facto de ao longo dos mais de três anos de guerra e de ter viajado pelos quatro cantos do mundo no seu esforço para criar pressão sobre Moscovo, o continente africano foi claramente subestimado nessa matéria.

E este foco agora visto é também, segundo alguns analistas, mais que uma tentativa de recuperar o tempo perdido, uma demonstração de que a diplomacia ucraniana por estar a fixar sem espaço de manobra noutras latitudes depois da chegada de Donald Trump à Casa Branca, há cerca de dois meses, quando as relações entre Washington e Kiev começaram claramente a esfriar.

Ao mesmo tempo, um dos mais influentes jornais ucranians, o Kyiv Independent, dá nota de que Zelensky procura estreitar laços no continente de forma a somar aliados na procura de uma solução de paz negociada em termos mais próximos das exigências de Kiev, com claramente menos cedências a Moscovo que as que constam do plano dos EUA.