A Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (Anaso) acrescentava pelo menos mais 200 mil pessoas aos números avançados pelo Instituto Nacional de Luta contra a Sida, afirmando que a epidemia afectou já cerca de meio milhão de indivíduos, sendo que apenas 215 mil estão a ser acompanhadas e apenas 78 mil estão a beneficiar de terapia anti-retroviral, como escreveu, na altura, o Novo Jornal.

Sihaka Tsemo, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA, alertou também para a situação, lembrando o compromisso de Angola em acelerar as prioridades da Declaração Política sobre o VIH através da redução de novas infecções em adolescentes, redução do estigma e discriminação, mitigação do impacto entre populações-alvo e melhorar a comunicação e a coordenação de uma resposta multissectorial.

O Relatório Final do Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde- IIMS-2015-2016, prova que há ainda muito a fazer e por fazer. As conclusões mostram que 19% dos homens afirmaram ter tido duas ou mais parceiras sexuais nos últimos 12 meses, mas sete em cada dez desses homens não usaram preservativo durante a última relação sexual (71%).

O estudo demonstra ainda que "dois porcento das mulheres entre os 15 e os 49 anos afirmaram ter tido dois ou mais parceiros sexuais nos últimos 12 meses. Entre as mulheres que tiveram dois ou mais parceiros nos últimos 12 meses, três em cada quatro não usaram preservativo durante a última relação sexual, ou seja, mais de 70%. A média de parceiros sexuais em toda a vida das mulheres que alguma vez tiveram relações sexuais é de dois".

"A média de parceiras sexuais em toda a vida dos homens que alguma vez tiveram uma relação sexual é de sete, três vezes mais do que a média de parceiros das mulheres", revela ainda o estudo.

"A proporção dos homens que tiveram duas ou mais parceiras sexuais nos últimos 12 meses é maior entre os homens casados ou em união de facto (23%) em comparação com os homens nunca casados (15%) e divorciados, separados ou viúvos (13%). Em relação às províncias, a proporção é mais alta na província de Zaire (40%) e menor na província de Huambo (4%), com uma diferença de 35 pontos percentuais", pode ainda ler-se.

A percentagem dos homens que tiveram duas ou mais parceiras sexuais nos últimos 12 meses e que usaram preservativo durante a última relação sexual aumenta consoante o nível socioeconómico (9% para os homens no quintil mais baixo e 42% para os homens com quintil mais elevado), pode concluir-se.

Apenas 30% das mulheres e 20% dos homens fizeram o teste de VIH nos últimos 12 meses e foram buscar os resultados

Continuando a analisar o estudo, o Novo Jornal percebeu que 67% das mulheres e 70% dos homens entre os 15 e os 49 anos conhecem os locais onde podem fazer o teste. No entanto, "apenas 47% das mulheres e 32% dos homens alguma vez fizeram um teste de VIH e receberam os resultados".

No que diz respeito à percentagem de homens e mulheres que fizeram o teste e receberam os resultados nos últimos 12 meses, a situação torna-se mais preocupante: "apenas 30% das mulheres e 20% dos homens o fizeram e receberam os resultados".

"Entre os inquiridos nunca antes casados mas que já tiveram relações sexuais, 73% das mulheres e 70% dos homens conhecem os locais onde podem fazer o teste. No entanto, apenas 30% das mulheres e 16% dos homens não casados e que já tiverem relações sexuais fizeram o teste e receberam os resultados nos últimos 12 meses", continua o relatório.

"Cerca de 82% das mulheres e 79% dos homens que vivem nas áreas urbanas conhecem os locais onde fazer o teste, em comparação com 32% das mulheres e 45% dos homens nas áreas rurais. Em relação ao acesso aos resultados do teste de VIH, nas zonas urbanas, 50% das mulheres e 38% dos homens alguma vez fizeram o teste e receberam os resultados, enquanto nas zonas rurais, 20% das mulheres e 16% dos homens fizeram o teste de VIH e receberam os resultados", informa o relatório do INE, que demonstra que a "proporção de homens e mulheres entre os 15 e os 49 anos que conhecem os locais de testagem aumenta com o nível de escolaridade, sendo de 34% entre as mulheres sem instrução e 90% entre as mulheres com nível de escolaridade secundário ou superior".

No que diz respeito aos homens, "a percentagem é de 30% entre os homens sem instrução e 84% entre os homens com nível de escolaridade secundário ou superior. A mesma tendência é verificada em relação ao quintil socioeconómico, tanto para as mulheres como para os homens", conclui o relatório.

Este inquérito foi realizado e coordenado pelo Instituto Nacional de Estatística, em colaboração com o Ministério da Saúde (MINSA), e contou com a assistência técnica da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da ICF Internacional, através do Programa de Inquéritos Demográficos e de Saúde (Programa "Demographic and Health Survey"-DHS).

O inquérito foi financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) através dos fundos da Iniciativa do Presidente dos Estados Unidos para Controlo da Malária (PMI) e do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da SIDA (PEPFAR); Banco Mundial, através do Programa de Municipalização da Saúde; Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e Governo de Angola.