Como se sabe a estas eleições concorrem cinco partidos e uma coligação que procurarão acolher, nas urnas, o voto de todos os angolanos.
Bom, de todos, não!
Há alguns, como eu - e como eu, muitos -, que não vão poder ir às urnas depositar aquele que seria o seu voto. Vamos ficar pela janela da oportunidade.
Mas isso não implicou - não implica, até ao momento que escrevo, ou seja, até a uma semana das eleições - como se pôde (tem podido) verificar nas páginas sociais, que não tivéssemos - vou considerar o texto sempre no passado - dado o nosso contributo para o debate político.
Uns, de forma mais acesa e, não poucas vezes, ilógica; outros, mais esclarecidos ou mais ponderados, procuraram que o contributo e análise da campanha fosse esclarecedor.
De tudo houve um pouco. E um pouco foi muito.
Mas, como o sistema político nacional ainda não reconhece à Diáspora - à enorme Diáspora - o direito ao voto (nem ao recenseamento eleitoral, tão-pouco), irei procurar dar uma curta análise ao que aconteceu, até ao momento de escrita deste texto. E curta, porque como se lerá no texto, como qualquer angolano da Diáspora estive sob claros constrangimentos informativos públicos (e disso o SJA fez eco...).
Como referi, de tudo, houve um pouco. E de um pouco, foi muito.
À partida, não vimos - e deixámos de ver - nestas eleições uma figura que ponderou durante cerca de 38 anos no espaço político. O Presidente José Eduardo dos Santos!
Se fisicamente Eduardo dos Santos não esteve presente, a sua figura política esteve permanentemente no halo das movimentações políticas do MPLA e do seu candidato, João Lourenço. O consulado de Eduardo dos Santos esteve sempre presente para a glorificação do sucesso produzido e para justificação do que o candidato presidencial e o seu partido desejam alterar, para grado da jovem camada de eleitores nacionais que vai às urnas pela primeira vez a 23 de Agosto.
Eles vão lá estar, e serão eles os jovens, mais que os Mais Velhos, a ditarem os números das urnas. E serão eles a dizerem se os resultados obtidos serão fundados ou manuseados.
E porque são os jovens eleitores nacionais, que votarão pela primeira vez, e que não sentiram o impacto da guerra que acabou há 15 anos, mas que sentem no seu quotidiano os efeitos e as sequelas da crise económica causada pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional, que vão estar na primeira linha decisória do acto eleitoral.
Não foi estranho, por isso, que a Oposição, em geral, e a UNITA e a coligação CASA-CE - mais esta, que o partido do Galo Negro -, em particular, tenham mais procurado intervir junto da camada jovem, com aquilo - e com aquilo que a TPA Internacional nos ia "cedendo" nos seus noticiários diários (e como se sabe, muito pouco, face ao ainda maioritário) - que os jovens eleitores mais desejam: estudo e emprego; ou seja, estabilidade pessoal e profissional.
Só que alguns dos partidos candidatos e seus líderes optaram também por fazer propostas que, num País a contas com uma crise financeira aguda, se tornam absolutamente ineptas, ainda que, algumas, sejam louváveis no médio prazo. Desde aumento de gastos com infra-estruturas rodoviárias (na realidade, recuperar o que se fez há alguns anos, na época dourada e que se mostrou mal executado) e habitacionais (só agora é que começam a aparecer as promessas do passado, mas sempre com uma cauda de imbróglios), até aumento exponencial do ordenado mínimo nacional (sem que tenhamos uma estrutura económica e financeira sustentável, assente numa múltipla cultura empresarial e produtiva), passando por desafios constitucionais que, actualmente, e enquanto a configuração parlamentar não o permitir, não passam de utopias eleitorais (a federalização do País).
Ora os jovens querem estudar, querem trabalho, mas querem também, algo que em 15 anos pouco se avançou: saneamento básico, transportes de qualidade, desenvolvimento regional (permitir a permanência dos jovens nas suas zonas e regiões habituais), poderem decidir a vida política e social das suas regiões, através do acto público eleitoral autárquico e provincial, participação activa e sem constrangimentos na vida política e social do País; querem melhor vida e mais vida no debate político através de movimentos sociais, como recorda, e bem, Carlos Ferreira no editorial do Novo Jornal de 11 de Agosto passado.
Vejamos o que o 23 de Agosto nos trará.
Há promessas que gostaria de ver cumpridas, nomeadamente, as constitucionais. Todos - e em particular, os que estamos na Diáspora, porque somos angolanos autênticos como os que estão no País; e muitos de nós contribuem (ou gostariam de contribuir) para o desenvolvimento do País através de remessas de divisas que, agora, tanta falta fazem - podermos intervir na vida política activa e económica e educacional do País.
Como os nossos intelectuais que estão fora do País poderiam ajudar as nossas Universidades a entrarem nos melhores rankings internacionais, identificando-nos como Professores e Investigadores das nossas Universidades nos trabalhos produzidos.
Pois a 23 de Agosto eu estarei à janela a aplaudir todos os que na sua sábia paixão e claro doutos irão depositar o voto nas urnas eleitorais.
E acompanharei com expectativa o poder da jovem camada de eleitores nacionais que vai às urnas pela primeira vez a 23 de Agosto, porque serão eles, os jovens, mais que os Mais Velhos, a ditarem os números das urnas. E serão eles a dizerem se os resultados obtidos serão fundados ou falazes.
E que ninguém tente defraudar as expectativas dos jovens. São jovens, mas sabem o que querem!
Eugénio Costa Almeida é investigador e pós-doutorando