Neste texto, o também antigo secretário-geral do MPLA, cargo ocupado, tal como o de primeiro-ministro, no início e meio da década de 1990, explica demoradamente a forma como aquilo que tem sido o seu discurso coerente, de elogios e críticas ao desempenho de José Eduardo dos Santos e do MPLA na condução do Estado angolano, foi alterado nesta entrevista.
Explicando, numa introdução breve, que escreveu o texto "a contra gosto", porque alguns dos seus amigos lhe fizeram chegar o descontentamento com aquilo que parecia, atendendo à entrevista que concedeu à televisão estatal angolana, uma reaproximação ao MPLA e a JES, Marcolino Moco diz que o alegado truncar das suas declarações foi feito "pelos censores do sistema" que ainda governa Angola.
A referida entrevista, "encarecidamente solicitada" aconteceu aquando do encontro do candidato do MPLA, João Lourenço, com os "fazedores de Cultura".
Chamando a atenção para os aproveitamentos que adivinha virem a ser feitos do texto na sua página do Facebook, Moco adverte, fazendo nova referência à alegada manipulação das suas palavras na TPA, que "este mesmo texto também vai sendo truncado e interpretado das mais mirabolantes maneiras, nos outros extremos de interesses".
Marcolino Moco sugere que está a ser vítima, dos "mais infalíveis julgadores deste mundo", que são aqueles que gostariam de o ver "encerrado em casa, sem ao menos ter o direito de poder verificar se o pântano já começa a secar ou continua a expandir-se, lá fora".
E garante que "o que andaram a dizer não condiz absolutamente com nada do que disse nas entrevistas que foram aparatosamente trabalhadas, especialmente a da TPA", explicando de seguida que não pede as gravações para eventualmente provar que não correspondem ao que disse porque sabe que "já foram truncadas" para o "embrulhar ainda mais em lamas e perder energias".
No mesmo texto, o antigo primeiro-ministro faz também uma referência ao que parece ser esta notícia do Novo Jornal Online.
"Caír como um patinho", num pântano ainda por secar - é este o título do texto de Marcolino Moco, onde afirma que teve dúvidas em aceitar o convite para o encontro com João Lourenço, lembrando que desde 2009, através de uma carta aberta, dirigida ao então Secretário-Geral do MPLA, suspendeu a actividade política dentro do partido para se "dedicar a um discurso de apelo nacional à moderação", algo que "via cada vez mais a afastar-se das práticas do Estado, cada vez mais entregue aos desígnios pessoais do Presidente José Eduardo, com o MPLA cada vez mais transformado num mecanismo de aplausos a tudo, desde o mais ou menos aceitável ao mais absurdo possível. Com todas as vias do diálogo interno cortadas, a não ser por via de mensagens cínicas e algumas a tocar as raias do sinistro".
No mesmo texto, onde relata a satisfação de ter ali encontrado amigos e conhecidos de longa data - apareceu nas fotografias sentado ao lado do escritor Pepetela - , Moco conta isto:
"Mas esperem, leitores, que (...)no fim de tudo, quando terminar a tesourada sobre o trabalho de jornalistas dos meios públicos e meios privados de comunicação cujos donos são os mesmos que mandam (e muito mal!) nos meios públicos, que por essa arte mágica vão conseguir transformar o ontem crítico construtivo de um regime, que se pensa estar no fim, num vulgar bajulador do presidente cessante. A quem ainda ontem, sem lhe retirar os méritos devidos, nunca se coibiu de apontar a gravidade dos mais do que públicos e notórios factos e consequências, especialmente, dos últimos 15 anos".
E isto:
"Durante as entrevistas, adivinhei, levemente, o que poderia acontecer, mesmo depois de me jurarem por todos os santos, na terra e nos céus, que desta vez não aconteceria, nem pouco mais ou menos aquilo de que `os outros se têm, injustamente, queixado", quando me apercebi da raivosa vontade de me sacarem elogios, completamente fora do contexto em que nos encontrávamos, ao Presidente dos Santos".
E ainda isto:
"Porém, na dimensão em que a cirurgia foi feita, especialmente na TPA, era de parar o coração, se o não tivesse ainda suficientemente forte, graças a Deus. Caíra `como um patinho", num pântano que julgava já estar seco".
Explica que, no fim, teve um encontro " breve de saudação muito cordial, da iniciativa do candidato João Lourenço", que só não tem "encontrado, de algum tempo a esta parte, pelas responsabilidades enormes que tem assumido e por vivermos nesta floresta densa que se chama Luanda".
E questiona-se, para eliminar dúvidas: "Como não encontrar-me com um companheiro de longas jornadas de trabalho de partido, que nos tornaram amigos como irmãos? Se eu me encontro, com toda a naturalidade, com líderes e amigos de outros partidos? Deus me livre deste tipo de sectarismo, se sempre continuei com o meu coração aberto, mesmo ao Presidente dos Santos de que ainda espero o apoio a quem ganhar, seja de que partido for, para a consolidação da harmonia nacional, na sequência da obra positiva que se lhe atribui com toda a justeza, neste domínio!"
Este é o último parágrafo do texto publicado por Marcolino Moco na sua página do Facebook: "Assim como `nem só do pão vive o homem", como diz a Bíblia Sagrada, espero que cheguemos, rapidamente, ao dia em que possamos dizer: nem só de ganhar eleições depende a nossa felicidade que também depende da felicidade daquelas que as percam. O mesmo que dizer: não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti".