A menos de oito dias da aprovação final do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018, a 14 de Fevereiro, e depois de o Presidente da República, João Lourenço, ter anunciado, na abertura do ano escolar, "que o Executivo está orientado para ser flexível, no sentido de redistribuir as verbas, até onde for possível e recomendável, a favor de um aumento nos sectores da Educação e da Saúde", declarações que surgiram após as críticas dos partidos da oposição e da sociedade civil, sobre a insuficiência das verbas previstas no OGE 2018 para os sectores da Educação e da Saúde, o Novo Jornal Online mostra, em traços gerais, que o presente da educação no país é sombrio. E o futuro, se nada for feito, é escuro como breu.

Com dois milhões de crianças fora do ensino geral, desde logo porque há crianças que nunca foram registadas e, portanto, não contribuem para as estatísticas pois simplesmente "não existem", com cerca de 45% de professores não qualificados e que estão desesperadamente à espera da reforma que não chega por não haver concursos públicos para admissão de colegas mais novos que possam substituí-los, com falta de escolas, enquanto edifícios escolares se degradam e nunca tiveram uso desde que foram inaugurados, muitos anos atrás, com escassez de material em cada início de ano, o panorama faz-se da falta de tudo. Até de bom senso, como revela Hermínia Nascimento, secretária-geral do SINPROF (ver entrevista).

"O Estado deita fora dinheiro todos os anos por não haver planificação. Não adianta construir escolas e depois dizer que não há professores suficientes e não há verba para apetrechar a escola. Então, construímos porquê e para quê? Esse dinheiro saiu do Orçamento Geral do Estado", afirma a educadora e sindicalista.

"Há quantos anos se mandam bolseiros para o exterior? Os bolseiros regressam e ficam em casa", expõe.

Alexandra Simeão, presidente da Handeka, a quem damos voz numa outra entrevista, a ser publicada no sábado, diz que "é preciso amar para educar" (ver entrevista).

"O povo angolano tem sido pouco amado por aqueles a quem entregou a gestão dos seus destinos", reforça a antiga vice-ministra da Educação, que criou a merenda escolar nos idos de 2000, como forma de combater o absentismo escolar.

Jaka Jamba, professor, deputado da UNITA e membro da comissão parlamentar da educação, afirma que "não se pode formar um cidadão sem as luzes da escola. É inquestionável e incontornável".

"As preocupações dos líderes estão dependentes das campanhas que vão fazendo para ganhar as eleições e esses objectivos são circunstanciais. Mas sem ter seriamente em conta o papel que a educação joga para a formação do cidadão, nós não daremos passos seguros nem robustos para a nossa descolagem, porque a verdade é que nós nem sequer descolámos", declara o professor (ver entrevista).

Neste trabalho do Novo Jornal Online, para tentar esboçar um retrato o mais fiel possível do estado da Educação no país, contamos com os leitores. Queremos também saber o seu ponto de vista sobre este tema e conhecer a sua história ou a de alguém que lhe seja próximo. Para isso, basta que nos envie um mail para [email protected].